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Queda do preço do milho deve embalar demanda no setor de carnes do Brasil, diz ABPA

Publicado 09.05.2023, 16:17
Atualizado 09.05.2023, 16:20
© Reuters. Colheita de milho em Maringá (PR)
14/04/2023
REUTERS/Rodolfo Buhrer
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Por Roberto Samora

SÃO PAULO (Reuters) - Uma queda dos preços do milho no Brasil para os menores níveis em quase três anos finalmente deverá dar respiro em 2023 para as indústrias de carnes de aves e suínos, que contam ainda com uma recuperação no consumo brasileiro no segundo semestre e exportações recordes do setor de frango neste ano, avaliou o presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA).

O milho --principal matéria-prima da ração que juntamente com a soja responde por cerca de 70% do custo de produção do frango-- acumula redução de aproximadamente um terço nos preços nas principais praças do Brasil, à medida que o país espera colher uma nova safra recorde neste ano.

Isso deve aliviar empresas de alimentos como a BRF (BVMF:BRFS3), que registrou prejuízos consecutivos em 2022, muito por conta da disparada nos custos das matérias-primas para ração.

Com este cenário, a indústria brasileira de carnes deve manter seus preços sob controle e está confortável para esperar a entrada da maior safra do cereal do Brasil a partir em junho, enquanto agricultores podem ser obrigados a vender, já que lidam com um déficit de capacidade de armazenagem de grãos agravado neste ano por uma histórica colheita de soja.

"A indústria está sem pressa de comprar milho. A produção e a exportação (de carnes) vão aumentar este ano, mas não tem ninguém desesperado... Hoje está melhor para o comprador de grãos, finalmente estamos recuperando um pouco do que se perdeu no passado", disse Ricardo Santin, presidente da ABPA, associação que reúne as maiores produtoras de carnes do país, como BRF, Seara, da JBS (BVMF:JBSS3), e Aurora.

Os preços do milho estão próximos de romper a barreira dos 60 reais a saca na praça de Campinas (SP), segundo indicador do Cepea/Esalq, registrando recuo de mais de 28% no acumulado de 2023, enquanto em 2022 as agroindústrias viram picos de mais de 100 reais/saca em março, após o início da guerra na Ucrânia.

Santin lembrou que nos piores momentos da oferta, a indústria de carnes chegou a pagar prêmios sobre o milho contratado para exportação para reter o grão no mercado brasileiro --além de ser o maior exportador de carne de frango, o Brasil também é um dos líderes na exportação global do cereal.

O presidente da ABPA disse que o setor agora vê preços do milho abaixo de 60 reais/saca no Centro-Oeste, principal produtor nacional, mas também não acredita em reduções mais acentuadas. "Sabemos que o milho não deve retroceder em patamares muito maiores, o que é bom para toda a cadeia, mantém o produtor com apetite também de plantar, e para nós conseguirmos ter um pouquinho de equilíbrio no custo."

De acordo com consultorias privadas, com a confirmação de uma safra recorde perto de 130 milhões de toneladas, o Brasil ainda poderá exportar volumes também históricos em 2023, superiores a 45 milhões de toneladas.

Também colaborou com a situação atual do mercado o fato de empresas de carnes terem feito mais estoques de milho. "Em função de especulações do passado, as empresas tiveram uma compra um pouco mais adiantada."

Esta "adequação do custo", destacou Santin, repõe o equilíbrio no setor, permitindo que exista uma estabilidade de preços de carne de aves e suínos no produtor, que ainda não conseguiu repassar para o varejo todo o aumento de despesas do passado, que incluiu maiores gastos com embalagens e energia.

"Quando tem redução no custo de produção, o setor consegue manter preços estáveis para atender o que a população precisa... a boa notícia da inflação é que não vai subir, pelo menos da nossa parte", disse Santin.

Ventos favoráveis

Se a indústria de carnes vê melhor conjuntura na parte dos custos, do lado da demanda também há expectativa de uma recuperação do consumo interno no segundo semestre, enquanto as exportações de carne de frango têm projeções de recordes. I

"O vento começa a soprar para o nosso lado, não dá pra dizer que é uma tempestade perfeita favorável, mas o vento começa a soprar também para o produtor que foi resiliente, pois teve gente que perdia 1 real por quilo", disse Santin, citando períodos de maior custo.

"A situação é bem mais positiva em 2023, mais do que isso, vemos no caso de aves, suínos e ovos, dois vieses positivos, uma recuperação do mercado interno, que a gente entende que vá acontecer no segundo semestre... e mais exportações", disse ele.

Santin citou que as exportações brasileiras, no caso das aves, estão sendo impulsionadas por casos de gripe aviária que limitam a produção e exportação de países produtores --enquanto o Brasil não tem registro da doença--, além de uma demanda forte de países como a China.

© Reuters. Colheita de milho em Maringá (PR)
14/04/2023
REUTERS/Rodolfo Buhrer

Santin citou dados do Departamento de Agricultura norte-americano (USDA), que apontam que a exportação brasileira de carne de frango vai crescer 8% em 2023, enquanto o segundo exportador global, os EUA, avançarão apenas 0,9%, e o terceiro maior exportador (União Europeia) terá recuo de 2,6%.

Na carne suína, um recente surto de peste suína africana na China deverá voltar ser uma oportunidade para o Brasil. Ele disse que a doença tem gerado um abate de matrizes antecipado, que pode resultar em uma queda na produção chinesa de até 10%.

"Isso é mais do que toda a nossa produção", resumiu.

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