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Parte da desancoragem fiscal é explicada por necessidade de mais receitas, diz Campos Neto

Publicado 28.08.2023, 14:57
© Reuters. Presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto
27/03/2020
REUTERS/Ueslei Marcelino
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SÃO PAULO (Reuters) - O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta segunda-feira que parte da desancoragem das expectativas verificada no Brasil na área fiscal é explicada pela necessidade de se elevar as receitas do governo para o cumprimento das metas.

Em evento da Warren Investimentos, Campos Neto reiterou que o Brasil vive hoje um momento de "desancoragem gêmea", em que as projeções do mercado não preveem que o governo cumprirá a meta fiscal e, ao mesmo tempo, não indicam inflação dentro da meta no futuro.

"Parte da desancoragem (no Brasil) está explicada por necessidade de receitas adicionais", afirmou Campos Neto.

Atualmente, o governo trabalha com meta de 100 bilhões de reais de déficit primário para 2023 e resultado primário zero para 2024. Economistas têm afirmado, no entanto, que a zeragem do déficit pressupõe aumento da arrecadação, com a adoção de medidas que dependem da aprovação do Congresso.

Campos Neto alertou que em alguns países, como Argentina e Turquia, a corrida por mais arrecadação gerou uma erosão na base arrecadatória, o que traz preocupações também para o Brasil.

O presidente do BC também voltou a afirmar que o crescimento de gastos em termos reais no Brasil é alto, quando comparado com outros países.

Durante sua fala, Campos Neto indicou que a questão fiscal não está restrita ao Brasil.

"O mundo passou muito bem pela pandemia, mas ficou uma conta para pagar, e há uma resistência de muitos governos de retirar os programas (de auxílio)", afirmou.

CONJUNTO DA OBRA

Campos Neto também ressaltou que o Comitê de Política Monetária estará observando "o conjunto da obra" para eventualmente se decidir sobre uma aceleração do ritmo de ajuste da política monetária para além dos cortes adicionais de 0,50 ponto percentual que foram sinalizados para as próximas reuniões, sem que haja uma "fórmula mágica" para essa definição.

Ele reiterou que a "barra" para fazer algo diferente do que já foi indicado é "muito alta".

"Eu diria que é ver a expectativa de inflação rumando para 3%, ou para alguma coisa bem perto de 3%, a parte de hiato (do produto) teria que ter uma mudança substancial", disse Campos Neto. "Na parte de inflação corrente a gente teria que ver a inversão de algumas tendências que estão acontecendo ou a aceleração, para um lado ou para o outro. Uma aceleração de tendência no caso de uma melhora dos núcleos e uma aceleração maior."

Campos Neto afirmou, ainda, que a alta do IPCA-15 em agosto no Brasil indica "mais ou menos" a trajetória que o Banco Central esperava.

Para ele, o núcleo dos preços de serviços, que está sendo acompanhado de perto pela autoridade monetária, "até que não veio ruim", embora outros componentes do índice de preços tenham vindo acima do esperado.

Na última sexta-feira, dados mostraram que o IPCA-15 subiu mais do que o esperado pelo mercado em agosto sob pressão dos custos da energia elétrica, com a taxa em 12 meses voltando a superar os 4%.

"As inflações todas estão caindo bastante", disse Campos Neto, ao avaliar a inflação globalmente. "Quando olhamos os núcleos, nem tanto."

Campos Neto abordou ainda dois fatores que, segundo ele, são fundamentais para que o país alcance juros mais baixos, por mais tempo: a recuperação de crédito e o crédito direcionado, em que as taxas são definidas com a intervenção do governo. Ele defendeu que o Brasil não pode retornar a uma situação de juros direcionados em 50% do total do crédito, sob pena de a política monetária não ser tão eficaz.

CRESCIMENTO

Campos Neto também avaliou o atual estágio de crescimento das economias. Sobre a China, lembrou que o corte recente de juros no país asiático foi "bastante" baixo e que a questão imobiliária voltou à cena.

"Já tem gente falando de crescimento abaixo de 4% na China. Há dúvida sobre o que isso significa para os emergentes", disse.

Em relação aos EUA, ele lembrou que Washington gastará cerca de 2 trilhões de dólares em 2023, o que ajuda a explicar o crescimento do país, mas o cenário para 2024 será diferente.

© Reuters. Presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto
27/03/2020
REUTERS/Ueslei Marcelino

No caso do Brasil, Campos Neto voltou a citar a força do setor de serviços e a fraqueza da indústria. Ao mesmo tempo, afirmou que, ainda que o agronegócio seja excluído da conta, o Brasil tem tido surpresas positivas na atividade.

"Temos recentemente tido algumas surpresas no crescimento. Tem um pouco do efeito dessas reformas que a gente fez", afirmou, citando a reforma da previdência.

(Por Fabrício de Castro, em Brasília; Reporgagem adicional de Luana Maria Benedito, em São Paulo)

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