Setor de petróleo defende que é parte da solução contra aquecimento global

Publicado 01.10.2024, 15:40
Atualizado 01.10.2024, 15:45
© Reuters. Plataforma da Petrobrasn5/09/2018nREUTERS/Pilar Olivares
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Por Marta Nogueira

RIO DE JANEIRO (Reuters) - Durante o maior congresso de petróleo da América Latina realizado no Brasil na semana passada, no Rio de Janeiro, líderes globais defenderam à exaustão que são parte da solução nos planos contra o aquecimento global e não do problema, na medida em que parte dos lucros petrolíferos poderiam ser destinados a investimentos em energias renováveis.

Em meio a um calor escaldante e atípico para a época, e também diante das notícias sobre queimadas e eventos climáticos extremos país afora, as petroleiras não hesitaram em se comprometer com a descarbonização, enquanto defendiam a longevidade de sua indústria.

Na 21ª edição do congresso de óleo e gás ROG.e, diversos palestrantes afirmaram que o Brasil, que tem uma matriz de energia mais limpa do que outros países, pode ser um exemplo de como a indústria de petróleo e o setor de renováveis podem conviver nessa transição energética.

Nesse cenário, no Brasil as companhias querem continuar avançando para explorar novas fronteiras de óleo e gás, em busca de novas reservas que garantam o crescimento da produção por mais tempo. Atualmente, o pico da produção no Brasil poderá ser alcançado por volta de 2030.

"O setor de petróleo é muito lucrativo, mas tem essa questão de imagem. O setor de renováveis tem uma imagem ótima, mas é bem pouco lucrativo. Aí a gente está vivendo esse dilema, que vai ficar por muito tempo ainda, mas não há a menor hipótese de que o petróleo semana que vem acabe", disse o presidente da Associação Brasileira das Empresas de Bens e Serviços de Petróleo (ABESPetro), Telmo Ghiorzi.

"As petroleiras e as empresas da cadeia produtiva, todas elas estão fazendo alguma coisa na direção da transição energética", frisou Ghiorzi, citando iniciativas como investimentos em eólicas offshore, captura e armazenamento de CO2, eletrificação de plataformas de petróleo, dentre outras.

Segundo ele, com isso deve haver uma "diversificação" das fontes energéticas na matriz global.

"O mundo descarbonizado não será o mundo sem hidrocarbonetos", disse o presidente do Instituto Brasileiro do Petróleo (IBP), Roberto Ardenghy, à Reuters, durante o evento organizado pelo IBP.

Ele citou que o petróleo e o gás têm uma série de usos que não a geração de energia.

A matriz energética brasileira é 47,4% renovável, enquanto o mundo só alcançou 14,1%, segundo dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) citados no evento, que apontam também que a matriz elétrica renovável do Brasil está perto de 90%, enquanto no mundo está em torno de 25%.

Nesse contexto, as emissões de CO2 do Brasil no setor de energia representam apenas cerca de 1% das emissões globais, segundo dados da Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês).

"Entendemos a importância dessa energia (fóssil) para a economia, o país. Precisamos e não há contradição em explorar novas áreas (de óleo e gás)", disse a presidente da Petrobras (BVMF:PETR4), Magda Chambriard a executiva.

Segundo a executiva, o ritmo de exploração que a empresa busca "não é conflitante com a transição energética".

"É também mais uma fonte para garantir emprego e renda para o Brasil."

Agentes do setor também ressaltaram que o Brasil se destaca por ter uma baixa pegada de carbono na indústria de petróleo, diante da alta produtividade nos campos do pré-sal.

Além disso, o país usa amplamente biocombustíveis. O Brasil tem disponível os carros flex, que rodam 100% com etanol hidratado, enquanto a gasolina comercializada nos postos possui uma mistura de 27% de etanol anidro e o diesel é vendido com 14% de biodiesel, percentuais que podem aumentar com uma legislação recém-aprovada no Congresso Nacional.

OPEP EM DESTAQUE

O evento bianual ROG.e, antes conhecido como Rio Oil&Gas, mudou o nome neste ano para encaixar um "e" minúsculo para representar outras energias, mas uma das grandes novidades que a principal sala do evento trouxe foi a presença do secretário-geral da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), Haitham Al Ghais.

Ghais escolheu o Brasil para publicar seu relatório anual World Oil Outlook 2024, que elevou suas previsões para a demanda mundial de petróleo para o médio e longo prazos e previu um aumento mais lento da mudança para veículos elétricos e combustíveis mais limpos.

Enquanto Ghais destacava a importância do Brasil para o mundo energético, também citando índices de emissões e da matriz energética, ativistas do Greenpeace surgiram em meio à plateia e uma mulher levantou faixas que diziam "Who Pays?", "Planejando catástrofe ambiental" e "Transição energética justa".

A última mensagem provocou comentários dentre os participantes do evento que disseram ser exatamente o que queriam, depois que a manifestação foi contida rapidamente por seguranças e a apresentação concluída.

Com uma matriz energética mais limpa do que outros países, as emissões no Brasil estão mais ligadas ao uso da terra, queimadas e desmatamentos, e menos ao consumo de combustíveis fósseis, que predominam nas emissões das nações mais ricas.

O coordenador de Florestas do Greenpeace Brasil, Romulo Batista, disse em nota que a manifestação buscou chamar a atenção para os impactos da crise climática, que segundo ele "é impulsionada, principalmente, pelo uso de combustíveis fósseis no mundo".

"Enquanto o Brasil enfrenta eventos climáticos extremos, como a maior seca dos últimos 70 anos, as empresas presentes neste evento seguem lucrando com o sofrimento das pessoas. É hora de responsabilizar as exploradoras de gás e petróleo."

Mas a indústria defende que não há como se abdicar de uma fonte de energia abundante no Brasil como o petróleo, enquanto há pessoas na pobreza, que sequer têm acesso à eletricidade ou que queimam lenha para cozinhar.

"A soberania energética permitirá que o Brasil continue a inclusão energética, o combate à fome, a erradicação da miséria e os investimentos em educação, saúde e infraestrutura", afirmou o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira. "Não nos renderemos à hipocrisia. Enquanto houver demanda pelo gás e pelo petróleo, o Brasil seguirá nesse mercado."

O termo transição também passou a ser questionado no evento, uma vez que ele dá uma ideia errada do processo, na avaliação dos participantes. Expressões como evolução energética e transformação energética começaram a ser citadas.

"No fundo, eu acho que o que a gente está fazendo é se transformando na forma como a gente usa nossos recursos para conseguir gerar valor agregado ao consumidor final, através de energia competitiva e de produtos industriais de baixo carbono", disse o presidente da consultoria PSR, Luiz Barroso.

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5/09/2018
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O especialista destacou que o Brasil consegue produzir energia renovável a um custo muito menor do que em outras regiões, como na Europa ou Estados Unidos. Entretanto, pontuou que a energia fóssil tem ainda um papel importante de trazer confiabilidade, diante da intermitência da renovável, enquanto fontes de armazenamento são desenvolvidas.

Outro ponto, segundo Barroso, é que as margens no setor de óleo e gás são bem mais altas do que as margens da indústria de renováveis. Então, segundo ele, a pergunta que se faz é até que ponto o investimento ocorre para gerar rentabilidade ou se apenas para dizer que está fazendo.

(Por Marta Nogueira)

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