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Oferta pública da Coinbase é importante para as criptomoedas

Publicado 27.02.2021, 19:00
Oferta pública da Coinbase é importante para as criptomoedas
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Felipe Pires é pesquisador e chefe de análise econômica da startup Alter. Em um recente estudo, ele falou sobre a oferta pública da exchange Coinbase.

Segundo Pires, além da listagem direta de ações da Coinbase poder ser um investimento lucrativo, pode ser ainda um divisor de águas.

Durante o estudo, ele fez uma análise de valor da exchange, bem como avaliou o momento para o setor de criptomoedas.

Coinbase até agora

A Coinbase Global Inc. é a maior exchange de criptomoedas dos Estados Unidos. Além disso, ela será a primeira do segmento a abrir capital em bolsa.

Seu negócio principal é uma plataforma online, onde pessoas compram e vendem criptomoeda. Ela também faz a custódia dos criptoativos, oferece uma plataforma de trade e gerencia carteiras digitais para seus clientes.

Segundo o site oficial da Coinbase, sua base de usuários tem mais de 43 milhões de clientes verificados em mais de 100 países. Ao todo, a Coinbase conta com mais de R$ 450 bilhões em custódia, além de um volume que beira R$ 3 trilhões.

Além de tudo isso, ela é membro do Center Consortium, onde atua com a Circle para desenvolver a stablecoin USD Coin (USDC).

A Coinbase foi fundada em 2012 por Brian Armstrong e Emilie Choi. Armstrong é ex-engenheiro de software do Airbnb, e atualmente conta como CEO da empresa.

Choi, por sua vez, exerce os cargos de presidente da exchange e COO. Nos quase 9 anos de existência, a Coinbase já captou US$ 547,3 milhões em 11 diferentes rodadas de investimentos.

Dentre os investidores estão Tiger Global Management, Andreessen Horowitz, Y Combinator, Greylock Partners e Battery Ventures. A True Capital Management e o Fundamental Labs fazem parte dos que entraram na última captação.

Pires ressalta ainda a ambição da Coinbase em desbravar novas frentes, como seu esforço feito no ecossistema DeFi.

Através do fundo USDC Bootstrab Fund, utilizando um contrato inteligente, a empresa já adquiriu participação em 15 organizações. Sua aquisição mais recente foi Bison Trails, em janeiro de 2021.

A Bison Trails é a atual plataforma blockchain por trás da estrutura de custódia da própria Coinbase.

Importante lembrar dos números

A análise de Pires indica que a receita da Coinbase vem de um combinado de, aparentemente, bons serviços. Primeiramente, um grande trunfo da operação da Coinbase parece ser a segurança de custódia de ativos de terceiros.

Por meio deste serviço, ela garante a manutenção de seus clientes frente à concorrência, além de captar valores deles quando estão tentando fugir de ataques de hackers.

Contudo, ainda que o serviço de carteira seja muito popular, ele não é cobrado. Os valores obtidos pela Coinbase são gerados pelas margens e taxas cobradas.

Esses valores são cobrados apenas quando um cliente compra ou venda criptomoedas listadas na exchange.

“IPO da Coinbase: uma análise de valor para o mercado”

A Coinbase possui outras linhas de negócios além de seus serviços de exchange. Pires os lista como:

  • Coinbase Commerce: fornece aos varejistas online um software para que eles aceitem pagamentos em criptomoedas;
  • Cartão Coinbase: ainda no estágio inicial de desenvolvimento, a ideia é dar a seus usuários um cartão de débito Visa físico e um aplicativo de acompanhamento para gastar criptomoedas (muito similar ao oferecido pelo Alter a seus clientes);
  • Conversão USD (USDC): a Coinbase oferece alocação em sua própria stablecoin, a USDC, que é construída na plataforma Ethereum. Seu valor está supostamente vinculado ao dólar norte americano, em uma proporção 1:1.

Tendo em vista que o capital da empresa ainda é fechado, os relatórios de avaliação geralmente se associam com as rodadas de investimento.

A última avaliação formal divulgada da Coinbase foi em outubro de 2018, quando a empresa valia US$ 8 bilhões e captou US$ 300 milhões em uma rodada série E.

Interesse geral

O interesse do mercado pela Coinbase não passou despercebido por outras exchanges. A FTX, focada em derivativos de criptomoedas, criou o contrato futuro sintético Coinbase Pre IPO (CBSE).

A ideia é que ativo rastreie o valor de mercado (futuro) da companhia dividido. Esse valor é dividido por 250 milhões (quantidade de ações).

Ao final do primeiro dia de negociação pública, os saldos serão convertidos na quantidade equivalente de tokens de ações fracionárias da Coinbase.

Caso tudo não aconteça até junho de 2022, os tokens CBSE expiram em US$ 32, em linha com a última avaliação formal da Coinbase de US$ 8 bilhões. Note-se que também é aplicado um desconto de 74,4%, que fica sobre o valor de lançamento em dezembro de 2020.

Pires acrescentou um gráfico ao estudo exibindo a evolução da expectativa do mercado em relação à avaliação da Coinbase.

A leitura também se baseia na evolução do preço do CBSE desde o lançamento até a redação do estudo.

O CBSE, lançado a US$ 125 em 22 de dezembro de 2020, foi a US$ 235 no primeiro dia. Em 10 de janeiro, o preço já tocava os US$ 300. Em 12 de fevereiro, o preço atingiu o pico de US$ 356 — traduzindo-se em um avanço de 185%.

Mas o valor é justo?

Pires compara os contratos futuros de Bitcoin na CME durante a alta com o CBSE. Quando o BTC rompeu os US$ 40 mil, o preço disparou 100% e seus contratos futuros variaram 102%, tudo no mesmo período usado para o CBSE.

O pesquisador ressalta então o fato da expectativa sobre a Coinbase, por meio do CBSE, exceder até mesmo a valorização do Bitcoin. É importante ressaltar que, no período indicado, o investimento da Tesla (NASDAQ:TSLA) em BTC já era público.

Dentro do estudo, Pires ainda acrescentou uma tabela para resumir toda a avaliação de preço da Coinbase, a relação com o CBSE e os contratos futuros de Bitcoin:

No cálculo de possível preço das ações da Coinbase em seu lançamento, Pires ressalta que cada ação seria negociada a 8,38 vezes mais que o valor estimado da empresa em 2018.

Com isso, o valor de mercado da Coinbase beiraria os R$ 400 bilhões.

Outro detalhe importante desse evento de lançamento público de ações é o fato de os gestores da companhia optarem por uma colocação não convencional.

Em vez de um IPO clássico, em que novas ações são emitidas e lançadas a público com o suporte de intermediários, a Coinbase negociará direto a conversão em ações das cotas já existentes nas mãos de seus acionistas.

É a modalidade conhecida como listagem direta de ações. Algumas empresas, como Spotify (NYSE:SPOT) e Slack, foram bem-sucedidas ao adotar este meio para realizar suas ofertas primárias.

Sem intermediário nem período de lockup, a listagem direta tende a ser mais acessível. Entretanto, pode gerar maior volatilidade, em razão da liquidez imediata da ação para o novo acionista.

Alguns entraves Fato é que, mesmo com a aprovação da Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos (SEC, na sigla em inglês) para a operação do modelo, algumas incertezas regulatórias sobre o mercado de criptomoedas ainda restam.

Num momento em que grandes testam a diversificação de caixa em Bitcoin, o processo da própria SEC contra Ripple e o alto custo da solução para falta de escalabilidade do Ethereum acabam por forçar a concentração de investidores institucionais em um único ativo — o Bitcoin.

Além disso, por ser uma empresa baseada nos Estados Unidos, não é permitido à Coinbase oferecer negociação com margem em derivativos. Isso é algo que a maioria de seus concorrentes domiciliados no exterior oferta em larga escala a seus clientes.

Tais fatores impactam diretamente na diversificação do portfólio de serviços da empresa. Ou seja, fica mais difícil expandir o modelo de negócios.

Na mesma linha, esse tipo de “barreira” impacta no preço das ações da Coinbase.

A conclusão Por outro lado, ofertas de ações recentes de empresas de tecnologia deram bons resultados mesmo com lacunas. É o caso do Airbnb, que teve 112% de alta desde a abertura de seu capital.

Ademais, suas ações continuam subindo, mesmo diante da fragilidade regulatória de seu modelo de negócio. Isso sem contar o alto impacto da pandemia de Covid-19, que atinge diretamente a área de turismo.

Em suma, ainda que existam informações e dados relevantes sobre preço, a questão da Coinbase é difícil de precisar. Em outras palavras, por não haver casos de referência, é um processo complicado apontar com exatidão o preço “justo” das ações da Coinbase.

A dificuldade surge de outro problema, que é dizer o quão lucrativo é o negócio.

De qualquer forma, a abertura de capital da Coinbase pode ser um divisor de águas. Mais do que isso, mas uma ponte para conectar as criptomoedas e o mercado tradicional.

Pires deixa uma última informação: a FTX alerta em seu site que por ser um produto volátil, investidores de CBSE devem entender e atender o mecanismo de risco da companhia, margem, liquidação e políticas de fundos de seguro.

Ele conclui aconselhando que investidores se mantenham seguros, caso queiram negociar ações da Coinbase.

Por CriptoFácil

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