Por Bernardo Caram
BRASÍLIA (Reuters) - O Banco Central melhorou sua estimativa de crescimento para a economia brasileira em 2023 a 2,9%, de 2,0% estimados em junho, mostrou o Relatório Trimestral de Inflação divulgado nesta quinta-feira, que também apresentou projeção de alta de 1,8% para o Produto Interno Bruto (PIB) de 2024.
A nova previsão é menos otimista que as projeções do governo Luiz Inácio Lula da Silva, com o Ministério da Fazenda esperando um crescimento de 3,2% neste ano e de 2,3% no ano que vem. A pesquisa Focus mais recente, por sua vez, apontou que o mercado prevê uma expansão do PIB de 2,92% em 2023 e 1,50% em 2024.
No documento, o BC destacou que a revisão de sua estimativa de crescimento para este ano ocorreu principalmente pela alta observada no segundo trimestre e, em menor medida, previsões ligeiramente melhores para indústria, serviços e consumo das famílias no segundo semestre.
No entanto, a avaliação da autoridade monetária é que a surpresa positiva na primeira metade do ano refletiu fatores temporários, com previsão de um arrefecimento à frente.
"O forte crescimento no primeiro semestre em parte reflete fatores transitórios e que permanece a perspectiva de que a atividade cresça em ritmo menor nos próximos trimestres e ao longo de 2024", disse.
De acordo com o BC, o desempenho melhor que o esperado da atividade no segundo trimestre também foi acompanhado de um mercado de trabalho que continua em expansão, apesar de a variação real dos rendimentos dos trabalhadores ter registrado pequena variação no trimestre encerrado em julho, após mais de um ano de trajetória de alta.
INFLAÇÃO
Em relação ao nível de preços, a autoridade monetária afirmou que o IPCA aumentou nos últimos três meses, mas dentro do esperado.
"Os núcleos de inflação recuaram, indicando que está em curso processo de desinflação, mas permanecem acima da meta", afirmou.
O relatório apontou que a possibilidade de a inflação superar o teto da meta neste ano é de 67%, contra 61% antes. Para 2024, a chance de estouro do limite superior passou de 21% para 24%.
A projeção do BC aponta para uma alta na inflação de 5,0% neste ano, 3,5% no ano que vem e de 3,1% em 2025, passando agora a apresentar previsão para 2026, também estimada em 3,1%.
A meta de inflação é de 3,25% para 2023 e de 3,00% para 2024, 2025 e 2026, com margem de tolerância de 1,5 ponto.
A ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) da semana passada mencionou que embora haja uma evolução benigna dos preços correntes, as expectativas de inflação seguem acima da meta e são fator de preocupação.
O BC cortou a Selic duas vezes em 0,50 ponto percentual nos últimos meses, com sinalização de mais reduções da mesma magnitude até o final do ano. A taxa básica de juros está em 12,75% atualmente.
PREÇO DE ALIMENTOS
No relatório deste trimestre, o BC se dedicou a analisar o comportamento da inflação de alimentos, afirmando que entre os fatores que explicam a queda de preços nos últimos meses estão o recuo da cotação de parte importante das commodities, a apreciação do real e a oferta elevada de boi gordo no país.
A autoridade monetária afirmou que seu cenário de referência incorpora para os próximos meses uma reversão dessa tendência de queda nos preços, principalmente por impactos "de grandeza limitada" derivados do El Niño.
"Existe incerteza relevante em relação à magnitude e ao momento desses impactos, que, no curto prazo, tendem a se manifestar em preços mais elevados de produtos in natura", disse.
O BC destacou que em nível global, há evidência de que o El Niño tenha impacto negativo sobre a produtividade de culturas de milho, arroz e trigo, ainda que possa beneficiar a produtividade das lavouras de soja.
"Um evento mais extremo do que o antecipado atualmente pode ter impactos pronunciados", disse.
A ata da reunião do Copom da semana passada mostrou que o colegiado decidiu "incorporar um impacto relativamente pequeno do El Niño em suas projeções de inflação de alimentos", citando que alguns diretores da autarquia enfatizaram impactos inflacionários no caso de ocorrência de um fenômeno mais extremo.
Segundo o documento, es estimativas do setor agrícola para 2024 apontam para expansão menor da área plantada total, em função de rentabilidade mais baixa, o que sugere menor espaço para novas quedas expressivas no preço dos grãos. Ao mesmo tempo, na pecuária, o BC citou que a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) recentemente projetou relativa estabilidade nos abates e alta moderada nos preços em 2024.