Por Gabriela Baczynska e Noah Barkin e Richard Lough
BRUXELAS (Reuters) - Líderes europeus chegaram a um acordo sobre imigração nas primeiras horas desta sexta-feira, mas os compromissos feitos para fortalecer fronteiras foram vagos e a chanceler alemã, Angela Merkel, admitiu que ainda há divergências.
Após nove horas de debate, muitas vezes tenso, líderes da União Europeia concordaram em compartilhar de maneira voluntária os refugiados que chegarem ao bloco e em criar "centros controlados" dentro da UE para processar solicitações de asilo.
Eles também concordaram em dividir a responsabilidade por imigrantes resgatados no mar, uma demanda do novo primeiro-ministro da Itália, Giuseppe Conte.
"A Itália não está mais sozinha", disse o premiê.
Conte, cujo governo inclui o anti-establishment Movimento 5 Estrelas e o partido de extrema-direita Liga, vinha se recusando a endossar um texto da cúpula tratando de segurança e comércio até outros líderes prometerem ajudar a Itália a lidar com os imigrantes recém-chegados pelo Mediterrâneo.
O ministro do Interior italiano, Matteo Salvini, cuja Liga defendeu a rejeição de imigrantes da África e a expulsão daqueles que já estão na Itália, saudou o acordo, dizendo que o país obteve 70 por cento do que buscava.
"Vamos ver os compromissos concretos", disse Salvini em entrevista a uma rádio.
A cúpula destacou como o pico de imigração para a Europa em 2015 continua a abalar o bloco, apesar da queda na chegada de pessoas fugindo de conflitos e de crises econômicas no Oriente Médio e na África.
A reunião ocorreu em um clima de crise política, já que Merkel está intensamente pressionada na Alemanha a adotar uma postura mais firme em relação à imigração.
A chanceler alemã, que conversou com repórteres às 5h da manhã (horário local), procurou dar um tom positivo ao resultado da cúpula, dizendo que é um bom sinal os líderes terem conseguido acertar um texto comum.
Mas Merkel reconheceu que o bloco ainda tem "muito trabalho a fazer para equilibrar as visões diferentes".
O presidente da França, Emmanuel Macron, que criticou a Itália duramente por se recusar a permitir que um navio de resgate de imigrantes aportasse em seu território, disse que a cooperação europeia "saiu vencedora".
Em um comunicado final de linguagem rebuscada, concebido para satisfazer as opiniões divergentes, os líderes concordaram em restringir a movimentação de imigrantes dentro do bloco, mas deixaram claro que praticamente todas as suas promessas serão cumpridas "de forma voluntária" pelos países-membros.
Eles também concordaram em fortalecer sua fronteira externa e aumentar o financiamento para Turquia, Marrocos e outros países do norte da África evitarem a migração para a Europa.
Diplomatas descreveram uma cúpula tensa, durante a qual pequenos grupos de líderes se reuniram na tentativa desesperada de romper o impasse e evitar a humilhação de voltar para casa sem um acordo.
A União Social-Cristã da Baviera (CSU (SA:CARD3)), parceira de coalizão de Merkel que ameaçou fechar a fronteira da Baviera aos imigrantes --algo que poderia desencadear o colapso de seu governo de três meses e da zona de livre circulação da UE-- recebeu o acordo da cúpula com reservas.
Hans Michelbach, parlamentar da CSU, disse à emissora de televisão ARD que o pacto será "difícil de implantar" e que Merkel terá que discuti-lo com o líder de seu partido, Horst Seehofer, nos próximos dias.