Banco da Inglaterra avalia risco de choques no dólar para bancos diante de receios com Trump, dizem fontes

Publicado 17.07.2025, 14:21
Atualizado 17.07.2025, 14:43
© Reuters. Sede do Banco da Inglaterra em Londresn03/02/2025nREUTERS/Toby Melville

Por Stefania Spezzati e Jesús Aguado e Lawrence White

LONDRES (Reuters) - O Banco da Inglaterra (BoE) pediu a algumas instituições que testassem sua resiliência a potenciais choques no dólar, disseram três fontes, no mais recente sinal de como as políticas do governo Trump estão corroendo a confiança nos EUA como base da estabilidade financeira.

Como moeda líder no comércio global e nos fluxos de capital, o dólar norte-americano é a força vital das finanças globais. No entanto, a ruptura do presidente Donald Trump com a política de longa data dos EUA em áreas como livre comércio e defesa forçou os formuladores de políticas a considerar se o fornecimento emergencial de dólares em tempos de estresse financeiro ainda pode ser confiável.

Seguindo demandas semelhantes de supervisores europeus, o Banco da Inglaterra, que supervisiona os bancos no centro financeiro da City de Londres, solicitou que algumas instituições avaliem seus planos de financiamento em dólares e o grau em que dependem da moeda norte-americana, inclusive para necessidades de curto prazo, disse uma das pessoas à Reuters.

Em um caso, um banco global sediado no Reino Unido foi solicitado nas últimas semanas a realizar testes de estresse internamente, incluindo cenários em que o mercado de swap de dólar poderia secar completamente, disse outra fonte.

O braço de supervisão do BoE, a Autoridade de Regulação Prudencial (PRA, na sigla em inglês), fez as solicitações individualmente a alguns dos bancos, acrescentou a fonte.

Nenhum banco conseguiria suportar tal choque por mais de alguns dias, de acordo com uma das fontes, dada a predominância do dólar no sistema financeiro global e a dependência dos credores em relação a ele.

Caso os empréstimos em dólares se tornem mais difíceis de obter e mais caros para os bancos, isso poderá prejudicar sua capacidade de continuar atendendo à demanda por dinheiro. Em última análise, um banco que tenha dificuldades para obter acesso a dólares pode não conseguir atender às solicitações dos depositantes, minando a confiança e desencadeando novas saídas de recursos.

Embora esse cenário seja visto como extremo e improvável, os reguladores e os bancos não estão mais considerando o acesso ao dólar como garantido.

Os bancos globais têm exposição significativa ao dólar em seus balanços, o que os torna vulneráveis a potenciais choques de financiamento.

Embora o Federal Reserve dos EUA tenha dito que quer continuar a disponibilizar dólares no sistema financeiro, as mudanças de política de Trump levaram os aliados europeus a reexaminar sua dependência de Washington.

Enquanto isso, as críticas repetidas de Trump ao presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, e os relatos de que o chefe do banco central pode ser demitido estão levantando preocupações sobre a perda de independência do Fed e as repercussões sobre o dólar.

O mercado de swap multitrilionário é uma parte essencial do sistema financeiro internacional, usado por empresas, incluindo bancos, para trocar outras moedas por dólares e gerenciar necessidades de liquidez em suas redes globais.

De acordo com um estudo do Banco de Compensações Internacionais (BIS, na sigla em inglês), no final de 2024 o valor nocional dos derivativos cambiais em todo o mundo era de US$130 trilhões, 90% dos quais envolviam o dólar. Um dia típico registra quase US$4 trilhões em novos contratos de swap cambial, de acordo com o BIS.

Uma das fontes disse à Reuters que os líderes bancários estão particularmente preocupados se o Fed apoiaria um banco de médio porte de fora dos EUA, caso ele enfrente problemas de escassez de dólares. No passado, tal apoio era considerado garantido.

O Fed tem linhas de crédito com o Banco Central Europeu, o Banco da Inglaterra e outras grandes contrapartes para aliviar a escassez da moeda de reserva global e evitar que o estresse financeiro se espalhe para os Estados Unidos.

Mas autoridades de supervisão e bancos centrais europeus vêm questionando há meses se ainda podem contar com o Fed, como a Reuters já havia relatado anteriormente.

Desde então, os supervisores do BCE pediram a alguns credores da região que avaliassem sua necessidade de dólares em tempos de estresse, enquanto eles imaginam cenários nos quais não poderiam contar com o recurso ao Federal Reserve sob o governo Trump.

No início de junho, o Banco Nacional Suíço alertou que "alguns bancos também podem enfrentar o risco de escassez de liquidez em moedas estrangeiras" em seus balanços.

No passado, o BoE perguntou aos bancos como eles garantiriam o fornecimento de dólares em períodos de estresse, como em uma verificação sistêmica de liquidez das instituições em 2019, mas o foco renovado na moeda norte-americana mostrou como as ações de Trump reacenderam tais preocupações.

A Reuters não conseguiu estabelecer se os choques do dólar fariam parte do teste de estresse do setor que o BoE realiza a cada dois anos e cujos resultados são esperados para o final de 2025.

(Reportagem de Stefania Spezzati, Jesús Aguado e Lawrence White; reportagem adicional de Marc Jones)

Últimos comentários

Instale nossos aplicativos
Divulgação de riscos: Negociar instrumentos financeiros e/ou criptomoedas envolve riscos elevados, inclusive o risco de perder parte ou todo o valor do investimento, e pode não ser algo indicado e apropriado a todos os investidores. Os preços das criptomoedas são extremamente voláteis e podem ser afetados por fatores externos, como eventos financeiros, regulatórios ou políticos. Negociar com margem aumenta os riscos financeiros.
Antes de decidir operar e negociar instrumentos financeiros ou criptomoedas, você deve se informar completamente sobre os riscos e custos associados a operações e negociações nos mercados financeiros, considerar cuidadosamente seus objetivos de investimento, nível de experiência e apetite de risco; além disso, recomenda-se procurar orientação e conselhos profissionais quando necessário.
A Fusion Media gostaria de lembrar que os dados contidos nesse site não são necessariamente precisos ou atualizados em tempo real. Os dados e preços disponíveis no site não são necessariamente fornecidos por qualquer mercado ou bolsa de valores, mas sim por market makers e, por isso, os preços podem não ser exatos e podem diferir dos preços reais em qualquer mercado, o que significa que são inapropriados para fins de uso em negociações e operações financeiras. A Fusion Media e quaisquer outros colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo não são responsáveis por quaisquer perdas e danos financeiros ou em negociações sofridas como resultado da utilização das informações contidas nesse site.
É proibido utilizar, armazenar, reproduzir, exibir, modificar, transmitir ou distribuir os dados contidos nesse site sem permissão explícita prévia por escrito da Fusion Media e/ou de colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo. Todos os direitos de propriedade intelectual são reservados aos colaboradores/partes fornecedoras de conteúdo e/ou bolsas de valores que fornecem os dados contidos nesse site.
A Fusion Media pode ser compensada pelos anunciantes que aparecem no site com base na interação dos usuários do site com os anúncios publicitários ou entidades anunciantes.
A versão em inglês deste acordo é a versão principal, a qual prevalece sempre que houver alguma discrepância entre a versão em inglês e a versão em português.
© 2007-2025 - Fusion Media Limited. Todos os direitos reservados.