Tarifas de Trump causam estragos no cinturão citrícola do Brasil

Publicado 24.07.2025, 10:13
Atualizado 24.07.2025, 14:11
© Reuters. Colheita de laranja em Minas Gerais

Por Ana Mano

SÃO PAULO (Reuters) - O plano do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor uma nova tarifa de 50% sobre os produtos brasileiros a partir de 1º de agosto pode devastar o cinturão citrícola do Brasil, uma vez que as fábricas reduzem os trabalhos e os produtores de laranja consideram deixar as frutas apodrecerem em meio a uma queda acentuada nos preços.

"Eu vejo que pode realmente já ficar fruto no pé por não ter mercado e você não vai gastar para tirar e não ter para quem vender", disse o produtor Fabrício Vidal em sua fazenda em Formoso (MG).

As novas tarifas podem impossibilitar a entrada de suas frutas nos Estados Unidos, que compram 42% do suco de laranja exportado pelo Brasil, um comércio avaliado em cerca de US$1,31 bilhão na safra encerrada em junho.

Neste mês, os preços da laranja no Brasil caíram para 44 reais a caixa, quase metade do que eram há um ano, de acordo com medições do Cepea, da Universidade de São Paulo (USP), ilustrando como as políticas comerciais disruptivas de Trump podem semear o caos antes mesmo de serem implementadas.

"Cada dia que vai chegando mais perto da entrada em vigor das tarifas aumenta a ansiedade em relação ao que pode acontecer", disse Ibiapaba Netto, diretor-presidente do CitrusBR, que representa exportadores de suco de laranja, em entrevista à Reuters.

IMPACTO PARA OS CONSUMIDORES

A produção de suco de laranja dos EUA caiu para o menor nível em meio século na safra 2024/25, com um volume estimado em 108,3 milhões de galões, de acordo com dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos citados pelo Cepea em relatório recente, que mostra que as importações representarão 90% do abastecimento dos EUA até setembro.

Os consumidores norte-americanos sofrerão o impacto, assim como os produtores brasileiros de laranja. Metade do suco de laranja que os norte-americanos bebem vem do Brasil, vendido por marcas como Tropicana, Minute Maid e Simply Orange.

O Brasil, que produz 80% do suco de laranja do mundo, também será difícil de substituir.

Os EUA se tornaram mais dependentes das importações de suco de laranja nos últimos anos devido à doença "greening" nas lavouras cítricas, furacões e adversidades climáticas.

Mas a nova tarifa sobre as importações brasileiras representa um aumento de 533% em relação ao imposto de US$415 por tonelada já atualmente cobrado quando o suco entra no país.

Na semana passada, a Johanna Foods, produtora e distribuidora de sucos de frutas de Nova Jersey, contestou na Justiça as tarifas propostas sobre o suco de laranja brasileiro, alegando que elas causariam "danos financeiros significativos e diretos" à empresa e aos consumidores dos EUA.

As tarifas também podem significar problemas para Coca-Cola e Pepsi, que respondem por cerca de 60% do suco de laranja vendido nos Estados Unidos, disse Netto. Nenhuma das empresas respondeu a pedidos de comentário.

SEM RESPOSTA FÁCIL

O Brasil não terá facilidade em substituir os consumidores norte-americanos, que estão entre os mais ávidos consumidores de suco de laranja do mundo.

Normalmente, apenas países de renda mais alta importam suco de laranja, limitando o potencial de alcance do Brasil em novos mercados. O suco de laranja brasileiro é vendido somente para cerca de 40 países, o que representa cerca de um terço dos destinos que compram carne brasileira, por exemplo, segundo dados comerciais.

Netto, da CitrusBR, observou que altas tarifas já aplicadas por mercados como Índia e Coreia do Sul, bem como a baixa renda familiar na China, prejudicaram o comércio com o Brasil.

A União Europeia, por sua vez, já compra cerca de 52% do total das exportações brasileiras, o que torna improvável que os países de lá ajudem a compensar o Brasil por negócios perdidos com os EUA.

As empresas ficarão com poucas opções.

Uma delas seria exportar suco de laranja brasileiro pela Costa Rica, o que algumas empresas já fazem para evitar as tarifas atuais, disse Arlindo de Salvo, consultor independente especializado em laranja. Mas não está claro se os exportadores conseguirão fazer isso quando a nova taxa começar a ser aplicada.

A CitrusBR disse que tal "triangulação" via Costa Rica é impossível segundo as regras da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Enquanto as empresas precisam encontrar novos caminhos para os consumidores do suco brasileiro, os agricultores de Formoso temem o pior. Os preços pagos a eles já caíram para cerca de um terço do que os produtores recebiam na mesma época do ano passado, disseram os produtores, fazendo com que o custo da colheita das laranjas quase não valha a pena.

O produtor Ederson Kogler disse que a única solução seria encontrar outros mercados. Mas, acrescentou, "só que são coisas que não acontecem do dia para a noite".

Últimos comentários

Instale nossos aplicativos
Divulgação de riscos: Negociar instrumentos financeiros e/ou criptomoedas envolve riscos elevados, inclusive o risco de perder parte ou todo o valor do investimento, e pode não ser algo indicado e apropriado a todos os investidores. Os preços das criptomoedas são extremamente voláteis e podem ser afetados por fatores externos, como eventos financeiros, regulatórios ou políticos. Negociar com margem aumenta os riscos financeiros.
Antes de decidir operar e negociar instrumentos financeiros ou criptomoedas, você deve se informar completamente sobre os riscos e custos associados a operações e negociações nos mercados financeiros, considerar cuidadosamente seus objetivos de investimento, nível de experiência e apetite de risco; além disso, recomenda-se procurar orientação e conselhos profissionais quando necessário.
A Fusion Media gostaria de lembrar que os dados contidos nesse site não são necessariamente precisos ou atualizados em tempo real. Os dados e preços disponíveis no site não são necessariamente fornecidos por qualquer mercado ou bolsa de valores, mas sim por market makers e, por isso, os preços podem não ser exatos e podem diferir dos preços reais em qualquer mercado, o que significa que são inapropriados para fins de uso em negociações e operações financeiras. A Fusion Media e quaisquer outros colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo não são responsáveis por quaisquer perdas e danos financeiros ou em negociações sofridas como resultado da utilização das informações contidas nesse site.
É proibido utilizar, armazenar, reproduzir, exibir, modificar, transmitir ou distribuir os dados contidos nesse site sem permissão explícita prévia por escrito da Fusion Media e/ou de colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo. Todos os direitos de propriedade intelectual são reservados aos colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo e/ou bolsas de valores que fornecem os dados contidos nesse site.
A Fusion Media pode ser compensada pelos anunciantes que aparecem no site com base na interação dos usuários do site com os anúncios publicitários ou entidades anunciantes.
A versão em inglês deste acordo é a versão principal, a qual prevalece sempre que houver alguma discrepância entre a versão em inglês e a versão em português.
© 2007-2025 - Fusion Media Limited. Todos os direitos reservados.