Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - O clima seco previsto nesta segunda quinzena de abril para a região central do Brasil, onde estão alguns dos principais Estados produtores de milho do país, pode limitar o potencial produtivo de uma safra estimada em recorde em 2021/22, enquanto ao Sul a condição agora é mais favorável, segundo especialistas.
Após uma quebra da primeira safra pela falta de chuva, o foco se voltou para a colheita de inverno, que pelas estimativas atuais da estatal Conab responderia por 88,5 milhões de toneladas, ou mais de 75% da produção total do Brasil.
Mas o tempo seco previsto para parte de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais e São Paulo, até pelo menos o início de maio, pode reduzir o potencial produtivo nessas regiões.
"Estamos olhando com bastante cautela e preocupação, a região sudeste de Mato Grosso, importante região produtora de milho, pode acabar sendo impactada, se isso (a previsão climática) acabar se confirmando", disse o superintendente do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), Cleiton Gauer, à Reuters.
Da segunda safra do país de 88,5 milhões de tonelada, o Mato Grosso deve responder por cerca de 40 milhões de toneladas, sendo também grande exportador.
"Até o momento, a safra vem desenvolvendo bem... com exceção de algumas regiões relatando redução de volumes de chuvas", acrescentou ele.
O Brasil conta com uma grande safra para voltar a ser o segundo exportador global de milho e também para atender a indústria de carne, que fica com a maior parte da oferta.
Caso as previsões se confirmem, acrescentou Gauer, o tempo mais seco pegaria uma "grande faixa" da região produtora, de Diamantino (MT) para baixo.
De outro lado, se o Estado conseguir atravessar as próximas duas semanas sem grandes problemas, "estaria com toda a safra salva praticamente".
"Está com uma fatia grande em aberto, tem 35% a 40% da safra em período de florescimento, ainda precisaria de água. Mas é bem difícil afirmar (fazer previsões), pois normalmente o solo do Mato Grosso retém bastante água", disse ele, lembrando que umidade acumulada poderia atenuar a falta de chuva.
Ele lembrou que a produção seria recorde principalmente pelo crescimento de área, que aumentou quase 8%, segundo o Imea, impulsionada por bons preços do cereal. Já a colheita deve começar entre o final da primeira quinzena de maio e início da segunda.
Segundo avaliação da Rural Clima, partes de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, além de Goiás, Minas Gerias e o interior de São Paulo não terão chuvas até o final do mês.
"Há previsões de não ter chuvas gerais na região central do Brasil até o final do mês", disse o agrometeorologista Marco Antônio dos Santos, nesta terça-feira.
Dados meteorológicos do terminal Eikon, da Refinitiv, confirmam o cenário (https://amers1.apps.cp.thomsonreuters.com/cms/?pageid=awd-br-forecast-analysis-maps-gfsop-degc&hour=6&date=20220419).
Segundo Santos, uma frente fria deverá trazer chuvas para a região Sul a partir de quinta-feira, mas as precipitações não avançarão para o norte.
Essa previsão, contudo, é benéfica para o Paraná, o segundo Estado produtor de milho, que tem uma safra estimada em um recorde de cerca de 16 milhões de toneladas, conforme apontou o Departamento de Economia Rural (Deral). [nL2N2VY1SW/
Nesta terça-feira, o órgão do governo manteve avaliação de que 97% da segunda safra de milho do Paraná está em boas condições.
"A segunda safra 21/22 realmente tem potencial, no momento, para ser recorde. O clima foi favorável em praticamente todo o ciclo já passado da cultura", afirmou o especialista do Deral Edmar Gervásio.
Segundo ele, uma maior parte da safra está entrando em frutificação, que normalmente demanda mais água. Mas, como o solo já está com bastante umidade, "mesmo chovendo abaixo da média nos próximos 30 dias, ainda devemos ter uma ótima safra", declarou.
O especialista ainda disse que se as chuvas forem "consistentes" no início de maio, o Paraná deve garantir uma "supersafra".