Tarifaço, safra menor no Brasil e demanda da Europa e Ásia impulsionam preço do café, diz Cecafé

Publicado 22.08.2025, 13:04
Atualizado 22.08.2025, 13:06
© Reuters. Lavouras de café em Minas Geraisn25/03/2022nREUTERS/Roosevelt Cassio

Por Roberto Samora

SÃO PAULO (Reuters) - O mercado global de café arábica, que havia arrefecido após um recorde histórico em fevereiro, voltou a engatar alta com ganhos de mais de 30% no acumulado de agosto na bolsa ICE, por fatores principalmente ligados ao tarifaço dos Estados Unidos, afirmou o presidente do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), em entrevista à Reuters.

Para Márcio Ferreira, a taxa de 50% aplicada contra o Brasil desde 6 de agosto, que inviabiliza as exportações do maior produtor e exportador aos EUA, "bagunçou" o mercado, tornando difícil de saber qual será o limite desse novo movimento de alta.

"Em reuniões que tive com o lado americano, fiz valer esta informação, de que o tarifaço criou ambiente de incerteza e fez com que o café aumentasse de preço no mundo inteiro, e pode não ter um limite... o mercado não consegue ler qual é limite de alta", afirmou Ferreira.

Os preços do café arábica na ICE, negociados em Nova York, estavam cotados a cerca de US$3,74/libra-peso nesta sexta-feira, versus patamar de US$2,80 registrados no final de julho. Em fevereiro, o contrato superou US$4,25.

Ferreira citou que a safra brasileira de arábica de 2025, cuja colheita está sendo finalizada, mostrou-se com um rendimento 10% menor do que o esperado, enquanto a geada de agosto no Cerrado Mineiro deverá reduzir a produção no ano que vem.

"Mas o principal peso (para a alta) chama-se tarifaço", disse o presidente do Cecafé.

"Porque tudo o que mercado não quer do ponto de vista de fundamento, mas quer em especulação, é a incerteza. Essa incerteza criada pelo governo Trump estimulou a alta do mercado em grande grau, porque os torradores americanos, eles pararam totalmente novas compras do Brasil, não deram instruções de novos embarques...", disse.

Ele acrescentou que, diante disso, os importadores nos EUA (maior consumidor global de café) estão buscando o grão em outras origens da América Central e da Colômbia, mas estão encontrando preços com prêmios mais altos em relação aos contratos futuros na ICE.

"E esta incerteza, insegurança, atrai fundos para comprar (na bolsa), e é natural que os fundos também vão entrar comprando, o mercado fica favorável do ponto de vista especulativo", destacou.

Ao mesmo tempo, ele disse que o mercado brasileiro de café está vendo, neste momento, "um aumento substancial" e "muito acima do esperado" de demanda por parte da Europa e Ásia.

Mas isso não se deve necessariamente a um maior consumo na Europa, por exemplo, notou Ferreira, já que países como a Alemanha podem estar ampliando importações de café verde para reexportar o produto industrializado para os EUA, que colocaram uma tarifa menor ao europeu.

"Tem que lembrar que a Europa tem um dos principais exportadores de café do mundo. Reexportadores. Chama-se Alemanha. Ela industrializa café, agrega valor e reexporta. Se o Brasil está tarifado em 50%, a Europa em 15%..."

De acordo com o presidente do Cecafé, "possivelmente pode ter um aumento de demanda da Europa vendo possibilidade de reexportar, não a matéria-prima, pois isso é proibido".

Ferreira citou que as principais indústrias de café têm fábricas em várias partes do mundo. Ele ressaltou que essa eventual reexportação não se configuraria em uma "triangulação" para acessar o mercado dos EUA.

RUIM PARA MERCADO

Segundo Ferreira, o setor exportador sofre com custos adicionais, de rolagens de contratos na bolsa e também de contratos de câmbio, diante de pedidos de importadores dos EUA de postergar os embarques na expectativa de que o governo norte-americano traga alívio às tarifas.

Enquanto isso não acontece, Ferreira avalia que a alta no preço do produto poderá sensibilizar o governo dos EUA a isentar ou diminuir a tarifa do café.

Os produtores do Brasil estão vendo os preços subindo, disse Ferreira, mas isso gera riscos de perda do maior mercado mundial no futuro, já que a alta nas cotações estimula plantio em outras partes do mundo, o que no longo prazo pode ser prejudicial ao país.

Ferreira ponderou que o cafeicultor brasileiro está capitalizado pelos recordes de preços do produto mais cedo neste ano, e tem adotado cautela na comercialização, em um ambiente de incerteza de preços.

 

(Por Roberto Samora)

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