Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - A produção brasileira de soja deve avançar para um novo recorde de 144 milhões de toneladas na próxima safra (2021/22), o que seria um aumento de quase 6% ante a máxima histórica deste ano, estimou nesta quarta-feira o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA).
A projeção para a nova safra, que começa a ser plantada em meados de setembro, é "fáctível", disseram analistas consultados pela Reuters, com produtores investindo em tecnologias, insumos e no aumento de área plantada, além da necessidade de um tempo favorável para a lavoura.
Reagindo aos números do órgão do governo dos EUA, os preços da soja atingiram máxima de mais de 8 anos na bolsa de Chicago, impulsionados por uma visão do USDA que os estoques nos EUA seguirão apertados, enquanto o consumo de óleo e farelo de soja continuam firmes no mundo.
Também nesta quarta-feira, a Cogo Inteligência em Agronegócio divulgou sua primeira estimativa para a nova safra do Brasil, de 142,8 milhões de toneladas.
"É praticamente 143 milhões de toneladas, muito próximo do número dos USDA, com projeção de aumento de 3,8% na área plantada, e estamos baseados nas vendas de insumos, fertilizantes, sementes, que estão bem adiantadas este ano", disse o sócio-diretor da consultoria, Carlos Cogo, à Reuters, citando as boas condições do mercado.
Segundo o analista de Safras & Mercado, Luiz Fernando Roque, a estimativa do USDA é "bem plausível", já que "tem 99% de chance de a área plantada brasileira crescer de novo".
"Trabalhando com uma safra cheia, não me surpreende (o número do USDA). Se de fato tivermos um clima bom, a área vai crescer e o potencialmente vai superar 140 milhões de toneladas", afirmou.
"Uma safra de 144 milhões é possível, vai depender do tamanho da área, é um crescimento que teria que ser superior ao dos últimos anos, e é possível que isso aconteça, aí teria que ter clima muito bom."
Para o gerente da consultoria agro do Itaú BBA, Guilherme Bellotti, que vê preliminarmente a safra do Brasil em 141 milhões de toneladas, com um aumento de área da ordem de 4%, é possível que a projeção do USDA seja alcançada.
"É factível, não acho impossível, tem uma situação de preços... Tem estímulo para o Brasil produzir, assumindo condições de temperatura e pressão bastante boas."
Ele comentou ainda o número do USDA para as exportações na safra 2021/22, de 93 milhões de toneladas de exportações (versus 86 milhões para a safra atual), citando que poderão influenciar a mistura de biodiesel do próximo ano no Brasil, assim como o cumprimento do acordo comercial fase 2 entre China e EUA.
A analista independente Andrea Cordeiro destacou o uso de "altíssima" tecnologia nas lavouras, diante de negócios vistos para a safra 2022 em uma "média recorde de preços em real".
"Isso me faz acreditar no potencial aumento de área", afirmou ela, citando também "a incerteza de um estoque final norte-americano confortável".
Sobre isso, Carlos Cogo comentou que uma vez que os Estados Unidos --segundo no ranking de produção e exportação de soja atrás do Brasil-- estão projetando estoques finais apertados, isso deve beneficiar de forma geral países produtores da América do Sul.
"Se produzisse bem mais haveria demanda, interna e externa... Os Estados Unidos vão virar o ano com estoques muito baixos e o próximo player que vai entrar plantando é o Brasil", lembrou ele.
Os Estados Unidos estão em processo de plantio de soja, e deverão estar em colheita quando o Brasil estiver plantando a próxima safra.
(Com reportagem adicional de Nayara Figueiredo)