Investing.com - O Banco Central do Brasil divulgou na manhã de quinta-feira (28) o Relatório Trimestral de Inflação, com projeções de indicadores da autoridade monetária na economia brasileira para os próximos meses. Assista abaixo a entrevista ao vivo com o presidente da instituição, Roberto Campos Neto, sobre o relatório.
A instituição reduziu a projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do país em 2019. O relatório aponta alta de 2,0%, contra 2,4% na projeção. O Banco Central cita a fraqueza observada na atividade no fim do ano passado, consequências da tragédia de Brumadinho (MG) e menor perspectiva para a safra agrícola neste ano.
Detalhes do relatório
Nas contas do BC, a produção agropecuária deve crescer 1 por cento neste ano, metade do que via no relatório de dezembro, citando como destaque a menor produção esperada para soja, item com o maior peso da agricultura, devido à estiagem ocorrida em importantes regiões produtoras.
O BC também reduziu para 1,8 por cento a alta esperada para a indústria em 2019, sobre 2,8 por cento anteriormente, por recuo nas expectativas de crescimento para a indústria de transformação e extrativa.
Somente para a indústria extrativa, a projeção do BC caiu de uma expansão de 7,6 por cento para 3,2 por cento, por menor produção esperada após o rompimento da barragem de mineração da Vale (SA:VALE3 (SA:VALE3)) em Brumadinho (MG). O acidente, ocorrido em janeiro, matou centenas de pessoas e paralisou minas no Estado.
Na véspera, inclusive, a Vale divulgou que realizou baixa contábil de 480 milhões de reais pela mina de Córrego do Feijão, relacionada à estrutura que colapsou em Brumadinho, e também por ativos ligados a barragens com método de construção a montante, com impacto nos resultados a partir do primeiro trimestre de 2019.
Embora considere ainda difícil avaliar os passivos potenciais com o desastre, a empresa anunciou que prevê provisões bilionárias, incluindo uma de até 2 bilhões de reais por pagamentos emergenciais aos atingidos.
Para o setor de serviços, o BC agora vê um crescimento de 2 por cento, sobre 2,1 por cento anteriormente, refletindo "impactos em atividades que apresentam significativa correlação com o comportamento da indústria de transformação".
"Com relação aos componentes domésticos da demanda agregada, houve recuo na projeção para o consumo das famílias, de 2,5 por cento para 2,2 por cento, em linha com o relativo arrefecimento no ritmo de recuperação do mercado de trabalho no final de 2018 e início deste ano", destacou o BC.
"A estimativa para a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) apresentou ligeiro declínio (de 4,4 por cento para 4,3 por cento), enquanto a projeção para o consumo do governo permaneceu inalterada em 0,6 por cento", completou.
POLÍTICA MONETÁRIA
O relatório não trouxe novidades em relação à política do BC para os juros básicos, tendo sido publicado apenas dois dias depois da ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). Mas o documento abriu as projeções de inflação do BC em diversos cenários, jogando mais luz sobre como a autoridade vê essa trajetória daqui para frente.
Para a diretora da área de Macroeconomia da Tendências, Alessandra Ribeiro, os números não abrem margem para o BC cortar os juros, com as estimativas para o IPCA sem amplas folgas em relação às metas, principalmente no ano que vem.
As metas são de inflação em 4,25 por cento em 2019 e 4,0 por cento em 2020, sempre com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.
"Essas projeções já estão incluindo esse cenário de atividade mais fraca e mesmo assim a gente vê inflação entre 3,8 por cento e 4,0 por cento (em 2020), muito alinhada à meta dependendo do câmbio", disse Ribeiro. "Pelo menos por essas sinalizações eu não consigo ver espaço para corte de Selic."
Desde a semana passada, quando manteve os juros na mínima histórica de 6,5 por cento ao ano, o BC já havia indicado que, diante da retomada econômica abaixo da esperada, o balanço de riscos para a inflação passou a ter pesos iguais tanto para cima quanto para baixo.
A decisão, a primeira com Roberto Campos Neto no comando da autoridade monetária, tirou o impedimento explícito que o BC vinha apontando para eventualmente diminuir os juros à frente. Mas o Copom indicou que seguirá atento ao desenrolar da atividade econômica antes de qualquer mudança de rota, numa avaliação que será feita com cautela e que lhe tomará tempo.
"O Comitê julga importante observar o comportamento da economia brasileira ao longo do tempo, com menor grau de incerteza e livre dos efeitos dos diversos choques a que foi submetida no ano passado. O Copom considera que esta avaliação demanda tempo e não deverá ser concluída a curto prazo", repetiu o BC nesta quinta-feira.
No documento, o BC também reiterou que seguirá mantendo "cautela, serenidade e perseverança nas decisões de política monetária".
"As projeções condicionais de inflação e a linguagem do relatório sugerem que o Copom é da opinião que o atual grau de acomodação monetária é justificado e que, diante da confortável trajetória condicional da inflação e do equilíbrio simétrico dos riscos inflacionários, o Copom não está interessado, no curto prazo, em adicionar ou remover estímulos monetários", avaliou o economista do Goldman Sachs Alberto Ramos, em nota.
Para o time do Bradesco (SA:BBDC4) (SA:BBDC4), o relatório reforça a expectativa de manutenção da Selic nas próximas reuniões.
"Reconhecemos a possibilidade de corte de juros em algum momento do ano, caso as frustrações com a evolução da atividade econômica se materializem, em um contexto de expectativas de inflação bem ancoradas e avanço da agenda de reformas", trouxe nota do banco, assinada pelo diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos, Fernando Honorato Barbosa.
"Entretanto, consideramos plausível que o Banco Central queira aguardar mais informações para reavaliar o cenário e decidir pela eventual necessidade de estímulo monetário adicional", acrescentou a nota.
*Com Reuters