Por Camila Moreira e Rodrigo Viga Gaier
SÃO PAULO/RIO DE JANEIRO (Reuters) -A indústria brasileira voltou a cair em abril e iniciou o segundo trimestre com mais fraqueza do que o esperado diante de uma conjuntura econômica local desafiadora, que provocou perdas disseminadas e acende o sinal de alerta.
A produção da indústria do Brasil registrou em abril retração de 0,6% na comparação com março, marcando forte desaceleração ante a alta de 1,0% no mês anterior, quando interrompeu dois meses de perdas.
Em relação ao mesmo mês de 2022, a produção apresentou recuo de 2,7%, de acordo com os dados divulgados nesta sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Ambos os resultados foram mais fracos do que as expectativas em pesquisa da Reuters, de quedas de 0,2% na comparação mensal e de 1,1% na base anual.
"Em abril, observamos uma maior disseminação de quedas na produção industrial, alcançando 16 dos 25 ramos industriais investigados. Esse maior espalhamento de resultados negativos não era visto desde outubro de 2022", destacou o gerente da pesquisa, André Macedo.
"Isso acende o sinal de alerta para indústria e tem a ver com juros, crédito, inadimplência, endividamento, problemas no acesso a matérias primas e até um pouco de inflação", completou.
Com esses resultados, a indústria ainda está 2,0% abaixo do nível pré-pandemia, de fevereiro de 2020, e 18,5% aquém do ponto mais alto da série histórica, de maio de 2011.
"O patamar de agora é equivalente ao de janeiro de 2009, e isso mostra a perda de força ano após ano. Desde abril de 2021 a indústria só vem perdendo força e dá a dimensão do que o setor vem enfrentando", completou Macedo.
Analistas avaliam que a indústria brasileira deve mostrar um desempenho fraco ao longo de 2023, patinando diante de desafios como perspectiva de redução da demanda, juros elevados no Brasil com maior endividamento e esgotamento da retomada pós-pandemia.
No primeiro trimestre, o setor industrial recuou 0,1%, marcando o segundo trimestre seguido no vermelho, de acordo com os dados do PIB divulgados na quinta-feira.
No mês de abril, as principais influências negativas vieram de produtos alimentícios (-3,2%), máquinas e equipamentos (-9,9%) e veículos automotores, reboques e carrocerias (-4,6%).
Somente o setor de produtos alimentícios, que teve o maior impacto negativo no resultado do mês, registrou o quarto mês seguido de queda na produção, acumulando nesse período perda de 7,3%.
"Em abril houve grande influência negativa por parte da produção de açúcar. Isso teve relação direta com um maior volume de chuvas, especialmente na segunda quinzena do mês, nas regiões produtoras de cana-de-açúcar da região Centro-Sul do país", explicou Macedo.
Já a queda na fabricação de automóveis e caminhões, itens com maior peso na atividade, tem a ver, segundo Macedo, com os efeitos da taxa de juros em patamar elevado, o que encarece e dificulta a concessão do crédito.
Além disso, ele cita que permanece "a dificuldade na obtenção de componentes eletrônicos para o setor e, por conta disso, observa-se uma maior frequência de paralisações, reduções de jornadas de trabalho e férias coletivas".
Entre as categorias econômicas, os setores de bens de capital (-11,5%) e bens de consumo duráveis (-6,9%) mostraram taxas negativas. Já bens de consumo semi e não duráveis (1,1%) e bens intermediários (0,4%) tiveram crescimento em abril.
(Edição de Luana Maria Benedito e Eduardo Simões)