Os tokens não fungíveis, ou NFT, viraram febre no mercado de criptomoedas recentemente. CryptoKitties, Nyan Cat, ou até mesmo uma arte com 5.000 fotos. Um trio que foi eternizado por meio de uma das tecnologias mais divertidas (e inovadoras) das criptomoedas. Este tipo de token seguem um padrão único, cujas peculiaridades fez deles tecnologias de alto potencial em mercados como arte, jogos e até para colecionadores.
Contudo, o que é exatamente um NFT e como eles funcionam? É possível ir além de gatos fofinhos e obras de arte? O que torna os NFTs tão singulares – no sentido literal da palavra – a ponto de muitos deles chegarem a valer milhões de dólares? Este texto responderá a estas perguntas e trará mais detalhes a respeito.
O que são NFTs
Conforme explicado no início do texto, NFT é a sigla em inglês para token não fungível. A palavra fungibilidade descreve o atributo de um bem que pode ser substituído por outros da mesma espécie, qualidade e quantidade. Por exemplo, o dinheiro é um bem fungível, pois uma nota de R$ 100,00, por exemplo, possui o mesmo valor.
Dessa forma, quando alguém pede emprestado R$ 100,00, a pessoa que pegou emprestado não precisa devolver exatamente a mesma cédula. De fato, ela não precisa sequer devolver uma cédula de R$ 100,00, mas pode entregar duas de R$ 50,00, cinco de R$ 20,00 e assim por diante. Em todos os casos, o valor do dinheiro é o mesmo.
Por outro lado, bens não fungíveis não podem ser substituídos por outro equivalente. Tomemos como exemplo a Mona Lisa, famoso quadro de Leonardo da Vinci que está exposto no museu do Louvre, na França. Aquele quadro é único em todas as suas qualidades e, portanto, único no mundo. Ainda que possa ser copiado, as cópias jamais serão a Mona Lisa original, cujo valor é praticamente incalculável.
Logo, os NFTs representam ativos do mundo real, como músicas, obras de arte, imagens e outros. Assim como a Mona Lisa, estes bens são únicos no mundo e não podem ser reproduzidos. Ao contrário do Bitcoin (BTC), que possui 21 milhões de unidades iguais umas as outras, um NFT é exclusivo e possui as seguintes características:
- Representa algum bem do mundo físico ou puramente digital;
- Possui um registro na blockchain que identifica aquele NFT como único, prevenindo fraudes;
- Permite a digitalização de obras que antes eram restritas ao mundo físico, como artes;
- Os tokens NFT são construídos por meio de seu próprio padrão – o padrão mais comum é o ERC-721, utilizado para tokens criados no Ethereum (ETH).
Token e NFTs
Apesar de um NFT ser um tipo de token, nem todo token é um NFT. De fato, a definição da palavra token não está restrita ao universo de criptomoedas nem a blockchain. Um token pode, por exemplo, ser utilizado como um sistema gerador de senhas para quando os usuários recorrem a serviços de internet banking.
Nesse sentido, um token é uma senha ou código de segurança com validade pré-determinada e cujo objetivo é aumentar a segurança de uma conta bancária. Da mesma forma, a famosa autenticação de dois fatores (2FA) também serve como uma espécie de token. Ambos também podem ser conhecidos como tokens de acesso.
Por outro lado, o conceito de token no mundo dos investimentos é diferente. Aqui, eles costumam representar algum ativo financeiro, ou seja, um bem que possua valor de mercado. Este bem pode ser desde uma moeda, ações de empresas, ou até mesmo uma propriedade física.
Praticamente tudo pode ser transformado em token, ganhando uma representação de seu valor digitalmente, conforme ficou provado com os NFTs. Essa tecnologia deu origem ao processo de tokenização, isto é, a transformação de ativos em tokens. Eis uma lista de coisas que podem ser transformadas em tokens:
- Ações de empresas;
- Imóveis;
- Obras de arte, imagens e até memes da Internet;
- Músicas;
- Mensagens, como tuítes de famosos;
- Contratos de celebridades ou atletas profissionais.
Dos Colored Coins aos CryptoKitties
A febre dos NFTs explodiu em uso e popularidade a partir de 2017 e, principalmente, em 2020. Contudo, a ideia que deu origem a estes tokens surgiu quase dez anos atrás, em 2012, por meio das chamadas Colored Coins. Este protocolo foi criado para funcionar no Bitcoin e permitir a manipulação de bens digitais únicos.
Inicialmente, a ideia do projeto era criar marcações que permitissem diferenciar cada um dos 21 milhões de BTC existentes. Posteriormente, a tecnologia também possibilitou a criação de novos tokens dentro da rede. De certa forma, as colored coins permitiriam que o Bitcoin realizasse aquilo que hoje é realizado pela Ethereum.
“As colored coins não foram precursoras apenas dos NFTs em si, mas sim dos tokens com um todo, nos quais estão incluídos, em última análise, os NFTs. Elas permitiam utilizar os scripts do Bitcoin e criar tokens na blockchain. Era possível produzir um token único e não fungível, ou então emitir vários tokens iguais”, explica Edilson Osório, fundador da startup OriginalMy.
Porém, o custo de criar esses tokens no Bitcoin tornou-se proibitivo e a ideia não prosperou. Assim, foi no Ethereum que surgiu, em 2017, o primeiro grande fenômeno dos NFTs: os famosos CryptoKitties. Lançado no auge da grande alta do mercado, o jogo CryptoKitties permitia a compra de gatinhos personalizados dentro da blockchain. Cada um deles era identificado como único, algo que chamou a atenção de vários colecionadores.
Devido ao hype gerado no mercado, os CryptoKitties bombaram e geraram cerca de US$ 12 milhões em vendas apenas nos 20 primeiros dias. Na ocasião, o contrato inteligente do jogo chegou a responder por 15% de todas as transações no Ethereum e até sobrecarregou a rede temporariamente.
O que torna os NFTs únicos?
Como visto no início do texto, os NFTs são criados por meio de um padrão conhecido como ERC-721 – no caso da blockchain Ethereum. Este padrão estabelece um tipo de assinatura em blockchain que transforma qualquer tipo de mídia digital em um bem não-fungível. Assim, um GIF ou JPEG, fotos, vídeos, mensagens, arquivos de áudio etc., podem ser marcados como únicos e, assim terem uma prova de originalidade.
No entanto, os NFTs não retiram de circulação as cópias de alguma obra famosa que foi tokenizada. A tecnologia não impede o exercício da pirataria, mas sim fornece um certificado de exclusividade em blockchain. Nesse sentido, um NFT serve para comprovar que tal obra é, de fato, a única e original de seu tipo.
Obras de arte físicas e digitais
Por exemplo, considere o meme do Nyan Cat, criado em 2011 pelo artista Chris Torres. Dez anos depois, em fevereiro de 2021, o GIF original foi vendido pela bagatela de US$ 580.000 — cerca de R$ 3,28 milhões na cotação da época. O NFT corresponde ao meme original criado por Torres, que agora está na posse de uma única pessoa.
Se você procurar por Nyan Cat no Google, ainda encontrará cópias do meme. Ele existe apenas na Internet e nunca foi exposto em nenhuma famosa galeria de arte. Contudo, trata-se de uma arte digital e foi negociado dessa forma.
De fato, a tecnologia impulsionou a criação do mercado de obras digitais, ou seja, artes que não existem na vida real. Algumas obras em NFT entraram para a história, como a obra Everydays: The First 5000 Days, do artista digital Beeple, uma coleção de fotos reunida pelo artista ao longo de 5.000 dias. A obra foi vendida por mais de R$ 380 milhões em março de 2021.
Por fim, até mesmo o primeiro tuíte da história, escrito pelo fundador do Twitter Jack Dorsey em 2006, também foi parar nesse mercado. A mensagem foi vendida no formato de leilão, no qual vencia a melhor oferta. No final, o NFT foi adquirido pela bagatela de R$ 10 milhões.
Tanto o Nyan Cat quanto a obra de Beeple e o tuíte de Dorsey não possuem uma representação física. No caso da obra, o vencedor do leilão adquiriu um arquivo .JPEG com 319 GB e terá que deixá-lo em um HD externo ou no computador. A obra, no entanto, é original, única e possui um certificado inviolável e imutável registrado na blockchain.
Como negociar NFTs?
Os NFTs são criados e registrados por meio da tecnologia blockchain. Logo, adquirir e fazer o pagamento dessas obras não depende apenas de uma transferência bancária ou um Pix. Ao contrário, é preciso adquirir uma criptomoeda e utilizá-la para realizar o pagamento do NFT.
Qual vai ser a rede ou criptomoeda escolhida dependerá da plataforma onde o NFT foi criado. Essas obras são frequentemente negociadas no Ethereum, portanto, será preciso fazer o pagamento em Ether (ETH). O pagamento é realizado por meio de um contrato inteligente que garante a autenticidade da transação, bem como da obra que foi adquirida. Existem algumas plataformas que intermediam a negociação de NFTs, como:
- Rarible;
- Cent – permite a tokenização e venda de tuítes;
- OpenSea.
Como está registrado na blockchain, o NFT contém todo o histórico de negociações daquela obra. Assim, um comprador pode verificar tanto a autenticidade quanto se a obra está sendo vendida por aquele que é de fato seu legítimo dono. Esta auditoria, por sua vez, não depende de nenhum curador, museu ou terceiro de confiança para ser realizada.
Por fim, os NFTs evoluíram o conceito de escassez digital trazido pela criação do Bitcoin em 2009. Mesmo que existam cópias, o dono de um NFT sabe que a sua obra é original e autêntica. Afinal, o valor de algo é subjetivo e, no caso dos NFTs, tem crescido a cada operação realizada.