Um dos maiores esquemas de pirâmide financeira do Brasil completou um ano recentemente. Trata-se da Unick Forex, empresa que lesou milhares de pessoas no Brasil.
A promessa era de lucros de até 400% sobre suposto serviços de compra e venda de criptomoedas. No entanto, logo a empresa começou a atrasar os repasses e a bloquear os saques dos investidores, dando pistas de que se tratava de uma pirâmide financeira.
Em outubro de 2019, a Polícia Federal deflagrou a Operação Lamanai, que revelou do Vale dos Sinos, tinha deixado um prejuízo estimado em mais R$ 12 bilhões.
Agora, mais de um ano após a operação, os envolvidos estão em liberdade e os clientes lesados pelo esquema seguem no prejuízo.
Entenda o caso Unick
A Unick Forex é apontada como uma pirâmide que movimentou mais de R$ 28 bilhões em 14 países.
A empresa oferecia investimentos em criptomoedas, mas não era autorizada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para atuar. Mesmo assim, captava clientes prometendo retornos irreais.
Embora a CVM tivesse proibido a empresa de atuar ainda em 2018, o esquema só começou a desandar em março de 2019. Nesse momento, os clientes não conseguiram mais usar o login Unick para acessar suas contas no site principal.
Menos de uma semana depois, o sistema voltou ao ar em novo endereço, e os clientes só precisariam alterar a senha de login Unick Forex no link “esqueci minha senha”.
À época, a empresa justificou que estava sofrendo mais de 25 milhões de ataques hackers por semana.
Logo depois desse problema de acesso, a CVM reforçou seu alerta de atuação irregular da empresa. Ao mesmo tempo, acionou o Ministério Público Federal (MPF) para investigar a Unick.
Unick Forex vira Unick Academy
Após as autoridades apertarem o cerco no fim de junho de 2019, a Unick Forex mudou seu nome para Unick Academy. Além do nome, o domínio também foi alterado, saindo de www.unick.forex para www.unick.academy.
Dessa forma, os clientes teriam que usar um login Unick Academy para conseguir acessar as contas.
A decisão era uma clara tentativa de desvincular a empresa da atividade de forex. Mas o plano não deu muito certo, já que em outubro foi deflagrada a Operação Lamanai.
Na ação, a PF prendeu o presidente da Unick, Leidimar Lopes; o diretor de Marketing, Danter Silva; o diretor jurídico, Fernando Lusvarghi; além de outros envolvidos.
Também foram apreendidos 1.500 Bitcoins, além de diversos carros e imóveis.
No mês seguinte, o MPF oficializou a denúncia, indiciando 15 membros da Unick Forex. Entretanto, as prisões dos líderes do esquema não duraram muito tempo.
Menos de três meses depois, em janeiro, a justiça revogou a prisão preventiva de Danter Silva, Marcos da Silva Kronhardt e Paulo Sérgio Kroeff. Kronhardt e Kroeff também participaram do esquema.
Já Leidimar Lopes teve seu pedido de prisão domiciliar concedido por conta do coronavírus em março.
E agora?
Agora, todos os indiciados respondem ao processo em liberdade.
Como informou o portal Gaúcha ZH, a ação está na fase de instrução e julga os crimes de organização criminosa e lavagem de dinheiro.
Além disso, a empresa é julgada por funcionamento de instituição financeira sem autorização legal, emissão, oferecimento e negociação de títulos ou valores mobiliários sem autorização legal.
As primeiras audiências estão agendadas para os dias 23 e 24 de fevereiro de 2021. Na ocasião, serão ouvidas testemunhas de acusação.
Apreensões não são suficientes
Embora tenham sido feitas muitas apreensões, o delegado responsável pelo caso, Aldronei Pacheco Rodrigues, observou que não há dinheiro para ressarcir todas as vítimas:
“Segue havendo apreensões de bens, mas é difícil que todos sejam ressarcidos.(…) Tudo que foi apreendido não é suficiente para ressarci-los. Tenho certeza que não ressarce nem uma ínfima parte. (…) Acreditamos que uma grande parte tenha ficado em moeda virtual no exterior.”
Rodrigues se refere principalmente aos 48 veículos apreendidos que já começaram a ser leiloados. A Justiça Federal não informa, no entanto, quantos já foram vendidos.
Além disso, os valores dos bens bloqueados ficam em contas judiciais e só são liberados em caso de condenação penal definitiva. Mesmo assim, os valores podem não ir para as vítimas, mas sim para a União.