Por Eliana Raszewski
BUENOS AIRES (Reuters) - Enquanto a Argentina se prepara para uma eleição presidencial acirrada, o velho ditado novamente soa verdadeiro: "é a economia, estúpido". A inflação está em 138%, as reservas líquidas de moeda estrangeira estão negativas, os poupadores estão abandonando o peso e uma recessão está se aproximando.
O país vai às urnas no domingo em uma disputa tripla entre o candidato ultraliberal Javier Milei, o ministro da Economia, Sergio Massa, e a conservadora Patricia Bullrich, com os eleitores irritados em meio a uma dura crise de custo de vida.
"É uma economia que está em tratamento intensivo", disse Miguel Kiguel, ex-subsecretário de Finanças do Ministério da Economia na década de 1990, à Reuters. "O principal desafio é tirar a Argentina da estagnação, mas para isso é preciso reduzir a inflação."
INFLAÇÃO
A taxa de inflação da Argentina atingiu 138% ao ano em setembro e ainda está aumentando, com os preços subindo acima de 12% nos dois meses mais recentes. O J.P. Morgan estima que a inflação terminará 2023 em 210%, enquanto uma pesquisa do banco central com analistas prevê 180%.
Fernando Morra, ex-vice-ministro da Economia do atual governo, disse que o risco é de que os preços possam acelerar ainda mais, levando a um surto semelhante de hiperinflação que o país teve na década de 1980, quando os preços mudavam diariamente.
"Esse tipo de inflação é instável e torna a estabilização muito mais urgente. É muito difícil controlar a inflação nesses níveis", disse ele.
Em uma tentativa de conter a inflação, o banco central da Argentina aumentou a taxa de juros de referência para 133%, o que incentiva a poupança em pesos, mas prejudica o acesso ao crédito e o crescimento econômico.
CONTROLES DO PESO
A moeda da Argentina, o peso, tem recebido controles de capital desde um crash do mercado em 2019, o que levou a uma variedade difícil de taxas de câmbio, onde os dólares são negociados por mais de duas vezes o preço do nível oficial de 350 pesos por dólar.
Dois dos três principais candidatos à Presidência, Milei e Bullrich, prometeram desfazer rapidamente os controles de capital se forem eleitos. Os analistas esperam que isso leve a uma forte desvalorização da taxa de câmbio oficial.
Milei quer abandonar completamente o peso e dolarizar a economia, enquanto Bullrich diz que é a favor de um sistema duplo de peso-dólar.
RESERVAS DO BANCO CENTRAL
As reservas de moeda estrangeira do banco central da Argentina estão próximas de seu nível mais baixo desde 2016 e, em termos líquidos, são amplamente vistas pelos analistas como estando em território negativo depois que uma grande seca atingiu as exportações das principais culturas comerciais de soja, milho e trigo.
As baixas reservas ameaçam a capacidade do país de pagar as dívidas com o principal credor, o Fundo Monetário Internacional (FMI), e com os detentores de títulos privados, além de cobrir as principais importações.
RECESSÃO
A terceira maior economia da América Latina está a caminho de encolher 2,8% neste ano, de acordo com a última pesquisa de analistas do banco central, em parte devido ao impacto da recente seca que cortou pela metade as safras de milho e soja.
Junto da inflação de três dígitos, é provável que isso aumente os níveis de pobreza, com 40% das pessoas já vivendo abaixo da linha da pobreza, à medida que os salários e as economias são corroídos.
O LADO BOM DA HISTÓRIA?
A Argentina, rica em grãos, gás de xisto e lítio, pode ter um impulso no próximo ano, já que chuvas melhores ajudam a colheita, um novo gasoduto reduz a dependência de importações caras e a demanda aumenta para o lítio necessário para baterias de veículos elétricos.
"Há três ativos que a Argentina possui e, se pudermos valorizá-los nos próximos anos, eles nos darão uma plataforma de desenvolvimento que pode mudar a face da situação econômica que temos neste momento", disse Morra.