Investing.com – O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central realiza reunião de dois dias a partir da próxima terça-feira, 2, para definir a taxa de juros básica da economia brasileira. Os economistas consultados pelo Investing.com Brasil concordam com o consenso e esperam a manutenção da Selic no patamar atual, em 13,75%, na decisão que será anunciada na noite de quarta-feira, 03.
As últimas semanas têm sido marcadas por novas discordâncias a respeito do tema. De um lado, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, defendeu as decisões do Copom, alegando, entre outros problemas, que a situação fiscal do país não oferece uma perspectiva favorável para a redução dos juros no momento. Os últimos comunicados do Copom também demonstraram preocupação sobre a deterioração das contas públicas, o que pode ser amenizado pelo novo arcabouço fiscal, mas que ainda precisa ser apreciado no Congresso. Por outro lado, a ministra do Planejamento, Simone Tebet, argumentou que as decisões do Copom não podem ser consideradas apenas técnicas, porque interferem na política. Tebet se une a outros membros do governo que criticam a taxa de juros atual, incluindo o presidente.
Cenário inflacionário
O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) atingiu taxa anual de 4,65% no mês de março, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Enquanto isso, o IPCA-15 de abril, prévia da inflação oficial, chegou a 4,16% em doze meses, também de acordo com o Instituto.
No entanto, economistas consultados no último Boletim Focus do Banco Central do dia 20 de abril estimam IPCA em 6,04% ao final do ano, com Selic a 12,5%. A meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) é de 3,25% para este ano, com limite superior de 1,5 ponto percentual. Ou seja, a inflação ficaria acima da meta.
Copom deve manter juros
Ainda que a inflação esteja em desaceleração no indicador anual, os economistas não veem um afrouxamento da política monetária neste momento. Mauro Rochlin, coordenador do MBA de Gestão estratégica e econômica de negócios da Fundação Getulio Vargas (FGV), espera a manutenção de comportamento mais rigoroso do Copom. “Acredito que o BC esteja exagerando na dose e esteja convicto de que é a dose correta, ainda que implique em uma taxa real acima de 7%. Não vejo motivos objetivos para a manutenção desse patamar”, aponta o professor, que enxerga o ciclo de redução com início a partir de dois ou três meses.
Além disso, Rochlin acredita que as declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de outros dirigentes do governo são um pretexto para que a autoridade monetária não inicie o movimento de baixa. “É uma forma de reafirmar sua independência, indicando que não se deixa levar por pressões políticas que o governo vem exercendo. Na visão do BC, se ele diminuir a taxa, estaria se curvando a pressões políticas, o que o leva a um posicionamento mais severo do que o recomendado”, afirma o professor.
Caso a inflação de abril e maio apresente um recuo consistente, o BC poderia começar um movimento de queda. “Se os núcleos estiveram em queda e a inflação comportada, podemos considerar que talvez em junho esse ciclo de queda tenha início”.
No entanto, o professor pondera para o efeito das taxas negativas no segundo semestre do ano passado, o que pode levar a indicadores anuais de inflação maiores no final deste ano, na comparação com o patamar atual. Em 2022, os combustíveis apresentaram redução nos preços devido a políticas fiscais do governo, com diminuição dos impostos.
Everton Pinheiro de Souza Gonçalves, superintendente da Assessoria Econômica da Associação Brasileira de Bancos (ABBC), avalia que o processo de desinflação ainda está lento e o BC demonstra preocupação com as expectativas de longo prazo, o que pode resultar em alterações nos juros somente no segundo semestre.
“Os próprios números do Banco Central, que ele chama de taxa neutra, estariam em 4%. Em tese, haveria espaço para reduzir um pouco a Selic, mas acho que não haverá alteração, somente em um momento mais favorável”.
Segundo Pinheiro, a inflação vai ficar acima da meta neste ano. “Precisamos somente saber a distância”. Entre fatores de monitoramento, estão a desaceleração da atividade econômica, as restrições ao crédito, e a apreciação da taxa de câmbio, assim como os riscos de uma crise sistêmica no sistema financeiro internacional.
A piora nas expectativas de inflação é um dos fatores de cautela do Banco Central, destaca André Meirelles, diretor de alocação e distribuição da InvestSmart XP. A proposta do novo arcabouço fiscal ajuda a diminuir as incertezas a partir de agora, assim como as discussões a respeito de uma reforça tributária, aponta Meirelles, que enxerga juros em queda somente no segundo semestre.
“O discurso vai ser duro, mas eventuais sinalizações positivas nesses potenciais avanços que temos visto são extremamente prováveis. E um amigo de todo mundo neste momento é o preço do petróleo, que tem caído bastante. Além disso, o câmbio tem ajudado aqui no Brasil”.