Por Letícia Fucuchima
SÃO PAULO (Reuters) - O Brasil registrou recorde de migrações de consumidores ao mercado livre de energia no primeiro semestre, segundo dados antecipados à Reuters pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), em meio a um cenário de preços baixos e maior oferta de produtos que vem despertando o interesse de consumidores mesmo fora do eixo Sul-Sudeste.
Entre janeiro e junho, o ambiente de contratação livre de energia ganhou 3.330 novas unidades consumidoras, maior volume já registrado para o período, e que representa um avanço de 52% frente à primeira metade de 2022, apontou a CCEE.
Assim, ao final de junho o país tinha 34,4 mil indústrias e estabelecimentos comerciais aptos a comprar energia livremente, negociando preços e prazos diretamente com comercializadoras e geradores, e desvinculando-se do portfólio de contratos de energia das distribuidoras.
O fluxo de migrações tem sido impulsionado por consumidores de pequeno porte, sobretudo com demanda contratada abaixo de 0,5 megawatt (MW) --condomínios comerciais e redes de lojas, por exemplo, que conseguem migrar para o ambiente no modelo de comunhão de cargas.
Embora grande parte das adesões ainda esteja concentrada nas regiões Sudeste e Sul, onde a industrialização é mais intensa, a CCEE observou um avanço significativo em Estados como Pernambuco, Goiás e Ceará.
"Há mais espaço para que fábricas e empresas de fora dos grandes eixos produtivos e empresariais tenham participação representativa no volume de entrantes do segmento livre", apontou Talita Porto, vice-presidente do conselho de administração da CCEE.
"Vale notar também o esforço das comercializadoras para buscarem esses potenciais clientes fora dos Estados do Sudeste e do Sul, que tradicionalmente concentram grande participação nas migrações", acrescentou.
Segundo a executiva, o ritmo de adesões ao mercado livre está mais acelerado no Brasil como um todo, como reflexo de preços mais baixos da energia neste ano e esforços das comercializadoras de atrair novos clientes.
Com o preço spot da energia no piso desde o ano passado em função das condições hidrológicas favoráveis, executivos de comercializadoras relatam que têm conseguido garantir descontos de 20% a 35% em relação ao que os consumidores pagam hoje na conta de luz das distribuidoras.
Além da redução de custos, Porto destaca outros atrativos do chamado "ACL" aos consumidores, como diferentes prazos e condições para contratação do insumo, com acordos mais aderentes às suas necessidades, além do apelo ambiental da compra de energia renovável.
"Temos visto investimentos significativos do setor na divulgação das vantagens e ofertas do ambiente livre o que, desde já, amplia o conhecimento da sociedade sobre essa alternativa", disse a executiva.
A CCEE não faz projeções para o comportamento futuro das migrações, mas considera que a tendência deve continuar positiva, não havendo sinais de "desaceleração incomum" no segundo semestre -- principalmente em um momento em que todo o setor elétrico se prepara para a abertura de mercado para todos os consumidores ligados em alta tensão a partir de 2024.
De acordo com cálculo da CCEE, das 165 mil unidades consumidoras que estariam aptas a migrar ao "ACL" no próximo ano, 93 mil já se beneficiam da micro e minigeração distribuída, reduzindo a viabilidade econômica da mudança. Sobrariam, portanto, 72 mil unidades com potencial para aderir ao segmento livre a partir de janeiro.
Ainda não há um cronograma oficial para abertura de mercado para os mais de 80 milhões de consumidores ligados em média e baixa tensão, mas comercializadores acreditam que a pauta poderá ganhará força no Congresso até o fim do ano, com o apoio que vem sendo dado pelo governo e o afastamento de "jabutis" associados ao gás natural que vinham dificultando as discussões.
(Por Letícia Fucuchima)