SÃO PAULO (Reuters) - O setor de café do Brasil já notou um aumento de até 100 por cento nos fretes após o governo estabelecer uma tabela de referências para esses preços, algo que tende a distorcer o mercado e gerar prejuízos, embora por ora a comercialização se mantenha, disseram representantes nesta quarta-feira à Reuters.
O tabelamento foi anunciado pelo governo como uma das medidas para estancar os protestos de caminhoneiros, que assolaram diversos setores da economia. Para os exportadores de café, as manifestações representaram 900 mil sacas que deixaram de ser embarcadas em maio.
"Praticamente é impossível fazer tabelamento de fretes em um país continental como o Brasil. Isso gera um efeito cascata para custos com frete, não condiz com a realidade... Todas as intervenções que ocorreram no passado geraram distorções e grandes prejuízos", afirmou o presidente do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), Nelson Carvalhaes.
Ele disse que a entidade não tem, por ora, um cálculo fechado sobre o impacto dos fretes mais caros, mas ponderou que alguns associados já relataram preços "50 por cento, 100 por cento" maiores.
Conforme Carvalhaes, dependendo da região produtora, o frete para levar café até os terminais exportadores, como o Porto de Santos, chega a 2 por cento do valor da saca. Atualmente, a saca do arábica está perto de 460 reais, enquanto a do robusta, em 338 reais, segundo acompanhamento do Cepea, da Esalq/USP.
A imposição de uma tabela de fretes ocorre em um momento delicado para o setor de café do Brasil, o maior produtor e exportador mundial, já que foi dada a largada à colheita de uma safra recorde, estimada em mais de 58 milhões de sacas pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
A maior oferta neste ciclo, dada a bienalidade positiva do arábica, é vista como uma tábua de salvação para que as exportações do Brasil voltem a reagir, elevando a participação do país no mercado internacional.
Segundo Carvalhaes, por ora os compromissos assumidos estão mantidos.
O mesmo disse a Cooxupé, a maior cooperativa de café do mundo, com sede em Guaxupé (MG).
"Quanto às exportações, os contratos já haviam sido fechados com as transportadoras e, então, os valores dos fretes seguem o contratado até o momento."
A cooperativa destacou que não possui caminhões próprios para o transporte de café.
Nesta quarta-feira, representantes do setor de grãos alertaram que a tabela de frete limita o escoamento de grãos e deve afetar o desempenho das exportações em junho.
Já o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, revelou que a Agência Nacional dos Transportes Terrestres (ANTT) se comprometeu a reavaliar o assunto.
(Por José Roberto Gomes e Roberto Samora)