Por Howard Schneider
(Reuters) - Novos dados de inflação que serão divulgados na quinta-feira devem mostrar os preços ainda subindo a máximas em várias décadas, mas autoridades do Federal Reserve (Fed) têm esperança de que o pico possa estar próximo.
"Há algumas evidências de que estamos à beira" de uma inflação que começa a diminuir talvez no meio do ano, disse o presidente do Fed de Atlanta, Raphael Bostic, em entrevista à CNBC.
Em comentários separados, a presidente do Fed de Cleveland, Loretta Mester, afirmou também esperar que a inflação ceda este ano, conforme o banco central norte-americano aperta o crédito.
Espera-se que o Índice de Preços ao Consumidor tenha aumentado mais de 7% em janeiro em base anualizada, um nível que lembra os choques inflacionários das décadas de 1970 e 1980 que levaram o Fed a acelerar os planos de aumentar os custos de empréstimos e reduzir suas participações em títulos do governo e em papéis garantidos por hipotecas.
Mas o ritmo de alta da inflação mês a mês tem diminuído, sinal de que a economia pode estar solucionando problemas na cadeia de suprimentos e outras dificuldades criadas pela pandemia.
"O que vimos é que a inflação não piorou no nível mês a mês, e tenho esperança que isso se traduza em um declínio lento conforme avançamos na primavera até o verão", disse Bostic. Isso "me dará algum conforto de que estamos indo na direção certa" e talvez permita que o Fed eleve as taxas em um ritmo mais lento à medida que a economia continua se recuperando, disse ele.
Há um amplo consenso no banco central para começar a subir a taxa de juros na reunião de política monetária de 15 a 16 de março. Mas não há clareza sobre o quanto o Fed terá que fazer para combater a inflação, ou qual a probabilidade de que as cadeias de suprimentos de bens e o mercado de trabalho dos EUA retornem por conta própria a algo como os níveis normais pré-pandemia de inflação baixa junto a baixas taxas de desemprego.
Alguns analistas argumentam que o banco central já está fora de sintonia com o rumo da economia. Atualmente, a taxa de desemprego é de 4%, baixa pelos padrões históricos, e pode cair ainda bem mais em meio a números recordes de vagas de emprego, aumento de salários e uma economia que pode disparar ao longo do ano à medida que a atual onda da pandemia recue.
Alguns veem a taxa de desemprego em queda para 3% ou abaixo disso este ano, algo não visto desde a década de 1950.
"A economia está ignorando avisos para parar", afirmou Ethan Harris, chefe de economia global do Bank of America (NYSE:BAC), nesta semana. Harris está entre os analistas mais agressivos ao esperar que o Fed eleve as taxas de juros sete vezes este ano, o que significaria aumentos em cada uma das reuniões restantes de política monetária em 2022.
"Eles realmente não estão prontos para capitular e dizer que estamos atrasados", no combate à inflação, afirmou ele. "Eu acho que eles deveriam."
Um ciclo de aperto monetário contínuo, reunião a reunião, não é visto desde o início dos anos 2000, no final do mandato do ex-chefe do Fed Alan Greenspan.
Mas a economia da era da pandemia surpreendeu mais de uma vez, e há grandes forças concorrentes em ação --um declínio nos gastos do governo federal, por exemplo, que pode desacelerar o consumo, e finanças saudáveis por parte das famílias que podem sustentá-lo.
Ian Shepherdson, economista-chefe da Pantheon Macroeconomics, disse esperar que uma combinação de estoques crescentes, condições globais para a entrega de mercadorias mais favoráveis e aumentos iniciais da taxa de juros do Fed reduzam a inflação rapidamente --de volta à meta de 2% do banco central no próximo ano, com preços para bens importantes como automóveis até mesmo em queda mais para frente em 2022.
Os juros ainda precisarão subir, disse ele, mas porque a economia está melhorando, não por causa de uma "corrida" do Fed para combater a inflação.
"Este Fed vai agir com cautela quando sentir que tem o quadro de tendência da inflação sob controle. Isso deve acontecer no meio do ano", afirmou Shepherdson.
MERCADOS FINANCEIROS, CADEIA DE SUPRIMENTOS
Nos mercados financeiros, as taxas de juros cobradas de famílias e empresas já subiram desde que o banco central começou a desacelerar suas compras de títulos no final do ano passado e sinalizou uma alta nos juros. Uma taxa de fundos federais "paralela" mantida pelo Fed de Atlanta mostra que os mercados de títulos produziram o equivalente desde então a uma elevação de quase 2 pontos percentuais. O custo para financiar uma casa está crescendo.
Há alguma evidência de melhoria na cadeia de suprimentos também. Os estoques em muitos setores de bens foram reconstruídos, um amortecedor contra o tipo de escassez que elevou os preços dos bens no início da pandemia.
Após a divulgação de seus últimos ganhos nesta quarta-feira, executivos da gigante do transporte marítimo AP Moller-Maersk disseram esperar uma "normalização" nas condições globais de transporte no segundo semestre de 2022. Os atrasos nos portos e a escassez de contêineres têm atormentado as empresas durante a pandemia.
"A inflação atingiu o pico", disse o economista-chefe da Moody's Analytics, Mark Zandi, no Twitter. "Conforme a pandemia continua a recuar... a inflação também o fará. As cadeias de suprimentos globais estão resolvendo as coisas... E o crescimento salarial será moderado à medida que os trabalhadores ficam saudáveis novamente."