Por Balazs Koranyi
WASHINGTON (Reuters) - O Banco Central Europeu deve continuar cortando a taxa de juros em movimentos "comedidos" e, por enquanto, não se justifica falar em uma inflação abaixo da meta ou em um afrouxamento da política monetária para um território que estimule o crescimento, disse o membro do BCE Bostjan Vasle.
O BCE já reduziu os juros três vezes este ano e os investidores veem uma chance de 40% de que seu próximo movimento, em dezembro, seja um corte de 50 pontos-base, o dobro do tamanho das reduções anteriores.
Essas apostas foram impulsionadas nesta semana, quando algumas autoridades argumentaram que um corte de 50 pontos poderia estar sobre a mesa na reunião de dezembro e que os juros poderiam eventualmente cair para um nível que estimulasse o crescimento novamente.
Vasle, que é presidente do banco central da Eslovênia, rebateu seus colegas, argumentando que o BCE precisa agir passo a passo, dadas as incertezas persistentes sobre a inflação.
"Devemos continuar indo para a neutralidade em passos comedidos", disse Vasle à Reuters em uma entrevista à margem das reuniões do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial em Washington. "Não há urgência em discutir o fato de ficarmos abaixo da meta de inflação ou de irmos abaixo da taxa neutra. Essas não são questões atuais."
A inflação na zona do euro ficou abaixo da meta de 2% do BCE no mês passado e, embora uma aceleração esteja projetada para os últimos meses de 2024, algumas autoridades dizem que a alta dos preços deve voltar à meta no início de 2025, mais cedo do que o esperado, com a possibilidade de a inflação ficar abaixo da meta se tornando um risco real.
Ao defender a cautela, Vasle alertou que a inflação ainda não foi derrotada, mesmo que os dados recentes sejam animadores.
A inflação de serviços, o maior componente da cesta de consumo, permaneceu desconfortavelmente alta, e o crescimento dos salários, uma condição fundamental para controlar a alta dos preços, manteve-se alto, mesmo que houvesse sinais de que estivesse se moderando.
O próximo corte na taxa de depósito de 3,25% do BCE a levará para mais perto da chamada taxa neutra, em que o BCE não desacelera nem estimula o crescimento, e esse movimento pode ser uma ocasião para o banco revisar sua orientação de manter os juros "suficientemente restritivos".
A maioria dos economistas e autoridades calcula a taxa neutra entre 2% e 2,5%, mas várias estimativas colocam o topo da faixa em 3% e a base mais próxima de 1,75%.