Por Camila Moreira e Rodrigo Viga Gaier
SÃO PAULO/RIO DE JANEIRO (Reuters) - A indústria brasileira iniciou o terceiro trimestre com perda de força mais intensa do que o esperado em julho, voltando a registrar recuo pela primeira vez em três meses e sem conseguir dar sinais de retomada em meio a um cenário desafiador tanto interna quanto externamente.
A produção industrial do Brasil contraiu 0,6% em julho na comparação com o mês anterior, e teve retração de 1,1% ante o mesmo período do ano passado.
Ambos os resultados divulgados nesta terça-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) foram mais fracos do que as expectativas em pesquisa da Reuters, de quedas de 0,3% no mês e de 0,5% na base anual.
Além disso, a retração mensal foi a mais forte desde abril (-0,7%) e ainda marcou o pior resultado para julho desde 2021 (-16%).
"A primeira informação do terceiro trimestre foi negativa e o que chama mais atenção é a perda de intensidade. O perfil disseminado também chama a atenção", disse André Macedo, analista da pesquisa no IBGE, destacando que em maio houve alta de 0,3% e em junho a produção ficou estagnada.
Com o resultado de julho, o setor industrial está 2,3% abaixo do patamar pré-pandemia (fevereiro de 2020) e 18,7% aquém do ponto mais alto da série histórica, de maio de 2011, de acordo com o IBGE.
“Como já estamos há tempos abaixo do pico histórico, a indústria precisa de muito mais do que a queda dos juros. Precisa de uma conjuntura econômica", alertou Macedo.
Analistas avaliam que a perspectiva para a indústria no restante do ano é de fraqueza, ou até mesmo negativa. As pressões vêm da taxa de juros elevada, ainda que o Banco Central tenha iniciado o afrouxamento monetário, bem como da desaceleração global, com destaque para a China, o que afeta a demanda.
Em agosto, o Banco Central iniciou um ciclo de afrouxamento monetário com corte de 0,5 ponto percentual na taxa básica de juros, mas a 13,25% a Selic ainda permanece em território restritivo para a atividade e o efeito dos cortes é defasado.
"De outro lado, o governo tem promovido políticas de estímulos à atividade econômica, que podem incentivar a indústria. Olhando para 2023, segue válida a nossa projeção de 0,2% (crescimento) para a produção industrial brasileira", destacou a equipe do PicPay em nota.
No mês de julho, três das quatro grandes categorias econômicas e 15 dos 25 ramos pesquisados apresentaram recuo na produção.
As principais pressões negativas entre as atividades foram exercidas por veículos automotores, reboques e carrocerias (-6,5%), indústrias extrativas (-1,4%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-12,1%) e máquinas e equipamentos (-5,0%).
Por outro lado, o setor de alimentos apresentou avanço de 0,9% e marca o primeiro resultado positivo desde dezembro de 2022, impulsionado pelo avanço da expansão de produção de açúcar, soja e carne bovina.
Entre as categorias econômicas, o único avanço no mês veio de bens de consumo semi e não duráveis, de 1,5%. Enquanto isso, a fabricação de bens de capital teve queda de 7,4%, a de bens de consumo duráveis recuo de 4,1% e o setor de bens intermediários apresentou retração de 0,6%.
"O crédito mais restrito por conta dos juros afeta a indústria, em especial a produção de bens duráveis, que estão mais de 40% abaixo do seu pico de produção", disse Macedo.