Calendário Econômico: Inflação no Brasil, EUA dá tom em semana de balanços na B3
Por Stefania Spezzati e Jesús Aguado e Lawrence White
LONDRES (Reuters) - O Banco da Inglaterra (BoE) pediu a algumas instituições que testassem sua resiliência a potenciais choques no dólar, disseram três fontes, no mais recente sinal de como as políticas do governo Trump estão corroendo a confiança nos EUA como base da estabilidade financeira.
Como moeda líder no comércio global e nos fluxos de capital, o dólar norte-americano é a força vital das finanças globais. No entanto, a ruptura do presidente Donald Trump com a política de longa data dos EUA em áreas como livre comércio e defesa forçou os formuladores de políticas a considerar se o fornecimento emergencial de dólares em tempos de estresse financeiro ainda pode ser confiável.
Seguindo demandas semelhantes de supervisores europeus, o Banco da Inglaterra, que supervisiona os bancos no centro financeiro da City de Londres, solicitou que algumas instituições avaliem seus planos de financiamento em dólares e o grau em que dependem da moeda norte-americana, inclusive para necessidades de curto prazo, disse uma das pessoas à Reuters.
Em um caso, um banco global sediado no Reino Unido foi solicitado nas últimas semanas a realizar testes de estresse internamente, incluindo cenários em que o mercado de swap de dólar poderia secar completamente, disse outra fonte.
O braço de supervisão do BoE, a Autoridade de Regulação Prudencial (PRA, na sigla em inglês), fez as solicitações individualmente a alguns dos bancos, acrescentou a fonte.
Nenhum banco conseguiria suportar tal choque por mais de alguns dias, de acordo com uma das fontes, dada a predominância do dólar no sistema financeiro global e a dependência dos credores em relação a ele.
Caso os empréstimos em dólares se tornem mais difíceis de obter e mais caros para os bancos, isso poderá prejudicar sua capacidade de continuar atendendo à demanda por dinheiro. Em última análise, um banco que tenha dificuldades para obter acesso a dólares pode não conseguir atender às solicitações dos depositantes, minando a confiança e desencadeando novas saídas de recursos.
Embora esse cenário seja visto como extremo e improvável, os reguladores e os bancos não estão mais considerando o acesso ao dólar como garantido.
Os bancos globais têm exposição significativa ao dólar em seus balanços, o que os torna vulneráveis a potenciais choques de financiamento.
Embora o Federal Reserve dos EUA tenha dito que quer continuar a disponibilizar dólares no sistema financeiro, as mudanças de política de Trump levaram os aliados europeus a reexaminar sua dependência de Washington.
Enquanto isso, as críticas repetidas de Trump ao presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, e os relatos de que o chefe do banco central pode ser demitido estão levantando preocupações sobre a perda de independência do Fed e as repercussões sobre o dólar.
O mercado de swap multitrilionário é uma parte essencial do sistema financeiro internacional, usado por empresas, incluindo bancos, para trocar outras moedas por dólares e gerenciar necessidades de liquidez em suas redes globais.
De acordo com um estudo do Banco de Compensações Internacionais (BIS, na sigla em inglês), no final de 2024 o valor nocional dos derivativos cambiais em todo o mundo era de US$130 trilhões, 90% dos quais envolviam o dólar. Um dia típico registra quase US$4 trilhões em novos contratos de swap cambial, de acordo com o BIS.
Uma das fontes disse à Reuters que os líderes bancários estão particularmente preocupados se o Fed apoiaria um banco de médio porte de fora dos EUA, caso ele enfrente problemas de escassez de dólares. No passado, tal apoio era considerado garantido.
O Fed tem linhas de crédito com o Banco Central Europeu, o Banco da Inglaterra e outras grandes contrapartes para aliviar a escassez da moeda de reserva global e evitar que o estresse financeiro se espalhe para os Estados Unidos.
Mas autoridades de supervisão e bancos centrais europeus vêm questionando há meses se ainda podem contar com o Fed, como a Reuters já havia relatado anteriormente.
Desde então, os supervisores do BCE pediram a alguns credores da região que avaliassem sua necessidade de dólares em tempos de estresse, enquanto eles imaginam cenários nos quais não poderiam contar com o recurso ao Federal Reserve sob o governo Trump.
No início de junho, o Banco Nacional Suíço alertou que "alguns bancos também podem enfrentar o risco de escassez de liquidez em moedas estrangeiras" em seus balanços.
No passado, o BoE perguntou aos bancos como eles garantiriam o fornecimento de dólares em períodos de estresse, como em uma verificação sistêmica de liquidez das instituições em 2019, mas o foco renovado na moeda norte-americana mostrou como as ações de Trump reacenderam tais preocupações.
A Reuters não conseguiu estabelecer se os choques do dólar fariam parte do teste de estresse do setor que o BoE realiza a cada dois anos e cujos resultados são esperados para o final de 2025.
(Reportagem de Stefania Spezzati, Jesús Aguado e Lawrence White; reportagem adicional de Marc Jones)