Aneel vê custo de até R$2,4 bi a consumidores após decisão do Ibama de reduzir vazão de Belo Monte

Publicado 18.02.2025, 09:43
Atualizado 18.02.2025, 16:50
Aneel vê custo de até R$2,4 bi a consumidores após decisão do Ibama de reduzir vazão de Belo Monte

Por Leticia Fucuchima

SÃO PAULO (Reuters) -A decisão do Ibama que determinou vazão reduzida para a usina hidrelétrica de Belo Monte poderá acarretar custos aos consumidores de energia elétrica entre R$1,2 bilhão a R$2,4 bilhões, segundo cálculos apresentados nesta terça-feira pelo diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Sandoval Feitosa.

O empreendimento instalado no rio Xingu começou a operar com vazão reduzida no fim de janeiro, quando ocorreu uma queda em linhas de transmissão que escoam a energia produzida pela usina. Com essa interrupção, o Ibama disse que houve aumento da vazão em um dos trechos do rio, o que permitiu que os peixes conseguissem fazer a piracema (reprodução com desova) com sucesso.

O bipolo de transmissão já voltou à operação, mas o Ibama determinou que a hidrelétrica continuasse a operar com vazão reduzida até 15 de março, fim do período de defeso (reprodução dos peixes), visando evitar "efeito deletério" aos animais, segundo ofício encaminhado pelo órgão à Norte Energia, concessionária da usina.

"O Ibama solicita para que, nas próximas semanas, as manobras sejam feitas com cuidado, sem a retirada da água de forma abrupta, para que os peixes possam ser preservados. Na região, está chovendo muito e, até o momento, não houve redução alguma na geração de energia", informou o Ibama por meio de assessoria de imprensa.

Segundo o diretor-geral da Aneel, Sandoval Feitosa, a determinação do órgão ambiental "preocupa", pois irá levar a uma perda de 2.400 megawatts (MW) médios para o atendimento da ponta de carga, isto é, nos momentos em que o sistema elétrico precisa de maior potência, como no fim da tarde.

Essa restrição da hidrelétrica deverá ser suprida com termelétricas, que também costumam ser acionadas na ponta de carga.

"Registro nosso máximo respeito ao Ibama, seus técnicos e dirigentes... No entanto, não posso deixar de registrar minha preocupação quanto aos impactos dessa decisão, e muito respeitosamente, à forma como ela foi tomada, a partir de ofício encaminhado à concessionária", afirmou Feitosa, durante reunião da Aneel nesta terça-feira.

Procurada, a Norte Energia disse que não iria comentar o assunto. Já o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) não respondeu imediatamente a pedido de comentário.

Com mais de 11 gigawatts (GW) de potência, a usina de Belo Monte é uma das maiores hidrelétricas do mundo e opera a fio d’água (sem reservatório de acumulação), estando sujeita às vazões do rio.

O projeto de Belo Monte, aprovado em mandato anterior do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, gera até hoje críticas de ambientalistas por seus impactos no rio Xingu, prejudicando populações locais, pesca e outras atividades.

Ao comentar sobre a restrição nesta terça-feira, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, afirmou que Belo Monte foi uma "conquista" do governo Lula e se disse contra qualquer alteração permanente no hidrograma da usina.

"Belo Monte foi uma corajosa e grande conquista feita pelo governo do presidente Lula... Se o presidente Lula não tivesse enfrentado... a questão de Belo Monte, Jirau e Santo Antônio, não teríamos segurança energética no Brasil".

Silveira ponderou, no entanto, que a restrição temporária precisa ser analisada com cuidado, pois o custo "pode valer a pena ser pago" se for apenas pelo período da piracema, a fim de preservar os peixes na região.

Juliano Bueno, diretor-presidente do Instituto Internacional Arayara, afirma que Belo Monte ainda tem repercussões ambientais importantes para seu entorno, como aceleramento do assoreamento e erosão na bacia hidrográfica do Xingu.

"Há forte impacto para ribeirinhos e indígenas que são provocados pelo assoreamento do uso excessivo de recursos hídricos, deixando os rios intransitáveis, e gerando prejuízos que precisam agora gerar novas indenizações", defendeu.

(Por Letícia Fucuchima, com reportagem adicional de Fabio Teixeira; edição de Pedro Fonseca e Alberto Alerigi Jr.)

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