Investing.com – A inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) apresentou elevação de 0,26% em setembro, abaixo da expectativa consensual de 0,34%, segundo informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em agosto, o indicador havia variado 0,23% e, em setembro de 2022, houve deflação de 0,29%. Dessa forma, o IPCA em doze meses passa de 4,61% para 5,19%.
Segundo o IBGE, seis dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados registraram acréscimo em setembro, com maior impacto positivo e a maior variação de transportes, seguido por habitação. Alimentação e bebidas foi o grupo com maior retração no indicador mensal.
Raphael Moses, professor da COPPEAD/UFRJ, detalha que, como já era esperado, a alta da gasolina, subitem com maior peso no IPCA, afetou de forma expressiva o indicador. “Não só a gasolina, mas também tivemos reajustes de passagens aéreas”.
Por outro lado, o grupo que contribuiu para segurar o IPCA de setembro foi de alimentação, aponta o professor. “É o quarto mês consecutivo de deflação, principalmente pela alimentação dentro do domicílio”.
A expectativa é de inflação acima da meta neste ano, reforça Moses. O que preocupa para o mês de outubro é que a continuação do conflito entre Israel e Hamas pode afetar o petróleo e uma disparada tenderia a forçar a Petrobras (BVMF:PETR4) a realizar novos reajustes. A resiliência do setor de serviços e a situação fiscal do país também devem ser verificadas de perto pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central.
O fenômeno climático El Niño também será monitorado com maior ênfase a partir do ano que vem. “Se houver impacto muito alto, pode influenciar no grupo de alimentação e frear o ritmo de cortes do Banco Central”.
Além disso, como o Brasil tem apresentado resultados positivos com diminuição na taxa de desemprego, segundo o professor, se esse cenário continuar, o que pode impulsionar o consumo das famílias, haveria maior pressão inflacionária.
Lucas Souza, mestre em economia aplicada pela USP e economista-chefe da gestora Berkana, destaca o efeito benigno dos alimentos neste ano, principalmente leite, laticínios e carnes. “Não é algo deste mês. Nos últimos doze meses, o preço do leite está caindo 16%. As carnes também, que têm peso grande no peso bolso do consumidor. O acém caiu 3% neste mês e 13% nos últimos 12 meses”.
Outro ponto citado por Souza é a inflação de serviços. “Serviços é o termômetro da economia. Mais de 70% do PIB é serviços. A inflação de serviços veio 0,50%, mas o que puxou os serviços também está relacionado à alta dos combustíveis, como passagens aéreas”.
Um índice de difusão no menor patamar desde a reabertura pós-pandemia e melhora nos últimos meses no núcleo de inflação são fatores benignos para as próximas decisões sobre a taxa de juros Selic, completa o economista. Em sua visão, a volatilidade do cenário externo, com abertura de taxas de juros, e a situação fiscal vão definir os próximos rumos da política monetária.
Além do IPCA, o IBGE divulgou o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), voltado a famílias que ganham de 1 a 5 salários mínimos, lembra Souza. O INPC teve alta de 0,11% em setembro. Em agosto, havia sido de 0,20% e, em setembro de 2022, a taxa foi negativa em 0,32%. Nos últimos 12 meses, o indicador atingiu 4,51%. “Uma família mais pobre gasta proporcionalmente mais com alimentos. Um indicador menor é importante até por uma questão de satisfação da sociedade, bem-estar social para a população”, conclui.