Por Fernando Cardoso
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar tinha leve alta frente ao real nesta terça-feira, em linha com os mercados globais, com investidores demonstrando aversão ao risco após um alerta do presidente da Rússia, Vladimir Putin, aos Estados Unidos com uma doutrina nuclear atualizada.
Às 9h33, o dólar à vista subia 0,15%, a 5,7569 reais na venda. Na B3 (BVMF:B3SA3), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento tinha alta de 0,10%, a 5,761 reais na venda.
Putin aprovou nesta terça-feira alterações para a doutrina nuclear russa, flexibilizando as condições para um ataque nuclear do país ao permitir o uso de armas nucleares caso sofra uma ofensiva convencional de um inimigo apoiado por um Estado nuclear.
A decisão ocorreu dias depois de o governo do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, ter supostamente aprovado o uso de mísseis norte-americanos pela Ucrânia para ataques ao território russo.
A escalada das tensões do conflito entre os vizinhos europeus, que marca seu milésimo dia nesta terça, afetava o apetite por risco em mercados de câmbio e de ações em todo o mundo, impulsionando ativos considerados seguros, como o dólar.
O índice do dólar -- que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas -- subia 0,17%, a 106,400.
A fuga do risco afetava particularmente moedas emergentes, mais voláteis nesses cenários, com a moeda dos EUA avançando sobre o peso mexicano, o rand sul-africano e o peso chileno.
"A real está em desvantagem em relação às moedas portos-seguros até o momento, já que uma ilustração da aversão ao risco varre os mercados em meio a temores de uma possível escalada na guerra entre a Rússia e a Ucrânia. No entanto, até o momento, o movimento tem sido relativamente contido", disse Eduardo Moutinho, analista de mercados do Ebury Bank.
"É provável que continue assim enquanto os mercados considerarem a doutrina revisada de Putin apenas uma ameaça, e não o cruzamento de uma linha que dê início a um conflito mais amplo ou o uso de armas nucleares", completou.
Os mercados globais também continuam observando a busca do presidente eleito dos EUA, Donald Trump, por um secretário do Tesouro, conforme a disputa pelo cargo parece ter se ampliado após uma pausa no fim de semana.
A perspectiva da implementação de uma nova política econômica que inclua tarifas adicionais e cortes de impostos já vem valorizando o dólar, à medida que analistas consideram os projetos do republicano inflacionários.
No cenário doméstico, investidores continuam à espera do anúncio de medidas de contenção de gastos pelo governo. A demora na divulgação do pacote, após o governo ter prometido o anúncio para depois do segundo turno das eleições municipais, tem estressado o mercado e pressionado os ativos brasileiros.
Em entrevista à Times Brasil/CNBC divulgada no domingo, o ministro do Fazenda, Fernando Haddad, indicou que o pacote está fechado e deve ser anunciado em breve, com a pendência apenas da resposta do Ministério da Defesa.