Um dia depois da confirmação da eleição de Donald Trump para a Casa Branca, o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) anunciou nesta quinta, 7, um novo corte de 0,25 ponto porcentual para a taxa básica de juros no país, que vai oscilar agora entre 4,50% e 4,75% ao ano. Foi o segundo movimento do atual ciclo de relaxamento monetário nos EUA, iniciado em setembro, e representou ainda uma desaceleração frente à primeira redução (0,5 ponto).
Na entrevista para falar sobre a decisão, o presidente do Fed, Jerome Powell, teve de responder a perguntas sobre sua relação com Trump e se isso pode afetar a definição dos juros no país. Questionado se deixaria o cargo a pedido de Trump, Powell respondeu: "Não". O seu mandato termina em maio de 2026. Ele também afirmou que não se considera legalmente obrigado a renunciar a pedido de Trump. "Isso não é permitido por lei", afirmou ele, aos jornalistas.
Foi o próprio republicano que indicou Powell ao Fed, em 2017. Durante a campanha, Trump sinalizou várias vezes que não pretende reconduzi-lo a um novo mandato. No entanto, ele considera deixar Powell terminar a sua gestão, segundo a rede americana CNN, citando um assessor sênior do republicano.
Sobre riscos de influência nas decisões do Fed durante a segunda gestão de Trump, Powell disse que não entraria em assuntos políticos, e também não quis comentar sobre eventuais impactos de suas políticas fiscais, comerciais e imigratórias. O republicano chegou a dizer, durante a campanha, que julga ter "instintos melhores" do que os próprios dirigentes do BC dos EUA para opinar sobre a trajetória das taxas de juros.
"A coletiva de imprensa do presidente Powell foi um exercício de 45 minutos para evitar perguntas sobre questões políticas e qualquer orientação futura específica", classificou o economista-chefe do Santander (BVMF:SANB11) para os EUA, Stephen Stanley.
Dezembro
Powell disse que não é um bom momento para dar orientações futuras sobre os juros no país, o chamado "forward guidance" no jargão do mercado. Segundo ele, ainda há muitos dados para serem publicados até a reunião de dezembro, a última do ano, incluindo relatórios de inflação e do mercado de trabalho americano. "Não achamos que seja um bom momento para fazer muito 'forward guidance'", disse ele.
O mercado passou a precificar maiores chances de uma manutenção dos juros na reunião de dezembro. Tal probabilidade está em 29%, conforme a plataforma americana CME Group. No entanto, a hipótese de mais uma redução de 0,25 ponto segue como a mais provável (71%) na visão dos investidores.
"Acreditamos que o Fed cortará em 0,25 ponto novamente em dezembro, mas a perspectiva depois disso é menos clara e há uma grande chance de uma pausa na reunião de janeiro", avaliou, por exemplo, o banco holandês ING. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.