SÃO PAULO (Reuters) - A agência de classificação de risco Fitch Ratings reafirmou nesta terça-feira a nota de crédito soberano do Brasil em "BB-", com perspectiva estável, citando como obstáculos fraqueza estrutural das finanças públicas e alto endividamento do governo, em meio à necessidade de avançar com a reforma da Previdência.
Com essa nota, o país está três degraus abaixo da faixa chamada de grau de investimento, considerada de baixo risco.
A agência cita ainda perspectivas fracas de crescimento, ambiente político difícil e questões relacionadas a corrupção como variáveis que afetam a tomada de decisões econômicas e o progresso das reformas.
"Desafios fiscais continuam a pesar com força sobre o perfil de crédito e tornam o Brasil vulnerável a choques. Um completo fracasso em avançar com a reforma não pode ser descartado", afirmou a agência em nota assinada pela diretora sênior do Grupo Soberano da Fitch para América Latina, Shelly Shetty.
"A Fitch acredita que a aprovação da reforma da Previdência é necessária, mas não suficiente para melhorar de forma significativa a perspectiva de curto prazo para as finanças públicas e para cumprir o teto de gastos nos próximos anos", completou.
Para a Fitch, o escopo e momento das reformas são incertos e a fragmentação no Congresso é um grande obstáculo. A agência alerta que o governo do presidente Jair Bolsonaro ainda não conseguiu estabelecer uma coalizão efetiva para sua agenda de reformas.
A articulação política em torno das reformas é um ponto de alerta para os mercados. O relator da reforma da Previdência na comissão especial da Câmara dos Deputados, Samuel Moreira (PSDB-SP), afirmou que está preparando o parecer em cima do projeto enviado pelo governo e que concluirá o texto até 15 de junho.
"Embora a Fitch acredite que as chances de a reforma previdenciária serem aprovadas parecem mais altas do que antes das eleições... adiamentos e diluição da reforma são prováveis", apontou a agência.
Depois de dizer que a classe política é o grande problema que impede o Brasil de dar certo, Bolsonaro mudou o tom e disse que valoriza o Parlamento e que os deputados e senadores terão a palavra final sobre o texto da reforma das aposentadorias.
A Fitch revisou para baixo a projeção de crescimento econômico do Brasil a 1,5% em 2019 e 2,5% em 2020, de respectivamente 2,1% e 2,7% no cenário anterior, citando ainda impacto da crise argentina e o rompimento de barragem da Vale (SA:VALE3) em Brumadinho (MG), no início deste ano.
A expectativa da Fitch para a economia brasileira neste ano ainda é mais otimista que a de economistas consultados em pesquisa Focus do Banco Central, de um crescimento de 1,24%.