Por Leandro Manzoni
Investing.com - O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central iniciou nesta terça-feira a reunião de dois dias para a definição da nova taxa básica de juros. A decisão será anunciada amanhã, após o fechamento do mercado. A expectativa do mercado é de mais uma redução de 50 pontos-base, continuando o ciclo de cortes iniciado na última reunião realizada em 31 de julho. Desta forma, a Selic vai para 5,5% ao ano, o menor nível da história.
Os economistas consultados pelo Investing.com Brasil também apostam no mesmo tamanho de corte e compartilham prognóstico semelhante em relação ao cenário-base para a tomada de decisão do colegiado. O cenário-base deve prosseguir com a avaliação de que a atividade econômica continua com uma recuperação lenta e gradual, a inflação está comportada e a expectativa de inflação futura está ancorada, além do menor risco de frustração com avanço das reformas e ajustes econômicos no Congresso.
Apesar do aumento de risco externo com a escalada da guerra comercial entre EUA e China, a desaceleração econômica global provocada pela nova rodada de imposição mútua de tarifas entre as duas maiores economias globais deve favorecer a um ciclo de afrouxamento monetário conduzida pelos principais Bancos Centrais do mundo.
Focus traça cenário benigno
A avaliação dos economistas está em linha com os dados divulgados, na segunda-feira, do último Boletim Focus, publicação do Banco Central com as projeções de analistas de mercado das principais variáveis macroeconômicas. De acordo com o Focus, o crescimento para este ano continua abaixo de 1%, ficando em 0,87%, enquanto a projeção para o ano que vem sofreu uma nova redução de 2,07% para 2%.
O mesmo ocorreu com o índice oficial de inflação, o IPCA, que foi projetado a encerrar 2019 a 3,45% e 2020 a 3,80%, abaixo do centro da meta de, respectivamente, 4,25% e 4%, mas ainda dentro da margem de tolerância de 1,5 ponto percentual. As projeções de PIB e IPCA para 2019 e 2020 permitem a expectativa de uma Selic a 5% no encerramento deste e no próximo ano.
PIB surpreende, mas não afeta Copom
A surpresa dos números do PIB do 2º trimestre, que apresentou alta de 0,4% e veio acima do consenso de 0,2% do mercado segundo o IBGE, não deve levar o Copom a avaliar de que o estímulo iniciado na última reunião já seja suficiente para acelerar a atividade econômica. “A não ser que o Banco Central mude a comunicação”, afirma André Perfeito, economista-chefe da Necton Investimentos, que ressalta que o Banco Central prescreve uma taxa de juros estimulativa em atas, comunicados e documentos oficiais.
Comunicado deverá indicar novos cortes da Selic
A expectativa do mercado será em relação ao comunicado após a reunião de hoje e amanhã para observar se contemplará elementos que sinalizem a extensão do atual ciclo de flexibilização monetária. Na avaliação de Marcela Rocha, economista-chefe da Claritas Investimentos, o Copom pode dar uma pista até quando vai conduzir o processo de afrouxamento monetário e o tamanho de novos cortes, a partir da manutenção ou não do trecho “evolução do cenário permite ajuste adicional” presente no comunicado da reunião anterior. “Mas esse trecho deve ser retirado”, aposta Rocha, que prevê mais um corte adicional de 25 pontos-base na reunião de outubro, com a Selic encerrando 2019 a 5,25%.
“O Banco Central vai lidar com questões estruturais como a taxa de juros neutro, que já foi abordada em comunicados anteriores”, diz Rafael Cardoso, economista-chefe da Daycoval Asset Management. Cardoso aponta que a autoridade monetária vai avaliar se vai manter a conduta agressiva do atual ciclo, levando a Selic abaixo de 5%, ou se para neste patamar, a partir do prognóstico de que a política monetária está estimulativa em relação a taxa neutra de juros. A taxa de juros neutro aponta o nível de juros que acelera crescimento sem aumentar o nível de preços. Com os dados disponíveis até o momento, Cardoso aposta em mais um corte de 50 pontos-base em outubro.
“A queda da taxa de juros neutro nos últimos anos abriu espaço adicional para o Copom cortar a taxa Selic”, avalia José Pena, economista-chefe da Porto Seguro (SA:PSSA3) Investimentos. Pena aponta que o processo de redução da taxa neutra no mundo desde antes da crise de 2008 somado à tramitação e aprovação das reformas econômicas no Congresso permitiram a autoridade monetária iniciar a flexibilização monetária na última reunião. “Cabe mais estímulos, devido ao alto grau de ociosidade na economia”, continua Pena, que afirma que a aceleração do crescimento, mesmo na margem, não se traduz em risco inflacionário.
Federal Reserve no radar
Em relação à reunião de outubro, Pena condicionou uma nova redução de juros pelo Copom ao ambiente econômico do exterior, mais especificamente da decisão de política monetária do Federal Reserve – o Banco Central dos EUA -, que ocorre no mesmo dia. “A Selic chega a 5% ao ano se o Fed sinalizar uma queda adicional na reunião seguinte”, diz o economista da Porto Seguro (SA:PSSA3), que prevê mais uma queda de 25 pontos-base, para 1,75% ao ano, na taxa de juros da economia americana durante a entrevista ao Investing.com Brasil na última sexta-feira (13).
Entretanto, de acordo com o Monitor da Taxa de Juros do Fed do Investing.com, diminuíram as chances de o Fed reduzir em mais 25 pontos-base a taxa de juros da economia americana, que até semana passada estavam em 90%. Nesta terça-feira, a aposta de manutenção da taxa em 2% está em 53,8%, enquanto 46,2% prevê redução.