Por Luana Maria Benedito
(Reuters) - O diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, disse nesta segunda-feira que a autoridade monetária observará os efeitos do conflito entre Israel e o Hamas no preço dos ativos e na inflação, mas que, por enquanto, a autarquia irá manter o mesmo posicionamento da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom).
"A gente segue com a comunicação que a gente tinha até agora; a gente entende que o passo de corte de 0,50 ponto percentual por enquanto tem sido, e estamos analisando permanecer com ele, (um ritmo que) permite ajustar o nível de contração da política monetária e ganhar tempo para observar as reações que a economia vai ter em função desses cortes", disse Galípolo em live semanal do BC.
O diretor ressaltou que o Copom está "absolutamente dependente" dos dados, que serão analisados reunião a reunião.
Ele disse ainda que a "alta barra" para mudanças no ritmo de ajuste de juros, mencionada anteriormente pelo presidente do BC, Roberto Campos Neto, é válida para ambos os lados, ou seja, tanto para um aumento quanto para uma redução. Nas duas últimas reuniões de política monetária, o BC promoveu cortes de 0,5 ponto percentual na taxa Selic, atualmente em 12,75%.
Seus comentários vieram em meio a grandes preocupações do mercado internacional com os desdobramento econômico da recente escalada na tensão entre Israel e o grupo palestino Hamas, uma vez que o salto nos preços do petróleo desencadeado pelo conflito pode pressionar a inflação em vários países, atrapalhando a batalha dos bancos centrais para esfriar a alta dos preços.
Segundo Galípolo, "as expectativas em relação ao preços do petróleo estão muito associadas para o mercado ao nível de envolvimento do Irã no conflito", de forma que ainda é cedo para avaliar se de fato haverá efeito inflacionário relevante.
Ainda assim, o diretor afirmou que, diante do conflito no Oriente Médio, o comportamento do petróleo e as oscilações do dólar são variáveis que "passam a ganhar ainda mais atenção para a gente avaliar quais são os impactos na inflação".
Falando sobre a cena doméstica, Galípolo avaliou que a saúde fiscal do Brasil segue sendo uma das principais incertezas dos investidores, citando temores de que o déficit primário de 2024 seja maior do que 0,8% do PIB e dúvidas do mercado sobre o funcionamento do arcabouço no caso de falha do governo em respeitar as metas fiscais.
Mesmo assim, "a equipe econômica vem reafirmando o compromisso com a percepção do défict (primário) zero (no ano que vem) e o próprio Banco Central colocou em seu comunicado a relevância da manutenção das metas (fiscais) estabelecidas para as expectativas", ponderou Galípolo.
Ele defendeu ainda a valorização da carreira de servidores do BC, ecoando comentários de vários de seus colegas na diretoria da autarquia nas últimas semanas, feitos em meio a uma mobilização dos funcionários do banco, que reivindicam a criação de um bônus de produtividade e aperfeiçoamentos na carreira.
De acordo com Galípolo, "com o tempo, vai ficar cada vez mais visível que esta qualidade técnica, todo o corpo técnico dos colaboradores do Banco Central, são o que afianciam e garantem a estabilidade da gestão da política monetária", de forma que a carreira deve ser reconhecida e recompensada.