Por Rodrigo Viga Gaier e Camila Moreira
RIO DE JANEIRO/SÃO PAULO (Reuters) - A inflação oficial brasileira registrou em dezembro o nível mais baixo para o mês em 24 anos, apesar da pressão dos preços de alimentos, e terminou 2018 abaixo do centro da meta oficial, corroborando o cenário de que o Banco Central levará tempo para elevar os juros básicos.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulou em 2018 alta de 3,75 por cento, depois de ter subido no ano anterior 2,95 por cento, de acordo com dados divulgados nesta sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Assim, a inflação do país terminou o ano abaixo do centro da meta do governo de 4,5 por cento, com margem de 1,5 ponto percentual para mais ou menos, em meio a um cenário de atividade econômica sem fôlego, desemprego alto e demanda fraca. A expectativa em pesquisa da Reuters era de alta de 3,70 por cento.
É o segundo ano seguido em que isso acontece depois de ter ficado em 2017 abaixo do piso pela primeira vez desde que o regime de metas de inflação foi definido, em 1999. Também é o terceiro ano seguido que o IPCA fica dentro do intervalo definido como objetivo.
"A inflação em 2018 poderia ter sido menor se não fosse a greve dos caminhoneiros (em maio), visto que a paralisação afetou a oferta de alimentos e de combustíveis", afirmou o economista do IBGE Fernando Gonçalves.
Para 2019, o governo determinou como meta inflação de 4,25 por cento, mantendo a margem de tolerância em 1,5 ponto percentual para mais ou menos.
Em dezembro, o IPCA avançou 0,15 por cento, depois de queda de 0,21 por cento em novembro e projeção na pesquisa da Reuters com analistas de alta de 0,13 por cento. Esse é o resultado mais fraco para o mês desde o início do Plano Real, em 1994.
No último mês do ano a pressão veio principalmente do grupo Alimentação e bebidas, que passou a subir 0,44 por cento depois de alta de 0,39 por cento em novembro e foi responsável por quase 3/4 do índice de dezembro.
Os principais impactos vieram dos alimentos para consumo em casa, cujos preços aceleraram a alta a 0,50 por cento em dezembro de 0,34 por cento antes.
Na outra ponta, Transportes registrou deflação de 0,54 por cento, com destaque para a queda de 4,25 por cento de combustíveis. Habitação também registrou queda no mês, de 0,15 por cento.
2018
No ano, o destaque também ficou para Alimentação e Bebidas, com uma alta acumulada de 4,04 por cento, depois de ter recuado 1,87 por cento em 2017.
Também cabe mencionar os avanços de 4,72 por cento de Habitação e de 4,19 por cento de Transportes. Juntos, esses três grupos foram responsáveis por 66 por cento do IPCA de 2018.
No ano passado, os preços de serviços apresentaram menor pressão ao subirem 3,36 por cento, após avançarem 4,51 por cento no acumulado de 2017. Esse é o nível mais baixo desde que a inflação de serviços começou a ser medida em 2012.
"O nível de serviços baixo em 2018 tem a ver com a atividade econômica e menor demanda. A renda das famílias foi destinada para bens essenciais como alimentos e transportes, além de habitação", explicou Gonçalves.
A persistência do nível fraco de inflação em meio a uma retomada econômica que segue sem fôlego expressivo favorece a perspectiva apontada pelo BC de que o início do aperto monetário está distante.
A pesquisa Focus que o BC realiza semanalmente com mais de 100 economistas mostra que a expectativa é de que a Selic seja mantida no atual patamar de 6,5 por cento na primeira reunião deste ano, em 5 e 6 de fevereiro, terminando 2019 a 7,0 por cento.
Para o analista de inflação da consultoria Tendências, Marcio Milan, a inflação deve acelerar ligeiramente a 4,1 por cento em 2019, como reflexo de uma esperada recuperação da economia e do mercado de trabalho, o que tende a favorecer a demanda.
"Mas nada muito diferente do que vimos em 2018. Essa aceleração deve ser pautada por uma reação dos preços livres, e em contrapartida espera-se alta menor dos preços administrados, como energia e combustível", disse ele.
No Focus, a estimativa é de uma inflação de 4,01 por cento em 2019, com o Produto Interno Bruto (PIB) crescendo 2,53 por cento, depois de ter expandido 1,30 por cento no ano passado.
O presidente do BC, Ilan Goldfajn, passará o bastão em breve para Roberto Campos Neto, indicado pelo governo de Jair Bolsonaro para o comando da autoridade monetária e que será ainda sabatinado pelo Congresso.
Veja detalhes na variação mensal (%):
Grupo Novembro Dezembro 2018
Índice Geral -0,21 +0,15 +3,75
Alimentação e Bebidas +0,39 +0,44 +4,04
Habitação -0,71 -0,15 +4,72
Artigos de Residência +0,48 +0,57 +3,74
Vestuário -0,43 +1,14 +0,61
Transportes -0,74 -0,54 +4,19
Saúde e Cuidados Pessoais -0,71 +0,32 +3,95
Despesas Pessoais +0,36 +0,29 +2,98
Educação +0,04 +0,21 +5,32
Comunicação -0,07 +0,01 -0,09