Selic: Copom interrompe sequência de alta e mantêm taxa de juros em 15%

Publicado 30.07.2025, 18:37
© Reuters

Investing.com - O Comitê de Política Monetária (Copom) manteve nesta quarta-feira (30) a taxa básica de juros, a Selic, em 15% ao ano, em linha com o esperado pelo mercado. É a primeira reunião que não há alta da taxa Selic desde setembro do ano passado. A decisão foi unânime.

A novidade no comunicado é o prosseguimento do diagnóstico da moderação da atividade econômica, mas alertando que "o mercado de trabalho ainda mostra dinamismo". "Tem uma nuance dovish na parte da atividade , mas que é corrigida em parte ao ressaltar que é esperado", avalia Natalie Victal, economista-chefe da SulAmérica Investimentos. Além disso, o colegiado inaugura a projeção da instituição para 2027, estimando uma inflação de 3,4% no primeiro trimestre de 2027 sob seu cenário de referência, ainda acima do centro da meta 3% ao ano. 

A leve melhora da expectativa da inflação para 2026, de 4,5% para 4,4% no Boletim Focus, não foi suficiente para que o Copom amenizasse o tom duro do comunicado, mantendo a desancoragem das expectativas de inflação por período mais prolongado como um dos três fatores de risco de alta de inflação. Em relação à projeção da taxa de câmbio no cenário de referência, houve uma pequena diminuição, de R$ 5,60 por dólar para R$ 5,55. 

Houve menção às tarifas americanas sobre as exportações brasileiras para a maior economia do mundo. "O Comitê tem acompanhado, com particular atenção, os anúncios referentes à imposição pelos EUA de tarifas comerciais ao Brasil, reforçando a postura de cautela em cenário de maior incerteza", aponta o documento, que reforça o acompanhamento de "como os desenvolvimentos da política fiscal impactam a política monetária e os ativos financeiros". "A condução da política fiscal será fundamental para a determinação do início dos cortes na Selic", destaca Rafaela Vitória, economista-chefe do Inter, alertando sobre os efeitos de um eventual aumento de gastos públicos em 2026.

O Copom observa, segundo o comunicado, que "o ambiente externo está mais adverso e incerto", citando as políticas comercial e fiscal dos EUA e seus efeitos. O colegiado sinaliza a manutenção da taxa Selic em 15% nas próximas reuniões "para examinar os impactos acumulados do ajuste já realizado, ainda por serem observados".

A possibilidade de retomada de alta da taxa de juros não foi descartada. "O Comitê enfatiza que seguirá vigilante, que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e que não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso julgue apropriado", completa o comunicado.

"Se eventualmente tiver uma pressão inflacionária, se haver entendimento de que faz sentido subir os juros, o colegiado deixa em aberto essa possibilidade", afirma Marcelo Bolzan, sócio da The Hill Capital, que não projeta este cenário.

"A manutenção se justifica principalmente pela inflação ainda muito alta e pela desancoragem das expectativas relacionada com a falta de credibilidade fiscal", avalia Matheus Spiess, analista da Empiricus, que aponta a manutenção da prescrição essencialmente contracionista da decisão. "O Banco Central está em uma situação em que ele não pode agir", prossegue Spiess, destacando a prudência do Copom para não gerar mais incerteza.

Confira abaixo a íntegra do comunicado:

O ambiente externo está mais adverso e incerto em função da conjuntura e da política econômica nos Estados Unidos, principalmente acerca de suas políticas comercial e fiscal e de seus respectivos efeitos. Consequentemente, o comportamento e a volatilidade de diferentes classes de ativos têm sido afetados, com reflexos nas condições financeiras globais. Tal cenário exige particular cautela por parte de países emergentes em ambiente marcado por tensão geopolítica.

Em relação ao cenário doméstico, o conjunto dos indicadores de atividade econômica tem apresentado, conforme esperado, certa moderação no crescimento, mas o mercado de trabalho ainda mostra dinamismo. Nas divulgações mais recentes, a inflação cheia e as medidas subjacentes mantiveram-se acima da meta para a inflação.

As expectativas de inflação para 2025 e 2026 apuradas pela pesquisa Focus permanecem em valores acima da meta, situando-se em 5,1% e 4,4%, respectivamente. A projeção de inflação do Copom para o primeiro trimestre de 2027, atual horizonte relevante de política monetária, situa-se em 3,4% no cenário de referência (Tabela 1).

Os riscos para a inflação, tanto de alta quanto de baixa, seguem mais elevados do que o usual. Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se (i) uma desancoragem das expectativas de inflação por período mais prolongado; (ii) uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais positivo; e (iii) uma conjunção de políticas econômicas externa e interna que tenham impacto inflacionário maior que o esperado, por exemplo, por meio de uma taxa de câmbio persistentemente mais depreciada. Entre os riscos de baixa, ressaltam-se (i) uma eventual desaceleração da atividade econômica doméstica mais acentuada do que a projetada, tendo impactos sobre o cenário de inflação; (ii) uma desaceleração global mais pronunciada decorrente do choque de comércio e de um cenário de maior incerteza; e (iii) uma redução nos preços das commodities com efeitos desinflacionários.

O Comitê tem acompanhado, com particular atenção, os anúncios referentes à imposição pelos EUA de tarifas comerciais ao Brasil, reforçando a postura de cautela em cenário de maior incerteza. Além disso, segue acompanhando como os desenvolvimentos da política fiscal impactam a política monetária e os ativos financeiros. O cenário segue sendo marcado por expectativas desancoradas, projeções de inflação elevadas, resiliência na atividade econômica e pressões no mercado de trabalho. Para assegurar a convergência da inflação à meta em ambiente de expectativas desancoradas, exige-se uma política monetária em patamar significativamente contracionista por período bastante prolongado.

O Copom decidiu manter a taxa básica de juros em 15,00% a.a., e entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.

O cenário atual, marcado por elevada incerteza, exige cautela na condução da política monetária. Em se confirmando o cenário esperado, o Comitê antecipa uma continuação na interrupção no ciclo de alta de juros para examinar os impactos acumulados do ajuste já realizado, ainda por serem observados, e então avaliar se o nível corrente da taxa de juros, considerando a sua manutenção por período bastante prolongado, é suficiente para assegurar a convergência da inflação à meta. O Comitê enfatiza que seguirá vigilante, que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e que não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso julgue apropriado.

Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Gabriel Muricca Galípolo (presidente), Ailton de Aquino Santos, Diogo Abry Guillen, Gilneu Francisco Astolfi Vivan, Izabela Moreira Correa, Nilton José Schneider David, Paulo Picchetti, Renato Dias de Brito Gomes e Rodrigo Alves Teixeira.

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