Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - Uma cota que garante importação sem tarifa de 600 milhões de litros/ano de etanol pelo Brasil deverá acabar ao final de agosto, de acordo com expectativa da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica), a principal associação de usinas no país.
Com o fim cota, implementada em setembro de 2017 pelo governo brasileiro para durar dois anos, o setor espera limitar importações de etanol, principalmente dos Estados Unidos, já que todos os negócios passariam a pagar uma Tarifa Externa do Mercosul (TEC) de 20%.
As importações, aliás, têm ficado acima do volume da cota desde que ela foi imposta, sendo realizadas mesmo com a tarifa, com os norte-americanos escoando seu excedente de produção e respondendo quase pela totalidade das compras brasileiras.
"A expectativa é de que acabe essa cota", disse o diretor-executivo da Unica, Eduardo Leão, ao ser questionado pela Reuters na terça-feira, no dia em que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, falou que buscará um acordo de livre comércio com o Brasil.
Segundo Leão, manter qualquer facilidade para importações de etanol dos EUA criaria um problema adicional à indústria de cana, que se preparou para o fim da cota.
As importações de etanol anidro pelo Brasil mais que dobraram em 2017, para 1,8 bilhão de litros, o que levou o país a impor barreiras --o combustível, até agosto daquele ano, estava em uma lista de exceção da TEC e tinha tarifa zero.
Em 2018, quando a tarifa para volumes extra cota vigorou pelo ano inteiro, o Brasil registrou importações de cerca de 1,7 bilhão de litros, segundo dados da reguladora ANP, que aponta também compras externas de cerca de 800 milhões de litros de janeiro a maio de 2019.
O etanol anidro é misturado à gasolina, cujo consumo tem se mantido relativamente fraco no país, enquanto o consumo de etanol hidratado, usado diretamente nos carros, segue crescente no Brasil, em momento em que setor enfrenta dificuldades para aumentar a produção de cana no centro-sul, maior região produtora.
Trump não citou um produto especificamente, mas disse que o Brasil coloca muitas tarifas para importações. Os EUA são os maiores produtores globais de etanol, fabricando o combustível a partir do milho, cuja produção tem forte relação com a base eleitoral de Trump.
Anteriormente, a Unica chegou afirmar que, se visam o livre comércio, os EUA deveriam abrir seu mercado de açúcar, que tem restrições a exportações do Brasil, o maior exportador global.
Leão destacou que o setor quer o fim da cota sem tarifa, "mas nada impede que no médio e longo prazos haja espaço para uma discussão" comercial com os EUA, que possa envolver açúcar e etanol.
(Por Roberto Samora)