Por Marcela Ayres
BRASÍLIA (Reuters) - O Banco Central manteve nesta quarta-feira a taxa básica de juros em 14,25 por cento ao ano, decisão amplamente esperada pelo mercado, destacando que a inflação ainda está muito elevada para permitir corte de juros, na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) com Alexandre Tombini na presidência do BC.
"O Comitê reconhece os avanços na política de combate à inflação, em especial a contenção dos efeitos de segunda ordem dos ajustes de preços relativos. No entanto, considera que o nível elevado da inflação em doze meses e as expectativas de inflação distantes dos objetivos do regime de metas não oferecem espaço para flexibilização da política monetária", trouxe o comunicado do BC, repetindo texto da decisão anterior.
Em pesquisa Reuters, todos os 43 economistas consultados estimaram que a taxa básica de juros seguiria em 14,25 por cento ao ano, marcando a sétima vez consecutiva em que a autoridade monetária não mexe na Selic.
"Era estritamente o que se imaginava até pelo momento de transição que a gente está tendo na direção do banco", afirmou o economista-chefe do Banco J.Safra, Carlos Kawall, em referência à aprovação pelo Senado do nome de Ilan Goldfajn para a presidência do BC na véspera.
"Acho que o grande momento de comunicação do Banco Central vai ser o relatório de inflação no final do mês", completou ele, que alterou há duas semanas a perspectiva de início de redução nos juros básicos para agosto, ante julho.
Em suas últimas comunicações, tanto Tombini quanto os diretores do BC ressaltaram não haver espaço para corte nos juros em função da inflação ainda alta, distante do objetivo buscado pelo BC de circunscrevê-la para a meta neste ano --de 4,5 por cento pelo IPCA, com margem de dois pontos percentuais para mais ou menos--, com convergência ao centro da meta de 4,5 por cento em 2017.
No último mês, a inflação mostrou sinais de força novamente. Na manhã desta quarta-feira, foi divulgado que o IPCA subiu 0,78 por cento em maio, acumulando em 12 meses 9,32 por cento de alta.
Além disso, as perspectivas de inflação para 2016 pioraram pela terceira semana seguida, a 7,12 por cento, segundo a mais recente pesquisa Focus, realizada pelo BC com mais de uma centena de economistas toda semana.
Diante da recessão econômica, contudo, analistas dão como praticamente certo o início do ciclo de cortes na taxa básica de juros neste ano, tarefa que caberá ao BC comandado por Ilan, ex-economista-chefe do Itaú (SA:ITUB4). Sua nomeação para o cargo sairá no Diário Oficial da União na quinta-feira, segundo uma fonte do BC com conhecimento direto do assunto.
A atenção do mercado se volta agora sobre a definição da diretoria do BC e sobre o contorno da política monetária sob a batuta de Ilan, incluindo pistas sobre o momento de corte na Selic e sobre a duração desse afrouxamento.
Somente três dos 35 economistas que forneceram projeções para o resto do ano na pesquisa Reuters não veem queda na Selic. A mediana das estimativas aponta a taxa em 13 por cento no final do ano.