Por Nayara Figueiredo
SÃO PAULO (Reuters) - A comercialização da próxima safra de soja (2021/22) atingiu 15,2% até o dia 7 de maio, estimou a consultoria Datagro nesta quinta-feira, ao apontar um atraso em relação ao mesmo período do ciclo anterior, com produtores à espera de preços ainda maiores para acelerar as vendas.
Um ano antes, 28,2% da produção esperada já havia sido negociada. O patamar atual, no entanto, supera a média dos últimos cinco anos para esta época, de 11,6%.
No ano passado, os agricultores venderam aos poucos, aproveitando as altas de preços, mas no final de 2020 vieram picos para as cotações que ficaram muito acima de boa parte das vendas feitas no início do ano, disse à Reuters o coordenador de grãos da Datagro, Flávio Roberto de França Junior.
"Então, neste ano o pessoal está na defensiva porque eles lembram do ano passado, quando venderam muita soja (antecipada) e o preço subiu muito depois", afirmou o especialista.
Ele disse que, na cabeça do produtor rural, de alguma maneira ele perdeu oportunidade de vender ainda melhor em 2020/21.
"Agora os preços continuam altos, até superiores aos picos do ano passado, o agricultor está vendendo um bom volume (antecipado), mas ele ainda acha que pode vir algum problema na safra americana ou alguma coisa que possa fazer subir (os preços) mais do que já subiu", acrescentou.
Dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) mostram que o indicador da soja Esalq/B3, com base no Paraná, atingiu 177,48 reais por saca de 60 quilos nesta quarta-feira, alta de quase 70% ante o mesmo período do ano anterior.
França Jr também disse que a relação de troca ainda está muito favorável ao agricultor, portanto, as vendas só não cresceram mais devido a um movimento mais conservador do que foi no ano passado.
Segundo a projeção preliminar da Datagro, que considera área maior em 2,9%, clima razoavelmente regular e produtividade dentro da normalidade, a safra brasileira 2021/22 tem potencial para atingir 141,18 milhões de toneladas, sendo assim, 21,45 milhões já estariam comercializados --volume inferior aos 38,45 milhões vistos na mesma época de 2020.
CICLO ATUAL
Já para a temporada atual (2020/21), cuja colheita se encaminha para o final, as vendas de soja chegaram a 71,8%, ante 80,6% no mesmo período da temporada anterior e média histórica de 64,3%, informou a Datagro.
"Apesar da melhora dos preços sobre março, os produtores não se sentiram muito motivados a entrar no mercado, pela atenção desviada para a colheita, pelo próprio volume já excessivamente vendido e por expectativas de novas altas nos preços."
Com previsão atual de 136,34 milhões de toneladas, os sojicultores brasileiros teriam um total vendido de 97,92 milhões. Em igual período do ano passado, esse volume estava em 103,32 milhões, de acordo com a consultoria.
Além disso, até o dia 7 de maio, 51,1% da safra de milho de inverno no centro-sul estava negociada, ante 48,8% no mês passado, 55,8% em 2020 e 44% na média para cinco anos.