Por Anmol Choubey e Ruma Paul
(Reuters) - As fábricas de vestuário em Bangladesh, um dos maiores centros de produção de roupas do mundo, estão lutando para concluir os pedidos dentro do prazo, já que as enchentes interrompem o fornecimento de algodão, exacerbando gargalos causados pela recente turbulência política.
Bangladesh é um dos principais importadores globais de algodão --e um dos maiores compradores do produto do Brasil -- devido ao tamanho de sua indústria têxtil e de vestuário, mas as inundações devastadoras significam que poucos caminhões e trens conseguiram levar suprimentos para as fábricas do porto de Chittagong na última semana, disseram autoridades e analistas do setor.
A interrupção, além da agitação e dos protestos que levaram ao fechamento de fábricas no início do mês, fez com que a produção de vestuário caísse 50%, disse Mohammad Hatem, presidente da Associação de Fabricantes e Exportadores de Malhas de Bangladesh.
"O setor está agora sob imensa pressão para cumprir os prazos e, sem uma solução rápida, a cadeia de suprimentos pode se deteriorar ainda mais", disse Hatem.
Bangladesh foi classificado como o terceiro maior exportador de roupas do mundo no ano passado, depois da China e da União Europeia, de acordo com a Organização Mundial do Comércio, exportando 38,4 bilhões de dólares em roupas em 2023.
Na fábrica de roupas que dirige na capital, Daca, Rubana Huq está contabilizando o custo da perda de produção.
"Mesmo para uma empresa de porte moderado como a nossa, que produz 50.000 camisas por dia e, se o preço de uma única camisa for 5 dólares, houve uma perda de produção de 250.000 dólares", disse Huq, ex-presidente da Associação de Fabricantes e Exportadores de Vestuário de Bangladesh (BGMEA).
Ela disse que algumas fábricas de vestuário estavam retomando a produção lentamente, mas estimou que a recuperação completa "levaria pelo menos seis meses", alertando que os fabricantes de Bangladesh poderiam perder de 10% a 15% dos negócios para outros países.
O setor de roupas prontas de Bangladesh, que fornece muitas das marcas de moda mais conhecidas do mundo, é responsável por mais de 80% das receitas totais de exportação do país.
O Departamento de Meteorologia de Bangladesh disse que as condições de inundação poderiam persistir se as chuvas de monções continuassem, já que os níveis de água estavam recuando muito lentamente.
Alguns carregamentos de algodão poderiam ser desviados para a Índia, Paquistão e Vietnã, segundo analistas de commodities.
"Já estamos ouvindo e vendo algum algodão para pronta entrega desejado pelo Paquistão e pelo Vietnã", disse Louis Barbera, sócio e analista da VLM Commodities, com sede em Nova Jersey.
Novos pedidos transferidos de Bangladesh também poderiam ser acomodados no sul da Índia, disse Atul Ganatra, presidente da Cotton Association of India.
Mesmo antes das enchentes e da agitação política, o setor de vestuário de Bangladesh estava enfrentando falta de energia, que continua sendo um problema, disse Fazlee Shamim Ehsan, vice-presidente da associação de fabricantes e exportadores de malhas do país.
"A falta de energia continua a prejudicar nossas operações", disse ele.
(Reportagem de Anmol Choubey e Swati Verma em Bengaluru, Ruma Paul em Dhaka e Krishn Kaushik em Nova Délhi)