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Perspectiva de alta da demanda justifica expectativa do petróleo a US$ 100 por barril?

Publicado 16.01.2022, 09:24
© Reuters.
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Por Barani Krishnan

Investing.com -- Como sabemos quando a exuberância irracional escalonou de maneira imprópria os valores dos ativos, que se tornam, então, sujeitos a contrações inesperadas e prolongadas?

É uma questão que o lendário presidente do Federal Reserve Alan Greenspan trouxe à baia num discurso marcante em 1996, exatamente quando a bolha do dotcom começava a estourar.

Ela continua sem resposta, refletiu James Dorn, do Cato Institute, num blog recente, à medida que o Fed corre para encerrar o programa de compra de títulos e ativos hipotecários acionado pela Covid, iniciado há dois anos, e começa um regime de altas das taxas de juros que pode durar até 2024.

"O que salta do discurso de Greenspan foi como ele enquadrou um problema que o Fed nunca resolveu, e depois piorou as coisas", observou Dorn. Ele citou o "Greenspan put", que se tornou desde então a prática do Fed, à medida que o banco central procurou gerenciar uma crise econômica após a outra com ajustes nos juros que nunca esvaziaram o mercado de ações em si.

Na sua meta de proteger as ações - ou pelo menos não ser culpado pelo seu colapso - o Fed também nunca conseguiu alcançar completamente a inflação que desejava. Durante uma década antes da pandemia, ficou abaixo da sua meta anual de 2%. Agora, está acima dela, com o Índice de preços ao consumidor crescendo 7% no ano até dezembro - seu aumento mais rápido em 40 anos.

Esse mix de inflação inclui os maiores preços do petróleo em 7 anos, que avançaram 6% na semana que acaba de terminar, após ganhos de aproximadamente 11% nas três semanas precedentes. Somente em 2022, o petróleo WTI, cotado em Nova York e referência de preços nos EUA, apresenta aumento de 12%, enquanto o Brent, cotado em Londres e referência mundial de preços, registra avanço de 11%.

O rali do petróleo é, naturalmente, resultado de anos de subinvestimento em novas explorações e produção, com os impactos vindo à tona agora à medida que a demanda se normaliza após dois anos de pandemia. Além da escassez de petróleo novo, há também a limitação deliberada da produção regular por parte da Opep+, aliança dos maiores produtores mundiais, que continua represando uma estimativa de quatro milhões de barris por dia do mercado com os cortes de cerca de 10 milhões de barris por dia, realizados durante o pico da destruição da demanda provocada pela Covid. A produção dos EUA, outrora a maior do mundo com uma máxima pré-pandemia de 13,1 milhões de barris por dia, está agora abaixo dos 12 milhões, graças às políticas hostis à perfuração do governo Biden, que prefere energia renovável e verde aos combustíveis fósseis.

Por último, mas não menos importante, os preços do petróleo estão agora 60% mais altos que há um ano, em função dos dólares de investimento que jorram para o petróleo em nome da proteção contra a inflação.

E é aí que parte da exuberância irracional dos investidores se assenta. Com os bancos de Wall Street torcendo à rouquidão por preços do petróleo entre US$ 90 e US$ 100, os longs do petróleo se lançaram de cabeça na corrida para inflacionar os preços do petróleo tanto quanto possível, em nome da busca por uma proteção da inflação em si.

LEIA MAIS: Prepare-se para o Petróleo a US$100 em 2022 (e Como Aproveitar a Alta da Energia)

Não importa o quão robustos são os fundamentos do rali do petróleo, os ganhos acumulados ao longo das últimas semanas parecem uma bolha. Se você é um long do petróleo e espuma pela boca ao ler isso - um sinal de irracionalidade, sem dúvida - continue lendo porque este comentário também vem de pessoas que são geralmente bullish na commodity.

"O rali do petróleo ontem e hoje acontecem sem base em notícias, e isso é evidência de um aperto no posicionamento", Adam Button, da ForexLive, escreveu em um post de janeiro de 12 de janeiro depois que os preços do WTI saltaram 5,5% num período de 48 horas. Qualquer leitor regular de Button sabe que ele é um fervoroso touro do petróleo. Nesse post, Button argumenta que os shorts macro no petróleo podem estar jogando a toalha enquanto os longs saltam sobre a negociação, em meio a dados sugerindo que a variante ômicron da Covid pode ter um impacto apenas efêmero sobre o petróleo, apesar do aumento dos temores em torno da variante.

Mas Button estava preocupado com outra coisa em seu post - a demanda por combustível. Sua preocupação surgiu depois que a Energy Information Administration dos EUA relatou no início daquele dia que os estoques de gasolina saltaram 7,96 milhões de barris na última semana, devastando as previsões de um crescimento de 2,41 milhões. O último acúmulo somou-se à ascensão de 10,13 milhões de barris na semana anterior, que já era o maior aumento semanal dos estoques de gasolina desde o auge da crise do coronavírus em abril de 2020. Os dados do EIA também mostraram que os estoques de gasolina, no seu conjunto, apresentavam alta líquida de quase 30 milhões de barris nas últimas seis semanas.

Os inventários de destilados, que são refinados para diesel para caminhões, ônibus, trens e navios, além de combustível para jatos, também cresceram mais do que o esperado na segunda semana consecutiva, subindo 2,54 milhões de barris em comparação com uma previsão de 1,76 milhão. Na semana anterior, os estoques de destilados aumentaram 4,42 milhões de barris.

Para ser justo, os estoques de petróleo bruto caíram, recuando 4,6 milhões de barris durante a última semana, além do recuo da semana anterior de 2,1 milhões. Mas no total, as reservas brutas caíram cerca de 23 milhões de barris ao longo das últimas seis semanas, minimizando o acúmulo combinada de gasolina e destilados.

A queda na demanda por gasolina veio com o início do inverno do hemisfério norte, que reduziu os deslocamento rodoviárias e a necessidade de encher os tanques dos carros nos mesmos níveis que durante as festas de fim de ano. Um aumento nos casos da ômicron - seja se as pessoas estão morrendo ou não em função dela - também está adiando os planos dos empregadores de trazer os funcionários de volta aos escritórios, reduzindo, assim, o deslocamento diário e outras viagens que demandam combustível.

"Em última análise, este otimismo deverá se refletir na demanda", escreveu Button, referindo-se ao otimismo entre os longs do petróleo que estão forçando o petróleo para entre os US$ 90 e os US$ 100.

Button acrescenta:

"O que me preocupa é uma queda sustentada na demanda chinesa devido à ômicron. Grande parte do mundo aprendeu seguir adiante com o vírus, mas mais de 20 milhões de pessoas na China estão atualmente num lockdown restritivo. Minha expectativa é que esse número cresça nas próximas semanas e que seja algo que possa prejudicar seriamente a demanda física".

"Do meu ponto de vista, isso é razão suficiente para vender petróleo e voltar aos patamares próximos dos US$ 85 no WTI".

Insatisfeito com isso, dois dias depois, Button publicou outro post.

"O próximo passo do petróleo será difícil", disse ele na sequência. "Um relatório de hoje destacou que a China tinha concordado em liberar reservas estratégicas de petróleo (REP) em diferentes níveis em torno de 1º de fevereiro, dependendo se o petróleo estiver a US$ 75 ou US$ 85. Com o Brent a US$ 86 e também a meros centavos de distância da máxima de outubro, as probabilidades de mais atividade aumentam".

"Ao mesmo tempo, as liberações de REP são pequenas quantidades de petróleo no geral", disse Button, referindo-se às Reservas Estratégicas de Petróleo da China e dos Estados Unidos que começarão a atingir o mercado nas próximas semanas. "O que estamos vendo na destruição da demanda por combustível de aviação e na redução dos deslocamentos rodoviários deveria mais do que compensar isso- mas não está. Tivemos acúmulos recordes seguidos nos estoques de gasolina dos EUA, e o mercado passou por cima disso. A compra está implacável".

Phil Flynn, outro autoproclamado touro do petróleo e analista de energia do Price Futures Group, em Chicago, também citou num relatório de janeiro que a China irá liberar em breve uma quantidade não especificada de petróleo no mercado, dependendo dos níveis dos preços.

"A China concordou em liberar uma quantidade relativamente maior se o petróleo estiver acima de US$ 85 por barril, e um volume menor se o petróleo permanecer perto do nível de US$ 75", disse Flynn, citando uma publicação da Reuters. Ele destacou que a liberação de estoques de petróleo pela China ocorrerá em torno do Ano Novo Lunar, segundo a publicação. A China estará fechada durante essa celebração, que marca seu maior feriado anual, de 31 de janeiro a 6 de fevereiro.

Flynn também considerou oportuno mencionar que as importações anuais de petróleo bruto da China recuaram 5,4% em 2021, caindo pela primeira vez desde 2001, à medida que Pequim impôs restrições em seu setor de refino a fim de limitar o excesso de produção doméstica de combustíveis, enquanto os refinadores se valeram de volumes maciços dos inventários. A China tem sido o catalisador global da demanda por petróleo na última década, representando 44% do crescimento mundial das importações de petróleo desde 2015, quando Pequim começou a impor cotas de importação para refinadores independentes.

Nem Button nem Flynn devem se tornar ursos do petróleo por causa do equilíbrio que tentaram alcançar em seus comentários. Eles os fizeram em reconhecimento de alguns dos desafios do mercado no curto prazo enfrentados pelos longs do petróleo, especialmente a determinação crescente da China e dos EUA de lutar contra a inflação do petróleo. Isso se chama pensamento racional - algo necessário no petróleo nesse momento.

Preço do petróleo e perspectivas técnicas

O petróleo WTI, referência de petróleo bruto dos EUA, fechou o pregão de sexta-feira a US$ 83,82 por barril, uma alta de 2,1% no dia e 6,2% na semana.

O Brent, negociado em Londres e referência global para o petróleo, fechou a US$ 86,06, alta de 1,9% no dia e 5,3% na semana.

Sunil Kumar Dixit, estrategista técnico do skcharting.com e colaborador regular de análise técnica de commodities do Investing.com, disse que a onda bullish predominante no petróleo pode muito bem levar o WTI para US$ 86,50 e, subsequentemente, a US$ 90,30 se os preços se mantiverem firmes acima do nível de US$ 84.

"A leitura estocástica semanal de 92/78 permanece forte em favor de um movimento de maior alta no petróleo norte-americano", disse Dixit.

Mas ele também advertiu que a dinâmica bullish será suspensa se os preços quebrarem sua tendência ascendente e fecharem abaixo de US$ 82,74 - um fenômeno provável se a narrativa do petróleo mudar do surgimento de dados mais pessimistas dos estoques dos EUA ou do impacto das liberações de REP.

"Um fechamento diário abaixo dos US$ 82,74 irá expor o WTI a US$ 79,50, enquanto um fechamento semanal abaixo deste nível provavelmente irá desencadear uma correção para reequilibrar o aumento parabólico dos preços, para as zonas de US$ 77,50 e US$ 75", acrescentou.

Resumo das atividades do mercado do ouro

O ouro teve mais uma semana de equilibrista, encerrando o pregão de sexta-feira em queda, mas em alta na semana.

Ainda mais importante, o metal recuperou o nível de US$ 1.800 antes do fim da semana - um fenômeno interrompido uma única vez em cada fechamento semanal de ouro desde o início de dezembro.

O fechamento misto no ouro veio durante uma semana em que o metal ficou no meio dos dois principais conjuntos de dados dos EUA - o índice de preço ao consumidor e as vendas de varejo.

O ouro subiu 0,5% após a divulgação do IPC na quarta-feira, que mostrou que a inflação dos EUA saltou 7% no ano até dezembro, sua maior taxa desde 1982.

Mas na sexta-feira, o preço caiu 0,3%, depois de tanto o dólar como os rendimentos do título do Tesouro dos EUA de 10 anos terem avançado, à medida que as vendas do varejo caíram abruptamente com as preocupações dos consumidores sobre a inflação - reforçando a necessidade de aumentos urgentes das taxas.

"O ouro parece estar em uma boa posição, já que os rendimentos do Tesouro não irão realizar ralis muito mais altos até pelo menos mais algumas reuniões do Fed", quando o banco central anunciar a sua primeira alta das taxas de juros da era da pandemia, afirmou Ed Moya, analista da plataforma de negociação online OANDA.

O Fed recuou as taxas de juros para praticamente zero após o surto da pandemia de coronavírus em março de 2020, mantendo-as entre zero e 0,25% nos últimos 20 meses. Os dirigentes do banco central assinalaram que podem ocorrer de quatro a cinco aumentos dos juros no próximo ano, com o primeiro aumento ocorrendo provavelmente no início de março.

A economia dos EUA se retraiu 3,5% em 2020 devido a fechamentos e outras interrupções causadas pela crise da Covid-19. O Fed projetou um crescimento de 5,5% para 2021 e 4% para 2022. O problema do banco central, no entanto, é a inflação, que atingiu seu maior nível em quatro décadas, à medida que os preços de quase tudo dispararam em relação às mínimas da pandemia, devido a exigências salariais mais altas e os distúrbios na cadeia de fornecimento.

O ouro é considerado uma proteção contra a inflação e está reforçando esse título, mantendo-se no nível de US$ 1.800 desde o início de 2022. O metal falhou em sua missão de proteção várias vezes no ano passado, com ralis do dólar e dos rendimentos do Tesouro dos EUA com as expectativas de aumentos de juros nos EUA.

As notícias sobre aumentos de juros são quase sempre ruins para o ouro, o que se refletiu em parte no ano passado, ao fechar 2021 em queda de 3,6% no seu primeiro recuo anual em três anos e a perda desde 2015.

Mas os analistas acreditam que, se o tema da inflação dos EUA se mantiver forte ao longo de 2022, o ouro poderia até retraçar as máximas históricas de 2020 acima dos US$ 2.100 - um pico que, aliás, foi atingido em meio às preocupações sobre as pressões de preços, à medida que os Estados Unidos começaram a gastar trilhões de dólares em política de alívio da pandemia.

Preço do ouro e perspectivas técnicas

O contrato mais ativo do futuro do ouro na Comex de Nova York, para fevereiro, fechou a sexta-feira em queda de US$ 4,90, ou 0,3%, aos US$ 1.816,50.

Na semana, teve aumento de 1,1%.

Dixit, do skcharting.com, disse que a movimentação de preço do ouro ao longo da semana mostrou a determinação dos longs em rejeitar as pressões bearish após o teste do nível de US$ 1.782 ajudar o metal a se recuperar para pouco abaixo da resistência de US$ 1.830.

"Embora a recuperação da mínima de US$ 1.782 para US$ 1.829 e do fechamento semanal de US$ 1.817 indiquem uma determinação bullish, a incapacidade de superar a zona decisiva de oferta de US$ 1.830 a US$ 1.835 lança uma sombra de incerteza," afirmou Dixit. "Isto levanta a possibilidade de uma nova descendente, caso o índice do dólar se fortaleça para acima dos níveis de 95,25-95,55 e em direção a 95,85, alimentado pelo aumento dos rendimentos do Tesouro".

Ele disse que as perspectivas da próxima semana eram conflituosas, com previsão de mais volatilidade.

As grandes movimentações irão depender da reação dos investidores ao nível dos US$ 1.825, que é o nível de 38,2% de Fibonacci, disse Dixit.

"A consolidação acima dos US$ 1.825 irá indicar uma nova escalada para testar o nível de US$ 1.830-US$ 1.835 necessário para a próxima perna de alta, a US$ 1.860 (nível de 23,6% de Fibonacci)".

"Um recuo para abaixo dos US$ 1.825 irá desencadear uma correção à média exponencial móvel de 5 semanas, de US$ 1.820, e média exponencial móvel de 10 semanas, de US$ 1.806, que se estende até à média semanal da faixa de Bollinger, de US$ 1.795".

Isenção de responsabilidade: Barani Krishnan não possui posição nas commodities e valores mobiliários sobre as quais escreve.

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