SÃO PAULO (Reuters) - Um dia depois de a China ter revelado seus planos de impor um imposto de 25 por cento sobre as importações de soja dos Estados Unidos, agricultores do Brasil aproveitaram melhores preços no mercado brasileiro para fechar negócios, afirmou nesta quinta-feira a AgRural.
Os preços subiram entre 2 e 3 reais por saca nesta semana em algumas praças, com expectativa de que o anúncio de tarifas da China para produtos norte-americanos possa aumentar a demanda pela soja brasileira, disse o analista da consultoria Fernando Muraro.
A soja foi cotada no porto de Paranaguá a 83 reais a saca, nesta quinta-feira, acrescentou ele.
"Os produtores estão participando dos negócios", disse Muraro, ressaltando que o movimento de venda não está tão intenso quanto em alguns momentos neste ano, em que o mercado foi impactado pelas notícias de quebra de safra na Argentina.
Ele disse que as vendas estão mais fortes em Estados que tinham vendido antecipadamente uma menor parcela de sua safra.
Assim, os negócios mais relevantes foram vistos em Mato Grosso do Sul, Goiás e Paraná, disse ele.
CAUTELA
Segundo avaliação da associação nacional de produtores, a Aprosoja, os sojicultores não estão se apressando para vender seus grãos diante da volatilidade da taxa de câmbio e dos altos custos de frete, que são motivos para cautela.
Marcos da Rosa, presidente da Aprosoja, disse que muitas perguntas ainda têm que ser respondidas em relação ao conflito comercial entre os EUA e a China e o real impacto que as tarifas terão nas exportações de soja dos EUA.
Os planos tarifários anunciados pelos EUA e pela China não serão executados imediatamente.
"A China já comprou uma parte da safra norte-americana antecipadamente. Se as tarifas forem cobradas, elas não afetariam toda a oferta dos EUA", disse da Rosa.
Os prêmios da soja brasileira em relação ao mercado de Chicago estão perto de níveis recordes, sinalizando o interesse pela soja brasileira, de acordo com dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).
"As atividades de comércio de soja têm sido mais lentas do que eu pensava ontem e hoje", disse um operador em Mato Grosso, Estado responsável por mais de um quarto da produção de soja do Brasil.
Enilson Nogueira, um analista da consultoria Céleres, espera que as exportações brasileiras aumentem por forte demanda da China, que compra por volta de 60 por cento da soja comercializada globalmente.
O Brasil forneceu cerca de metade do total da soja que os chineses importaram no ano passado, enquanto os EUA forneceram aproximadamente um terço.
(Por Roberto Samora e Ana Mano)