Por Camila Moreira e Rodrigo Viga Gaier
SÃO PAULO/RIO DE JANEIRO (Reuters) - A economia do Brasil cresceu bem mais do que o esperado no segundo trimestre graças ao desempenho de serviços e indústria, mas ainda registrou forte desaceleração ante o ritmo do começo do ano.
Embora tenha surpreendido, o resultado dá início a um esperado movimento de arrefecimento da atividade que deve se prolongar pelo segundo semestre, em meio aos efeitos da política monetária restritiva e do esvaziamento do forte impulso do setor agrícola visto no primeiro trimestre deste ano.
O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil cresceu 0,9% no segundo trimestre na comparação com os três meses anteriores, de acordo com dados divulgados nesta sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O resultado do PIB entre abril e junho ficou bem acima da expectativa em pesquisa de Reuters de um avanço de 0,3%.
A taxa marca o oitavo trimestre seguido no azul, mas ainda assim mostra forte enfraquecimento ante a expansão de 1,8% do PIB no primeiro trimestre, em dado revisado pelo IBGE de alta de 1,9% informada antes.
"A política monetária com juros mais altos teve impacto na economia e justifica esse crescimento menor. Tem ainda o efeito safra, já que 60% da colheita da soja, nosso principal produto, acontece no primeiro trimestre", explicou a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis.
Com esse resultado, a economia fecha o primeiro semestre com alta acumulada de 3,7% e opera 7,4% acima do patamar pré-pandemia, referente ao quarto trimestre de 2019, atingindo o ponto mais alto da série.
"É preciso prestar atenção para essa desaceleração na margem que tivemos, por mais que tenha superado as expectativas em termos de crescimento, não podemos abandonar a hipótese de uma contínua desaceleração ao longo dos próximos trimestres, que pode consequentemente afetar a arrecadação e, depois, a percepção fiscal", destacou Matheus Spiess, analista da Empiricus Research.
Na comparação com o segundo trimestre de 2022, o PIB teve avanço de 3,4%, contra expectativa de 2,7% nessa base de comparação.
INDÚSTRIA E SERVIÇOS
Os dados do PIB no segundo trimestre mostram que os destaques foram os setores de indústria e serviços. O primeiro teve expansão de 0,9%, segundo trimestre positivo, puxado pelos resultados positivos das indústrias extrativas (1,8%) e da construção (0,7%).
Já os serviços --setor que responde por cerca de 70% da economia do país -- expandiu 0,6% e repetiu a taxa vista no primeiro trimestre, ficando no ponto mais alto de sua série.
“O que puxou esse resultado dentro do setor de serviços foram os serviços financeiros, especialmente os seguros, como os de vida, de automóveis, de patrimônio e de risco financeiro", disse Palis.
Por outro lado, a agropecuária registrou uma retração de 0,9% no período, depois de ter disparado 21% no primeiro trimestre do ano.
Do lado das despesas, o consumo das famílias cresceu 0,9%, resultado mais elevado desde segundo trimestre de 2022, em meio à resiliência do mercado de trabalho e medidas de incentivo fiscal e de transferência de renda, ainda que os juros e o endividamento permaneçam elevados.
As despesas do governo, por sua vez, tiveram expansão de 0,7%, no quarto resultado positivo seguido. A Formação Bruta de Capital Fixo, uma medida de investimento, evitou o terceiro trimestre seguido de contração com um ligeiro crescimento de 0,1%.
Em relação ao setor externo, as exportações de bens e serviços tiveram desempenho positivo de 2,9%, enquanto as importações avançaram 4,5%.
Analistas consideram que uma desaceleração da economia brasileira à frente está no cenário, diante não apenas da dissipação do choque positivo da agricultura, como também devido aos efeitos da política monetária restritiva.
O Banco Central iniciou um ciclo de cortes de juros no mês passado, mas a 13,25% a taxa básica Selic ainda está em nível elevado e restringe o crédito. Para a reunião de setembro do BC, a expectativa é de novo corte de 0,5 ponto percentual.
Por outro lado, a inflação também perdeu força, e o mercado de trabalho ainda se mantém forte.
O governo prevê que a economia do Brasil registrará uma expansão de 2,5% neste ano, enquanto o Banco Central calcula um crescimento de 2,0% do PIB, abaixo do esperado pelo mercado, que vê uma alta de 2,31%, segundo o mais recente relatório Focus.