Por Rodrigo Viga Gaier e Camila Moreira
RIO DE JANEIRO/SÃO PAULO (Reuters) - A inflação oficial brasileira atingiu em setembro o menor nível em pouco mais de dois anos favorecida pela queda dos preços dos alimentos, com alívio maior que o esperado na taxa acumulada em 12 meses, em um cenário favorável para que o Banco Central inicie a redução dos juros neste mês.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) teve variação positiva de 0,08 por cento em setembro, desacelerando ante a alta de 0,44 por cento de agosto. Essa é a menor leitura mensal desde julho de 2014 (+0,01 por cento) e a mais baixa para o mês de setembro desde 1998 (-0,22 por cento), informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira.
Em 12 meses até setembro, a alta acumulada caiu para 8,48 por cento, sobre 8,97 por cento no período até o mês anterior. Embora permaneça bem acima do teto da meta --de 4,5 por cento pelo IPCA, com margem de 2 pontos percentuais-- é a mais baixa desde maio de 2015 (+8,47 por cento), num ambiente em que a taxa básica de juros vem sendo mantida em 14,25 por cento desde o ano passado.
Ambos os resultados ficaram abaixo da expectativa em pesquisa da Reuters, de alta de 0,20 por cento em setembro, acumulando em 12 meses avanço de 8,60 por cento.
O grupo Alimentação e Bebidas foi o principal responsável pelo resultado de setembro do IPCA, ao registrar recuo de 0,29 por cento, depois desses preços subirem 0,30 por cento em agosto.
Grande parte dos alimentos pesquisados apresentou redução na taxa ou queda nos preços na comparação mensal em setembro. Somente os preços do leite longa vida, que vinham subindo sistematicamente desde o início do ano, caíram 7,89 por cento, gerando o maior impacto para baixo no índice, de -0,10 ponto percentual.
Artigos de residência e transportes também registraram queda dos preços no mês passado, respectivamente de 0,23 por cento e 0,10 por cento.
Dos nove grupos que compõem o IPCA, apenas três mostraram taxas mais altas do que em agosto --Habitação (0,63 por cento), Vestuário (0,43 por cento) e Comunicação (0,18 por cento).
O arrefecimento da pressão de serviços é mais um fator favorável para que a inflação ceda, com a atividade registrando alta de preços de 0,33 por cento em setembro, após 0,59 por cento no mês anterior, chegando a 7,04 por cento no acumulado em 12 meses.
As expectativas entre economistas e investidores de que o BC cortará a Selic na reunião de 18 e 19 de outubro vêm aumentando. Depois de quatro semanas projetando manutenção, a úlima pesquisa Focus mostrou que a expectativa agora é de corte de 0,25 ponto percentual na taxa básica de juros.
O BC já vinha apontando progressos em relação à alta dos preços de alimentos e passou a ver a inflação abaixo do centro da meta tanto em 2017 quanto em 2018.
Entretanto, o presidente do BC, Ilan Goldfajn, afirmou esta semana que não há um cronograma preestabelecido para flexibilização da política monetária, repetindo que há um processo de desinflação em curso mas que sua velocidade segue incerta.