Os juros futuros fecharam a terça-feira em queda. As taxas mostraram alívio durante a tarde, numa aparente acomodação das tensões que perturbaram a curva e o câmbio pela manhã. O dólar zerou o avanço na segunda etapa, o que abriu espaço para uma correção nas taxas, que vinham operando em níveis bastante elevados. O movimento, porém, é visto como uma pausa para respiro, uma vez que os receios com a possibilidade de medidas mais heterodoxas na economia não se dissiparam, em meio à queda de braço entre o presidente Lula e o Banco Central e a falta de avanço na questão fiscal.
No fechamento, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 estava em 10,765%, de 10,838% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2026 estava em 11,66%, de 11,77%. O DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 11,97%, na mínima, de 12,07%, e a do DI para janeiro de 2029 projetava 12,33%, de 12,38%.
Até meados da tarde, as taxas operavam em alta firme, acompanhando a pressão do câmbio e refletindo temores de intervenção do governo na economia, na esteira de novas declarações do presidente Lula. À Rádio Sociedade, em Salvador, ele disse que estava preocupado com a subida do dólar. Segundo ele, o governo tem de agir em relação à situação sobre a suposta especulação contra o real. "Nós temos de fazer alguma coisa", disse.
A fala levantou temores de que o governo pudesse adotar medidas de controle de capital para estancar a disparada da moeda americana, o que fez o dólar subir ainda mais, levando a cotação para a máxima de R$ 5,7009. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, veio a público afirmar que não há medidas relativas à adoção de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) em operações de câmbio. Ele garantiu que não há nada que o governo planeje fazer além de "acertar a comunicação" sobre a autonomia do Banco Central" e a "rigidez" do arcabouço fiscal.
A piora do câmbio levou junto as taxas, até porque o dólar perto de R$ 5,70 vai estimulando as apostas de retomada do ciclo de aperto monetário. No meio da tarde, o mercado melhorou e o dólar passou a cair, levando consigo a curva de juros. O dólar acabou voltando a subir no fechamento, para R$ 5,6648, mas longe da máxima a R$ 5,70.
Segundo a Coluna do Estadão, aliados do presidente Lula têm defendido que o governo antecipe sua indicação à presidência do Banco Central com o objetivo de frear a disparada do dólar, o que também reduziria bastante a volatilidade na curva de juros.
Para o economista-chefe da Reag Investimentos, Marcelo Fonseca, não se pode afirmar que as taxas estão em níveis exagerados diante do problema fiscal que ele classifica como "grave" e do risco de retomada do aperto monetário. "Se o Copom precisar subir juros, as taxas ainda têm espaço para avançar", afirma.
Pelo lado fiscal, o mercado clama por ações efetivas no âmbito dos gastos. "É preciso medidas concretas e decisivas para a contenção. A estratégia pelo lado das receitas se esgotou", diz Fonseca.
Desse modo, o mercado não se deixou levar pelas declarações da ministra do Planejamento, Simone Tebet, que sinalizou que começará a colocar em prática a prometida agenda de revisão de gastos, com apresentação de um primeira proposta de ajustes a Lula, que, segundo ela, "vão ao encontro da vontade política", descartando medidas como desvinculação do salário mínimo da aposentadoria.
Passou sem impacto nos preços a determinação da Aneel de reduzir as tarifas da Enel (BIT:ENEI) SP, a partir da próxima quinta-feira, 4 de julho. A redução será em média de 2,43% para os consumidores. Economistas calculam impacto entre 0,03 e 0,04 ponto porcentual na inflação de julho, o que vai ajudar a amenizar o impacto da adoção da bandeira amarela também a partir desde mês.