Por Nayara Figueiredo
SÃO PAULO (Reuters) - Alguns Estados do Brasil enfrentam condições secas que devem reduzir o potencial produtivo do milho na segunda safra, porém o país ainda caminha para um recorde de 115 milhões de toneladas na colheita total do cereal, graças a uma ampliação na área, bons preços e plantio no período ideal, aponta uma pesquisa realizada pela Reuters.
Se confirmada a previsão, baseada em projeções de dez analistas, a colheita terá um avanço de 32% em relação ao volume de 87,09 milhões de toneladas obtido no ciclo anterior, quando a "safrinha" foi severamente afetada por estiagem e geadas.
A área total de milho deve alcançar 21,31 milhões de hectares, alta de 6,87% no comparativo anual, conforme dados da pesquisa (veja tabela abaixo).
O sócio-proprietário e diretor da consultoria Cogo, Carlos Cogo, ressaltou que serão feitas novas análises entre maio e junho, mas "ainda assim deveremos ter uma safra recorde".
Ele acredita que a máxima histórica virá pela combinação entre bons preços, que levaram os produtores a ampliar a área de plantio, e a semeadura da segunda safra em sua maioria dentro da melhor janela.
Os preços foram impulsionados pela redução de oferta gerada pela quebra do ano passado, pela frustração na safra de verão 2021/22, e ainda pela influência internacional devido à guerra na Ucrânia, importante fornecedora global do cereal.
No âmbito climático, a falta de chuvas já deixou danos à safrinha durante o mês de abril, e as condições climáticas de maio serão determinantes para configurar o tamanho da safra em regiões do Centro-Oeste e Sudeste.
"Acreditamos que a produtividade será ainda menor tanto em Mato Grosso, como também em Goiás, Minas Gerais e possivelmente em Mato Grosso do Sul...", afirmou o analista da AgResource João Pedro Thieme.
Ele disse que o viés é de baixa em relação ao potencial inicial da safrinha, que também corre risco de passar por geadas, mas a tendência é que os impactos sejam mais amenos que os de 2020/21.
"A quebra a princípio será menor que na segunda safra de milho da temporada passada", estimou.
Na mesma linha, o analista de inteligência de mercado da StoneX João Pedro Lopes disse que só será possível fazer uma avaliação concreta nos próximos meses, porém há chances de uma nova máxima histórica.
"Pelo que temos observado até o momento, caso haja novos cortes, não acredito que seja algo tão brusco como ano passado. Mesmo com novos cortes, acredito que ainda poderíamos atingir uma produção (total) recorde", disse.
O analista da S&P Global Gabriel Faleiros disse que a consultoria (antiga IHS Markit) chegou cogitar produção de 93,5 milhões de toneladas para a safrinha, mas o clima pesou bastante durante o estágio de floração.
Atualmente, ele espera colheita de 90,5 milhões de toneladas para a segunda safra, e "vemos potencial de redução por volta de 2-3 milhões na nossa próxima atualização para a safrinha".
Caso estes cortes sejam aplicados, no cenário mais pessimista, a S&P passaria a ver a produção total de milho em 112 milhões de toneladas, contra os atuais 115 milhões, o que ainda seria um recorde.