Por Jessica Bahia Melo
Investing.com - No mesmo dia em que o Federal Reserve anuncia os juros nos Estados Unidos, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central define os rumos da política monetária brasileira, na quarta-feira, 22. A expectativa de consenso é de que o órgão do Banco Central deve manter os juros em 13,75% nesta decisão mas, devido aos receios com a crise bancária após a quebra de dois bancos americanos e problemas no Credit Suisse (SIX:CSGN), aumenta a probabilidade de que a autoridade monetária indique cortes mais cedo do que era previsto.
Todos os economistas consultados projetam que os juros devem ser mantidos na próxima semana, mas divergem sobre quando a Selic pode começar a cair. Com inflação pressionada, mas riscos globais em alta, o BC estaria em uma encruzilhada. Na última divulgação, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicou que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) chegou a 5,60% em doze meses finalizados em fevereiro, ainda acima da meta de 3,25% estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), que tem 1,5 ponto porcentual de tolerância.
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Segundo Helena Veronese, economista-chefe na B.Side Investimentos, os juros só devem cair no último trimestre do ano, mas tudo vai depender da questão bancária e de um arcabouço fiscal mais crível. “A gente ainda espera estabilidade porque não temos arcabouço fiscal definido. Acho que os últimos acontecimentos aumentam a chance de o BC antecipar os cortes, o que já está precificado nas curvas”.
Antonio van Moorsel, estrategista-chefe da Acqua Vero, acredita em uma sinalização do Banco Central para iniciar o corte da taxa ao longo dos próximos meses, a depender dos desdobramentos macroeconômicos. “A última leitura do IPCA registrou aceleração da inflação e deterioração da composição mostrando uma alta de preços mais resiliente”.
Após esta reunião de dois dias e definição do Copom, Fabio Terra, professor de economia na Universidade Federal do ABC, avalia que os juros podem começar a cair no encontro seguinte.
“Acho que mudar o juro agora o BC não vai bancar. Na minha visão, já existem condições para isso, mas como a comunicação da última reunião foi muito enfática sobre não mexer nos juros agora, acho que o Copom somente vai inserir no balanço de riscos uma possibilidade de queda antes do que era previsto”, aponta.
O que pode estar no balanço de riscos
Os economistas acreditam que a reoneração parcial dos combustíveis deve ser citada no balanço de riscos, indicando que, apesar de resultar no aumento de preços, a mudança ameniza o risco fiscal, que vinha sendo colocado como entrave para a redução dos juros. Outra citação possível é a reabertura da economia chinesa, com chance de alta na inflação global.
Além disso, com a expectativa para apresentação do novo arcabouço fiscal, esse tema deve estar presente no comunicado com o anúncio da decisão. Marcela Rocha, economista-chefe da Principal Claritas, também espera estabilidade da taxa de juros, mas aponta que desde a última reunião, houve uma deterioração nas expectativas de inflação de médio e longo prazo, com altas resilientes e núcleos pressionados.
Por outro lado, há evidências de desaceleração da economia e as expectativas de condições de crédito mais restritivas para famílias e empresas, o que deve pressionar a atividade. “Junto a isso, há uma crise no cenário global, desde a quebra do Silicon Valley Bank na semana passada. Ainda é um evento recente, mas traz dúvidas para o Copom”, reforça.
“Além disso, o BC deve observar os eventos no cenário global para avaliar os desfechos para o Brasil”. Rocha contrapõe a visão dos economistas que acreditam que os próximos passos nas decisões podem mudar, e vê a autoridade monetária reforçando a importância da manutenção dos juros elevados por um período prolongado.