Por Felipe Machado
Investing.com - Se, por um lado, faltou novidade na decisão sobre a Selic anunciada nesta quarta-feira, por outro, o Copom parece ter dado recados firmes sobre o que pensa para o controle da inflação. O órgão do BC manteve a taxa básica de juros em 13,75%, como esperado. Chamou a atenção de especialistas ouvidos por Investing.com, no comunicado, o tom mais duro que o anterior e preocupações com a desancoragem de expectativas.
Para Álvaro Frasson, economista do BTG Pactual (BVMF:BPAC11), o lado mais "hawkish" pôde ser visto no trecho que fala sobre as metas no longo prazo. "Há um parágrafo dedicado à incerteza do arcabouço fiscal e das expectativas que estão se distanciando da meta em horizontes mais longos. E a comunicação trouxe isso em mais de uma vez, essa expectativa de desancoragem da inflação para 2025 e 2026, como vem mostrando o Focus", avalia.
O comitê trabalha com um cenário de referência em que o IPCA encerrará 2023 em 5,6%, ou seja, acima da margem máxima de tolerância pelo terceiro ano seguido. O centro da meta para o ano é de 3,25%, com margem de 1,5 ponto porcentual. Para 2024, a previsão é de 3,4% - ainda acima da meta de 3%, mas dentro da margem de 1,5 p.p.
Já o mercado financeiro espera inflação em 5,7% e 3,9% neste ano e no próximo, respectivamente, segundo o último Focus. Para 2025 a mediana das expectativas dos analistas de mercado é de 3,5% - novamente, acima da meta. E, em 2026, a aposta é em nova alta de 3,5%, número que vem sendo revisado para cima nas últimas semanas.
A menção no comunicado sobre o maior custo de desinflação frente à conjuntura fiscal, para Frasson, pode ser vista como uma manifestação do BC para reforçar a posição do atual sistemas de metas.
O chefe da mesa de operações da Ação Brasil Investimentos Idean Alves, que também percebeu tom mais "hawkish" no comunicado, acredita que o preço a se pagar por uma maior incerteza fiscal será justamente o quê o governo critica: a Selic muito alta. "Nesse contexto, o Copom terá mais dificuldade para conduzir a política monetária necessária para o cumprimento das metas, o que vai 'obrigar' a manter os juros elevados por mais tempo, e fazer novos ajustes caso seja necessária para o controle da inflação no médio prazo. Esse será o tom e norte da política monetária nas próximas reuniões."
No comunicado desta quarta, como nos anteriores, o Copom deixou em aberto a possibilidade de realizar novos aumentos de juros.
Ricardo Jorge, especialista em renda fixa e sócio da Quantzed, vê um comportamento de preços mais benéfico que o esperado anteriormente, e considera que o BC tem feito um excelente trabalho. Mas ele faz coro com os colegas em relação às preocupações com as dúvidas no horizonte. "A manutenção de juros já era precificada e não muda nada em relação a curva de juros, principalmente a mais curta. A volatilidade vai ficar por conta de todas essas incertezas em relação à política fiscal com impacto mais significativo nos vértices de médio e longo prazos", explica.