Por José Roberto Gomes
SÃO PAULO (Reuters) - A oferta de etanol hidratado entre setembro de 2018 e março de 2019, quando se encerra a entressafra de cana no centro-sul do Brasil, deverá ser 25 por cento maior na comparação com igual período do ciclo anterior, mas ainda assim insuficiente para atender à crescente demanda pelo biocombustível, disse à Reuters um representante do setor sucroenergético.
De acordo com o diretor técnico da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica), Antonio de Padua Rodrigues, com o consumo crescendo a um ritmo muito maior do que o suprimento, os preços devem se elevar, para um melhor equilíbrio de mercado, mas a um ponto em que o biocombustível seguirá competitivo frente a gasolina em várias regiões.
Ele ressaltou que, do início da safra no centro-sul, em abril, até agosto, a demanda cresceu 42 por cento na comparação anual.
"Não dá para manter 42 por cento de demanda com 25 por cento de oferta... Em algum momento vai ser exigido algum ajuste, não acredito que seja no curto prazo. Também não acredito que seja de forma abrupta ou que o etanol perca sua competitividade", disse Rodrigues.
Usinas da principal região produtora de cana do mundo impulsionaram a fabricação de álcool na atual temporada 2018/19, na esteira de preços elevados da gasolina, seu concorrente direto, e do enfraquecimento das referências internacionais do açúcar na Bolsa de Nova York.
Os dados mais recentes da Unica mostram que entre abril e a primeira quinzena de setembro foram fabricados quase 16 bilhões de litros de álcool hidratado no centro-sul, contra menos de 10 bilhões em igual intervalo de 2017/18. Já as vendas do produto usado diretamente nos tanques dos veículos saltaram para mais de 9 bilhões de litros, de 6,4 bilhões no ano anterior.
O suprimento estimado para setembro a março considera esse incremento de produção e os estoques nas usinas.
ENTRESSAFRA LONGA
Os receios quanto à oferta e aos preços do etanol nos próximos meses se justificam pela entressafra, que neste ano será mais longa, já que há menos cana para ser processada. Segundo Rodrigues, usinas devem encerrar os trabalhos já a partir da segunda metade de outubro, uma quinzena antes do habitual.
O diretor destacou que, levando-se em conta a média de preços praticados nos postos, o biocombustível teria algo como 60 centavos por litro para avançar sem perder a atratividade. Outros analistas concordam com essa avaliação.
"Na entrada da entressafra, considerando-se que o etanol ainda tem uma diferença grande em relação à gasolina, vejo que há espaço para (o preço do álcool) subir, mantendo-se a paridade abaixo de 70 por cento", destacou o analista João Paulo Botelho, da INTL FCStone, referindo-se ao clássico percentual usado para se avaliar a competitividade do biocombustível.
"Mas depende de como a Petrobras (SA:PETR4) vai trabalhar com o preço da gasolina nas próximas semanas. Ainda vemos espaço para o etanol se manter competitivo, pelo menos no começo da entressafra."
Na mesma linha, o diretor-executivo do Sindicato da Indústria Sucroalcooleira de Mato Grosso (Sindalcool-MT), Jorge dos Santos, avaliou que a paridade deve mesmo seguir abaixo de 70 por cento, ao menos no Estado do Centro-Oeste, graças à produção de etanol de milho durante a entressafra de cana.
"Aqui a oferta ao mercado continuará constante. Estamos estimando que vai sobrar acima de 200 milhões de litros (de álcool) durante a entressafra (de cana) para poder exportar a outros Estados, como São Paulo", comentou.
O sócio-diretor da Job Economia e Planejamento, Júlio Maria Borges, disse que um eventual salto nos preços do etanol estimularia a importação do produto, mesmo que superando a cota sem tarifa de 150 milhões de litros por trimestre, imposta no ano passado após fortes compras de álcool dos EUA.
"Depende de como o preço vai subir. Se o preço do etanol subir rapidamente, acaba atraindo importação de etanol. Se subir lentamente, isso indicará um ajuste entre oferta e demanda", resumiu ele.
Por ora, o contrato do etanol hidratado para março na B3 gira em torno de 1,82 real por litro, ante cerca de 1,70 real praticado atualmente nas usinas de São Paulo, conforme o Cepea, da Esalq/USP.
(Por José Roberto Gomes)