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Por Lisandra Paraguassu e Lucinda Elliott
BRASÍLIA/MONTEVIDÉU (Reuters) - O Brasil está em um “diálogo construtivo” com o Canadá sobre a possível retomada das negociações do acordo de livre comércio entre o país da América do Norte e o Mercosul, disse a secretária de Comércio Exterior, Tatiana Prazeres, confirmando uma visita de autoridades canadenses no final deste mês, em que se espera o relançamento de negociações paradas desde 2021.
Fontes canadenses e brasileiras ouvidas pela Reuters confirmam que a visita do ministro canadense do Comércio Internacional, Maninder Sidhu, a Brasília, deve servir para o relançamento das negociações entre o bloco e o Canadá, em um momento em que o mundo corre para diversificar suas rotas comerciais e enfrentar o tarifaço norte-americano. A passagem por Brasília está marcada para o dia 25 deste mês.
Depois de demonstrar pouco interesse em renovar as negociações até o final de 2024, o Canadá sinalizou uma mudança de rumo desde a posse do primeiro-ministro Mark Carney, em março. Em encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no mês passado, Carney colocou o acordo como prioritário para os canadenses, como parte de um esforço mais amplo para diversificar o comércio fora dos Estados Unidos, em meio à incerteza causada pelas tarifas impostas pelo presidente norte-americano Donald Trump.
O Mercosul, que inclui Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai, com a Bolívia em processo de se tornar membro pleno, é um grande exportador de carne bovina, soja e minerais.
A visita de Sidhu “será uma oportunidade para avaliar as condições para um possível reinício das negociações”, disse Prazeres em resposta por e-mail à Reuters, acrescentando que nenhuma data foi ainda formalizada para o início das negociações.
No entanto, duas fontes diplomáticas ouvidas pela Reuters afirmam que o mais provável é que as primeiras rodadas aconteçam já no final de setembro ou início de outubro.
“Este acordo com o Canadá tem o potencial de expandir o acesso ao mercado, reduzir as barreiras comerciais e diversificar nossos destinos de exportação”, disse Prazeres.
A tentativa de um acordo com o Canadá começou a ser negociada em 2019, mas nada avançou depois de 2021. Agora o país parece entusiasmado com a retomada de um acordo.
Uma das fontes diplomáticas ouvidas pela Reuters disse que o acordo fechado entre Mercosul e União Europeia foi um passo decisivo para retomada do interesse do Canadá no acordo, somado à necessidade criada pelas dificuldades do comércio com os EUA.
“O acordo com a União Europeia no ano passado foi um sinal muito claro de que o Mercosul quer negociar”, disse essa fonte, sob condição de anonimato para poder discutir livremente o tema.
A fonte acrescenta que, antigamente, a imagem do Brasil -- que acaba sendo o líder nas negociações do bloco -- era de um país que não acreditava em negociações bilaterais. “O acordo com a UE e depois com a Efta (Associação Europeia de Livre Comércio) mostra que o Brasil está pronto para dialogar”, disse.
Do lado brasileiro, uma fonte que acompanha os movimentos afirma que, de fato, o Brasil está disposto a negociar quantos acordos aparecerem. “Esses acordos não vão trazer efeitos amanhã. Não é isso que vai resolver o problema criado com as tarifas norte-americanas. Mas vai preparar um futuro de uma diversificação maior, de menor dependência”, afirmou.
Os dois lados veem o acordo entre Mercosul e Canadá como um caminho sem grandes obstáculos, e apostam em uma negociação em torno de um ano. Maior economia do bloco, o Brasil não é um grande competidor do Canadá, disse uma das fontes, ressaltando que há mais pontos de complementaridade do que de competição.
“A carne pode ter alguma questão no mercado interno, mas isso se resolve dentro da negociação. As compras governamentais, que costumam ser um problema, os acordos com UE e Efta mostraram um caminho que pode ser seguido também nesta negociação”, disse uma das fontes canadenses.
Em 17 de julho, Sidhu disse que o Canadá estava buscando diversificar seus mercados de exportação e identificou o Mercosul como um parceiro em potencial. A medida ocorre no momento em que Ottawa busca reduzir sua exposição ao seu maior parceiro comercial, os EUA, após as medidas tarifárias de Trump.
O comércio bilateral entre os EUA e o Canadá totalizou US$ 727 bilhões no ano passado. Em contrapartida, o comércio com o Brasil -- a maior economia do Mercosul -- atingiu US$ 9,1 bilhões, com um superávit brasileiro de US$3,5 bilhões.
Prazeres disse que qualquer reinício formal das negociações, incluindo a definição de um cronograma para as conversas, dependeria da coordenação interna dentro do Mercosul.
“O Mercosul está disposto a avaliar os próximos passos”, disse.
O Ministério das Relações Exteriores do Uruguai disse à Reuters que “nenhuma nova medida” havia sido tomada em relação às negociações entre o Mercosul e o Canadá, mas confirmou que o acordo continua na agenda do bloco.
O Ministério das Relações Exteriores da Argentina recusou-se a comentar o assunto.
(Reportagem adicional de Maximilian Heath, em Buenos Aires)