Por Mohamed Ezz
CAIRO (Reuters) - O Egito desenvolveu planos para reduzir as importações de trigo e gastar menos com o pão subsidiado, adicionando milho ou sorgo como ingredientes, disseram à Reuters cinco fontes do setor informadas sobre os planos.
As propostas poderiam economizar milhões de dólares para o governo, mas enfrentam a oposição de padeiros e moageiros, que poderiam perder financeiramente e argumentam que a qualidade do pão seria prejudicada.
O Egito vem lutando contra o aumento da dívida, a escassez de moeda estrangeira e a inflação persistente. O governo afirma que seu programa de subsídio ao pão, que pretende eliminar gradualmente, é uma grande pressão sobre o orçamento.
De acordo com o plano mais recente do Ministério do Abastecimento, que foi apresentado aos padeiros e moageiros no final de setembro, a farinha de milho seria misturada com a farinha de trigo na proporção de 1:4, a partir de abril de 2025, economizando cerca de um milhão de toneladas métricas de trigo, disseram duas fontes do setor de panificação.
O Egito já lançou esquemas de substituição do trigo no passado, enquanto buscava maior autossuficiência. O milho foi usado por vários anos, há duas décadas, antes que a campanha de grupos do setor pressionasse o governo a abandoná-lo.
A introdução da farinha de milho como ingrediente poderia permitir uma economia significativa de moeda forte se o milho fosse cultivado localmente, mas não se o milho fosse importado, de acordo com duas das fontes.
O trigo russo, do qual o Egito depende muito, custa cerca de 220 dólares por tonelada nos preços atuais de mercado, enquanto o milho custa cerca de 200 dólares por tonelada, de acordo com dados da LSEG.
"Na melhor das hipóteses, o governo poderia economizar cerca de 35-41 dólares por tonelada", disse Hesham Soliman, um comerciante do Cairo, referindo-se à diferença dos dois preços.
A mudança também poderia ser impopular, produzindo pão com textura e cheiro diferentes, disseram Soliman e as cinco fontes do setor.
O Ministério do Abastecimento do Egito precisa de cerca de 8,25 milhões de toneladas de trigo por ano para disponibilizar pão subsidiado para mais de 70 milhões de egípcios, de acordo com o orçamento de 2024-25. Cerca de 3,5 milhões de toneladas são obtidas localmente e o restante é importado.
O comprador estatal de commodities do Egito, a Autoridade Geral para o Fornecimento de Commodities (GASC), disse à Reuters na sexta-feira que o sistema de pão subsidiado era "estável".
OFERTA RECORDE
O Egito é um dos maiores importadores de trigo do mundo, com o Estado gastando aproximadamente 104 bilhões de libras egípcias (2,1 bilhões de dólares) anualmente em importações, em grande parte da Rússia.
Em agosto, o presidente Abdel Fattah al-Sisi ordenou a maior licitação de trigo já realizada no país, em um esforço para manter os preços baixos após uma queda no índice de referência global, mas o comprador estatal de grãos adquiriu apenas 7% das 3,8 milhões de toneladas pretendidas.
O país explorou alternativas, incluindo empréstimos bancários para comprar trigo e acordos diretos com comerciantes.
Fontes disseram à Reuters na quarta-feira que o comprador estatal de grãos havia fechado um acordo para compras diretas de trigo da região do Mar Negro entre novembro e abril, com uma estimativa de uma quantidade total de 3,12 milhões de toneladas.
Em outra medida para economizar dinheiro, o governo aumentou o preço do pão subsidiado este ano pela primeira vez em décadas.
Além disso, o ministério do abastecimento propôs o uso de farinha de sorgo mais barata na fabricação de pães, uma ideia que não foi totalmente descartada, segundo três fontes do setor de panificação.
As padarias se opõem ao plano, argumentando que a farinha mais grossa, com mais farelo, exige tempos de cozimento mais longos e aumentaria os custos de mão de obra.
Os moinhos também se opõem porque são pagos com base na quantidade de trigo que processam, o que seria reduzido.
O Egito consome cerca de 15,3 milhões de toneladas de milho por ano, segundo dados do Departamento de Agricultura dos EUA, utilizando-o principalmente para ração animal. Embora as estimativas de colheita local tenham caído nos últimos dois anos para cerca de 7 milhões de toneladas, uma queda que os especialistas atribuem às mudanças climáticas e às pragas, o governo anunciou planos para expandir o cultivo de milho em projetos estatais de recuperação do deserto.
O Egito cultiva sorgo em quantidades modestas, comprando cerca de 1 milhão de dólares em sementes por ano, principalmente da Índia. O país também importa 1 milhão de dólares em grãos, de acordo com o Banco de Dados Comtrade da ONU.