Se não desacelerar, economia do Brasil corre risco de falta de mão de obra

Publicado 13.02.2025, 16:42
© Reuters.

Investing.com - A economia brasileira está crescendo acima ou por volta de 3% desde 2021, após o tombo de 3,3% em 2020 devido à pandemia. Se no primeiro momento crescer neste patamar ajudou a economia a sair da recessão, a manutenção desse patamar de crescimento pode trazer uma consequência grave.

“Se a economia não desacelerar, vai faltar mão de obra”, alerta a economista Margarida Gutierrez, professora titular da UFRJ, durante um painel nesta quinta-feira (13) no Smart Summit 2025, evento organizado pela InvestSmart XP e pela AZ Quest no Rio de Janeiro.

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O sinal de alerta foi baseado, segundo a professora, em dados extraídos do último Censo Demográfico e da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), ambos do IBGE. “O crescimento potencial da oferta de mão de obra gira em torno de 0,3% ao ano, isso equivale a 450 mil pessoas entrando no mercado de trabalho por ano”, aponta Gutierrez.

Por outro lado, foram criados 2,8 milhões de empregos somente em 2024, o que equivale a uma taxa de crescimento de 2,8% na demanda por trabalho na economia, de acordo com a avaliação de Gutierrez. “Se o PIB desacelerar para 2% em 2025, por exemplo, a demanda por trabalho deve subir 1,6%”, diz a economista, projetando que a demanda por trabalho cresceria para 1,7 milhão.

Gutierrez apresentou esses dados para abordar o conceito de elasticidade renda do emprego, que indica como o nível de emprego responde a mudanças na renda das pessoas e no crescimento da economia. “Agora, compare esse número de 1,7 milhões que as empresas vão demandar de trabalho com a oferta potencial de trabalho de 450 mil pessoas”, afirma a economista, que ainda vê espaço para mais um pouco de queda na taxa de desemprego.

“Como garantir uma taxa de crescimento do PIB de 3% ao ano com essa restrição que se tem hoje no mercado de trabalho?”, pergunta Gutierrez, que aponta a baixa produtividade da economia brasileira como responsável pela elasticidade renda do emprego ser elevada no país. “E aumentar a produtividade exige tempo”, diz ao abordar que a receita de superação desse obstáculo não é obtida por políticas econômicas de curto prazo.

Estimativa do PIB do Brasil em 2025

A projeção de Gutierrez é de que a economia brasileira desacelere em 2025, com um crescimento estimado entre 1,5% e 2%, devido a três fatores internos principais que não estão relacionados ao mercado de trabalho.

  1. Taxa Selic elevada, com expectativa de que chegue a 15% ao ano em 2025 e com uma taxa real – descontada a inflação – de por volta de 10%. Isso deve encarecer o crédito, o que deve desestimular os gastos das famílias e das decisões de investimentos das empresas.
  2. Aumento da inflação, com expectativa de que o IPCA fique acima do limite superior do regime de meta de inflação ao longo de 2025. Se o centro da meta é 3% e o limite é de que a inflação ao consumidor fique até 4,5%, as projeções dos economistas consultados pelo Boletim Focus é de que o IPCA encerre 2025 em 5,58%, de acordo com a divulgação do documento na última segunda-feira (10). Na prática, é uma redução do poder de compra dos assalariados.
  3. Condições macroeconômicas financeiras deterioradas, que equivale ao preço dos ativos desvalorizados. Isso significa dólar mais alto, taxa de juros futura mais elevada e o Ibovespa em tendência de queda. “Aí aparece o risco fiscal”, diz a professora, classificando o mix de política econômica como “nefasta”, pois aumenta concomitantemente os gastos públicos e a arrecadação de impostos, tornando-se a responsável pela expectativa deteriorada do mercado sobre o preço dos ativos brasileiros.

O retorno de Donald Trump à presidência dos EUA é um fator adicional para a desaceleração da economia brasileira em 2025. A política comercia de Trump criou condições adversas à economia mundial, especialmente aos países emergentes, elevando as incertezas, na avaliação da economista. “Uma guerra comercial provavelmente está em curso”, afirma Gutierrez em relação à adoção de tarifas sobre produtos importados pelo governo dos EUA.

“Condições de financiamento de liquidez para os países emergentes se deterioraram”, avalia a professora ao apontar a tendência de entrada menor de capital externo tanto para os mercados de capitais como para investimentos produtivos, além de menor fluxo de comércio internacional com o grande risco de desaceleração da economia global como efeito das tarifas americanas.

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