SÃO PAULO/BRASÍLIA (Reuters) - O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central cortou nesta quarta-feira, em decisão unânime, a taxa básica de juros (Selic) em 0,25 ponto percentual, para 13,75 por cento ao ano.
Foi o segundo corte seguido de 0,25 ponto percentual promovido pelo Copom.
Veja abaixo os comentários sobre a decisão:
GUSTAVO LOYOLA, EX-PRESIDENTE DO BANCO CENTRAL
"Era uma decisão esperada. O comunicado reforça o que foi mencionado. O BC foi bem previsível, sem nenhuma surpresa, e mostra uma coerência com a ata e com as últimas declarações.
A novidade que chamou a atenção (no comunicado desta quarta-feira) é para o aumento da volatilidade nos mercados, e diz que isso poderia representar o fim do interregno benigno.
Como a inflação está se comportando de maneira mais favorável e fraca, nós acreditamos que o BC possa acelerar o corte dos juros para 0,50 em janeiro, a menos que haja uma turbulência política ou externa. Se até lá, a votação da PEC do teto for concluída e o Donald Trump (presidente eleito dos EUA) vier numa versão mais light, acho que abre uma janela de oportunidade para acelerar o ritmo de queda."
TATIANA PINHEIRO, ECONOMISTA, BANCO SANTANDER
"É um comunicado um pouco mais criterioso com o processo de desinflação à frente. Eles mantêm, na parte de pontos a serem observados, a questão dos componentes do IPCA mais sensíveis à política monetária apresentarem um processo de desinflação mais adequado. E adicionaram a questão do cenário internacional e o efeito nas economias emergentes, como pode impactar nas moedas e no processo de desinflação atual no Brasil. Eles colocaram um fator a mais a ser observado, que é o cenário externo.
A gente mantém o call para 2017, quando esperamos que a Selic feche a 9,50. No ano que vem, é inevitável que a questão da ociosidade da economia não seja a principal variável na discussão de política monetária... Mas da forma como ele colocou, é um Banco Central que manteve a dependência na divulgação dos dados. Ele não sugere uma aceleração imediata, mesmo porque até a próxima decisão, no começo de janeiro, são poucos dados de atividade econômica que vão ser divulgados.
Foi um comunicado com muitas reticências... Não é um comunicado dovish."
CRISTIANO OLIVEIRA, ECONOMISTA-CHEFE, BANCO FIBRA
"Em minha opinião o Copom fez uma sinalização dovish... que parece indicar que, em sua próxima reunião, o cenário mais provável é de aumentar o ritmo de queda dos juros, por conta do fato de a atividade econômica estar mais deteriorada que do que se antecipava anteriormente. O hiato do produto está mais negativo do que se estimava e o estrago feito pela recessão sobre o balanço das famílias e das empresas é bem maior."
CARLOS KAWALL, ECONOMISTA-CHEFE, BANCO SAFRA
"Nós esperávamos um corte de 0,25 ponto percentual, esperávamos também que o BC fosse fazer uma mudança no comunicado, apontando sobretudo uma atividade mais fraca, coisa que fez, porque reconheceu que existe evidência disponível que a retomada da atividade econômica pode ser mais demorada e gradual.
Colocando tudo na balança, a maneira como retratou os progressos na queda da inflação, atividade mais fraca, fiscal e reformas caminhando bem, sugere que o espaço para subir o ritmo de corte para 0,50 ponto percentual em janeiro cresceu.
Lembrando que remeteu esse movimento de intensificação do corte ao cenário mais amplo de inflação e atividade, e não fazendo aquele recorte mais específico com inflação de serviços ele tirou essa amarra."
(Reportagem de Luiz Guilherme Gerbelli em São Paulo, Marcela Ayres e Sílvio Cascione, em Brasília)