Por Luciano Costa
SÃO PAULO (Reuters) - O segundo linhão para escoar a geração da hidrelétrica de Belo Monte, que irá a leilão na sexta-feira, deve atrair pouca concorrência, dada a limitada capacidade de investimento das empresas brasileiras de transmissão no momento.
Além disso, especialistas estão preocupados devido a perspectivas de que a estrutura não fique pronta antes da operação plena da usina, situada no Rio Xingu.
O vencedor do certame terá que erguer 2,5 mil quilômetros em linhas de ultra-alta tensão entre Pará e Rio de Janeiro, o que a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) estima que demandará cerca de 7 bilhões de reais em investimentos, dos quais apenas 50 por cento devem ser financiados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
"É difícil ter vários consórcios interessados, até pelo próprio porte do investimento, que é muito elevado", disse o pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Roberto Brandão.
Apenas a garantia de fiel cumprimento, a ser depositada pelo vencedor antes da assinatura do contrato de concessão, prevista para outubro, é de 700 milhões de reais.
"É muito dinheiro, e como os recursos bancários para o setor andam escassos, provavelmente esse leilão exigirá um aporte de capital próprio bastante grande", disse o especialista Ambrosio Melek, da consultoria Siseletro.
A Aneel estabeleceu um prazo de 50 meses para a conclusão do linhão, o que representaria início de operação por volta de dezembro de 2019.
O cronograma já acende um alerta para o setor, uma vez que Belo Monte deverá estar em produção total em janeiro de 2019, segundo a Norte Energia, responsável pela usina.
"Esse é um problema de planejamento que não vem de agora... antecipar o início das obras em um ano, por exemplo, seria uma coisa mais razoável e evitaria problemas que temos visto nos três projetos estruturantes em andamento, Jirau, Santo Antônio e Belo Monte", disse o presidente da Associação Brasileira de Investidores em Autoprodução de Energia (Abiape), Mário Menel.
O diretor-executivo da consultoria Andrade&Canellas, Silvio Areco, estimou que, pelo cronograma de produção estabelecido para a hidrelétrica de Belo Monte, o segundo linhão já seria necessário "de 2018 em diante".
Investidores em geração apontaram à Aneel a preocupação de que um eventual atraso do empreendimento gere limitações no sistema de transmissão que encareceriam a energia no Norte, na comparação com o resto do país, o que aumenta os riscos para empresas com usinas na região que vendem a produção a clientes de outros submercados.
Questionada sobre o eventual descasamento do cronograma entre a hidrelétrica e o linhão, a Aneel não respondeu imediatamente.
CONCORRÊNCIA LIMITADA
Um cenário em que a participação de empresas privadas em leilões de grandes projetos de transmissão é dúvida coloca a estatal chinesa State Grid como franca favorita, segundo especialistas ouvidos pela Reuters.
"Existe uma perspectiva de que eles (State Grid) entrem, ganhem e tentem obter sinergias", disse Silvio Areco, da Andrade&Canellas. Ele destacou que os chineses já venceram, em parceria com as subsidiárias da Eletrobras (SA:ELET3) Furnas e Eletronorte, a licitação do primeiro linhão de Belo Monte, em 2013.
Procurada, a State Grid disse em nota que "está sempre analisando as oportunidades de investimento no Brasil, bem como seus parceiros de negócios".
A Eletrobras é vista como possível interessada em repetir a sociedade com os chineses, que têm como tradição entrar nas licitações junto a empresas locais, mas a capacidade da estatal federal para uma empreitada desse porte no atual momento gera dúvidas.
A Eletrobras disse à Reuters, por meio da assessoria de imprensa, que não fará comentários sobre a participação no certame por ser "informação comercial estratégica".
Outras possíveis interessadas são a espanhola Abengoa, que perdeu a disputa pelo primeiro linhão, e a paranaense Copel , que conquistou outros empreendimentos de transmissão com a State Grid. Procuradas, Abengoa e Copel não se manifestaram.
A Taesa, controlada pela Cemig (SA:CMIG4), afirmou à Reuters na semana passada que não apresentará ofertas, pois prefere focar uma expansão por meio de aquisições.
A Cteep, da colombiana ISA, disse por meio de nota que também ficará de fora do certame. A empresa tem mostrado pouco apetite por novos projetos enquanto pleiteia uma indenização de 5,1 bilhões de reais junto ao governo pela renovação de seus contratos de concessão, no final de 2012.