Por Luciano Costa
SÃO PAULO (Reuters) - As expectativas do mercado para o próximo leilão de linhas de transmissão de energia melhoraram após uma elevação do retorno dos empreendimentos e a promessa do governo federal de uma solução ainda neste mês para indenizações bilionárias devidas a empresas do setor desde o final de 2012.
Ainda assim, restam dúvidas sobre a capacidade das transmissoras em absorver o grande volume de projetos que será ofertado neste ano, em meio a um cenário de crédito escasso e menor participação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) nos financiamentos, disseram especialistas ouvidos pela Reuters.
"As condições estão melhorando...mas resolver, não resolve...estamos em um cenário econômico muito complicado, continua difícil", disse a diretora da consultoria Thymos Energia, Thaís Prandini.
O pesquisador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico da UFRJ (Gesel), Roberto Brandão, tem opinião semelhante.
"Quem está no mercado não tem porte para arrematar tudo o que será leiloado...melhorou, está bem melhor que estava antes, mas não é exatamente um momento bom para atrair novos investidores, e a conta só fecha com isso", disse.
Para a especialista em energia da consultoria Deloitte, Iara Pasian, as melhores condições geram interesse, mas o cenário de incertezas políticas e econômicas do país pode travar uma eventual entrada de novos investidores.
"Deve ter interesse... pelo menos são os comentários que tenho ouvido... deve ter uma parcela de novos entrantes, só não (vai haver) se a gente estiver no meio de uma crise política e isso gerar uma insegurança para o investidor internacional", disse.
Ela aposta nos asiáticos como potenciais interessados -- chineses, japoneses, coreanos e até mesmo indianos.
A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) elevou em 11 por cento na média as receitas teto para o próximo leilão, agendado para 13 de abril, em atendimento a exigências do Tribunal de Contas da União (TCU).
O órgão pediu a elevação para evitar mais um leilão esvaziado, após a maior parte dos empreendimentos ofertados em 2015 não ter recebido proposta de nenhum investidor.
Com a melhora na receita, algumas empresas nacionais já se mostraram mais animadas a entrar na disputa, como a Taesa, controlada por Cemig (SA:CMIG4) e pelo fundo Coliseu, e a Alupar (SA:ALUP11). Mas nenhuma delas cravou participação.
"O aprimoramento das condições nos motiva...se ao final a conta indicar que o é um investimento seguro e que vai trazer retorno, naturalmente vamos participar", afirmou à Reuters o presidente da Taesa, José Aloíse Ragone.
O diretor financeiro da Alupar, José Luiz Godoy, teve discurso semelhante em teleconferência nesta sexta-feira.
"A iniciativa tem sido positiva, o retorno tem aumentado...mas não consigo dizer se é suficiente, com todos riscos que existem. Com certeza vamos olhar e sendo atrativo vamos participar dentro da capacidade que temos de levantar capital".
O certame de abril ofertará 24 lotes de linhas, que demandarão investimentos de cerca de 12 bilhões de reais. Um outro certame das mesmas proporções deve acontecer em 1° de julho. Segundo a Aneel, este será o ano de maior oferta de projetos de transmissão de energia.
"A gente espera que vá ter mais sucesso (que nos últimos leilões), mas que ainda vai ter lote vazio, vai", disse Thaís, da Thymos.
INDENIZAÇÕES AJUDAM, MAS NÃO RESOLVEM
Para tentar ampliar o número de participantes, o governo federal também prometeu solução ainda neste mês para mais de 20 bilhões de reais em indenizações devidas a transmissoras como Eletrobras (SA:ELET3), Cteep e Copel. O pagamento será parcelado a partir de 2019, mas a ideia é que as empresas possam contabilizar imediatamente o direito ao recebimento em seus balanços.
O presidente da Associação Brasileira das Empresas de Transmissão de Energia (Abrate), Mário Miranda, disse que as empresas deverão buscar antecipar as receitas junto a bancos, o que poderá acelerar o retorno delas aos leilões.
"Com isso, poderíamos voltar mais rapidamente (às disputas)", apontou Miranda.
Mas ainda não está claro se haverá tempo hábil para que as empresas se capitalizem a ponto de entrar em projetos.
Miranda destacou que as transmissoras têm forte necessidade de investimentos em suas linhas existentes, que são obrigatórios, o que poderá comprometer parte dos valores recebidos de indenização.
"A gente voltando a ter condição financeira, os reforços (nas linhas em operação) são prioridade, porque são uma obrigação...sobrando dinheiro, vai para leilão".